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O Legado de Júpiter, o que achamos dos heróis da Netflix

O Legado de Júpiter, o que achamos dos heróis da Netflix
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Após apresentar um significativo sucesso com produções adaptadas dos quadrinhos da Marvel, a Netflix pareceu pronta para para mergulhar no nicho destinado aos fãs de super-heróis. No entanto, a Gigante do Streaming não imaginava que a Disney, empresa mãe da Casa das Ideias, fosse lançar sua própria plataforma de vídeos sob demanda e requisitar personagens como Demolidor, Jessica Jones, Luke Cage, Punho de Ferro e Justiceiro para suas novas séries e filmes. Embora a disputa legal que ocorreu entre as duas empresas tenha sido bem mais intensa do que esse texto sugere, a questão é que a Netflix precisava de novos super-heróis e não poderia contar mais com a propriedade intelectual da Marvel, assim surgiu O Legado de Júpiter. No entanto, antes de falar sobre o que achamos da série em si, é preciso contextualizar o cenário que motivou sua criação.

Visto que muitos dos filmes que integram a lista de maiores bilheterias da história do cinema apresentam narrativas adaptadas dos quadrinhos, o sucesso dessa temática é inegável, mesmo contando com críticas vindas de renomados cineastas clássicos, vide Martin Scorsese. Além disso, um dos carros-chefes do Amazon Prime Video – um dos serviços que disputam assinantes com a Netflix – é a aclamada The Boys, uma série que não apenas explora os contos de super-heróis mas ousa subvertê-los de um jeito que surpreende e atrai o público.

O Legado de Júpiter, o que achamos dos heróis da Netflix

A forma como Eric Kripke, mente por trás de Supernatural, trabalhou em cima das HQs escritas por Garth Ennis foi tão inovadora que a própria Marvel se deu conta de que estava na hora de experimentar uma nova maneira de apresentar seus personagens e histórias, algo que fugisse de sua querida, porém previsível, fórmula family friendly com a qual estamos acostumados. Como resultado disso, séries como WandaVision e O Falcão e o Soldado Invernal apresentaram debates mais complexos e necessários do que estamos familiarizados a ver no MCU e que foram tão requisitados após o lançamento de filmes como Pantera Negra e Capitã Marvel.

Em suma, o cenário era o seguinte: muitos estúdios estavam investindo no potencial do universo de super-heróis, mas sabiam que para alcançar o sucesso era necessário apresentar uma versão diferente do que o público já consome. Então, a Netflix, que vem conquistando cada vez mais espaço em Hollywood com suas produções originais, apresentou O Legado de Júpiter, uma série baseada nos quadrinhos homônimos de Mark Millar e Frank Quitely. Pois bem, após passar três anos em desenvolvimento, o seriado foi mundialmente lançado no dia 7 de maio de 2021 e, embora parecesse promissora, acabou se mostrando um punhado de potencial desperdiçado.

Enfim… o que dizer sobre O Legado de Júpiter?

 

Bom… por onde começar? Costuma-se dizer que os primeiros 10 segundos de um vídeo são cruciais, pois é através deles que o público decide se seguirá assistindo ou não. Curiosamente, foram necessários três episódios de aproximadamente 40 minutos para que a narrativa de O Legado de Júpiter conseguisse se mostrar minimamente interessante. Isso significa que depois dessa minutagem as coisas melhoram? Definitivamente não, mas chegar nessa altura do campeonato exige tanto esforço que desistir deixa de ser uma opção e só resta torcer para que em algum momento as coisas comecem a fazer sentido. Mas, afinal, o que tem de errado com a série? Pergunta difícil… Embora fosse mais fácil pontuar os acertos, vamos lá.

Começando pelo primeiro incomodo, vamos falar do cabelo e maquiagem dos heróis originais. Embora o conceito em torno dos fios desgrenhados e rugas realçadas visasse sugerir o cansaço dos personagens, certamente havia uma maneira melhor de elaborá-lo. Além disso, logo na primeira luta fica notável, e não demora a ser comprovado, que a ação não será o forte da série – mesmo que esse seja um elemento crucial em produções de super-heróis. Pois bem, além dos confrontos desinteressantes, outra assinatura de O Legado de Júpiter são os diálogos desnecessários e incoerentes.

Com exceção de uma ou outra conversa que até contavam com potencial, mas não foram desenvolvidas de forma eficiente, a comunicação entre os personagens da trama deixa muito a desejar. Aliás, pode-se dizer que há zero química entre toda e qualquer relação apresentada ali, seja negativa ou positiva. Embora tenham tentado explorar o dilema do herói, a limitação da interferência no livre-arbítrio e a manutenção do Código criado pelo Utópico, em nenhum desses casos houve uma manifestação interessante de um bom roteiro.

Também houveram tentativas de abordar importantes pautas identitárias e problemas sociais, como sexismo, racismo e homofobia, mas tudo foi tratado de forma superficial e ineficaz. Grande parte desse problema se deve ao fato da série se esforçar muito para contar a história de Sheldon Sampson, o protagonista da narrativa que não poderia ser mais desinteressante. Surpreendentemente, apesar de ocupar o posto de personagem principal, Sheldon – alter ego do Utópico – é responsável por impedir que a trama se desenvolva, sempre que a narrativa é focada nele tudo fica tedioso e qualquer diálogo se torna unilateral. Diante de um protagonista sem nenhuma simpatia ou capacidade de atrair o público, os personagens coadjuvantes seguem a mesma linha.

O Legado de Júpiter, o que achamos dos heróis da Netflix

Por fim, os flashbacks responsáveis por explorar a mitologia em torno da origem desses super-heróis até conferem certo dinamismo à série, mas não serviram para responder nenhuma questão, deixando diversas pontas soltas. Assim, a gênese desses seres de habilidades extraordinárias não poderia ter sido mais clichê – e não digo isso de uma forma boa. Teria sido mais produtivo para a Netflix desenvolver uma sequência para The Old Guard, uma adaptação que realmente entregou um conteúdo incrível e superou expectativas. No fim das contas, apesar de ter apresentado um plot twist em seu episódio final, o ato mais heroico de O Legado de Júpiter seria evitar uma continuação.

Imagens: Netflix, Amazon Prime Video.

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