Várias civilizações antigas deixaram suas marcas e seus legados na história, e uma delas foi a romana. Além dos seus avanços intelectuais, praticamente qualquer construção do Império Romano também chama atenção até os dias de hoje. E às vezes, alguns lugares podem revelar coisas que não são necessariamente dele.
Exemplo disso é Pompeia, que é um sítio arqueológico grande e capaz de revelar várias informações a respeito da era romana. E essas informações são bem mais do que as associadas com a erupção do Vesúvio, como a descoberta mais recente desse local, que está relacionada à construção, mais especificamente às técnicas de edificação usadas para construir estruturas históricas como o Coliseu e o Panteão.
Construção
De acordo com o anúncio feito pelo Ministério da Cultura da Itália nessa segunda-feira, os arqueólogos encontraram ferramentas de trabalho, telhas empilhadas, tijolos de tufo e montes de cal e pedras que foram usadas na construção de paredes na época romana.
Ainda conforme eles, os romanos tinham uma técnica original de fazer cimento. Isso porque o concreto que eles faziam parecia ter sido feito com uma mistura quente onde a cal viva era misturada com pozolana seca, ou cinzas pozolânicas. Depois disso que a água era colocada, somente um pouco antes de as paredes serem erguidas.
Conforme as análises feitas pelos arqueólogos, na construção das paredes, essa mistura de cal, pozolana e pedras ainda estava quente por conta de uma reação térmica. Era justamente isso que fazia com que o concreto se secasse mais rápido e o tempo de construção fosse menor.
Segundo os pesquisadores, a técnica usada por eles foi bastante eficiente, visto que as construções romanas ainda estão de pé até hoje. Para Gabriel Zuchtriegel, diretor do sítio de Pompeia, essa descoberta “nos ajuda a entender muitos aspectos do grande Império Romano, incluindo o uso do concreto. Sem concreto, não teríamos nem o Coliseu, nem o Panteão, nem os Banhos de Caracalla”.
Concreto romano
Por mais que cada construção romana tenha sido feita com concreto pozolânico, que é bastante durável, esse não é o único segredo da sua duração.
Construções como o Panteão, que tem a maior cúpula de concreto não armado do mundo, ainda está de pé e fascina a todos. A resistência dessas construções, como dito antes, é por conta do seu concreto pozolânico. Seu nome vem por conta da pozolana que está presente em sua composição. Ela é uma mistura de cinzas que é encontrada facilmente em Pozzuoli, uma cidade italiana.
Até o momento, era essa mistura que se acreditava ser o motivo pela resistência e durabilidade do concreto romano. Contudo, o verdadeiro motivo não é esse. De acordo com um estudo feito pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), existe um outro material na composição desse concreto que também é responsável por ajudar em sua durabilidade.
O estudo descobriu que os fragmentos de cal na composição, que antes eram vistos como uma matéria-prima de má qualidade, na realidade, fazem com que esse concreto consiga se autorreparar.
De acordo com Admir Masic, coautor do estudo, por conta dos clastos de cal serem relacionados com um mau controle de qualidade, isso o incomodava. “Se os romanos se esforçaram tanto para fazer um excelente material de construção, seguindo todas as receitas detalhadas que haviam sido melhoradas ao longo de muitos séculos, por que eles colocariam tão pouco esforço para garantir a produção de um produto final bem misturado? Tem que haver mais nessa história”, disse ele.
Os fragmentos de cal vistos no concreto são formados através da adição de cal virgem na mistura quando ela ainda está quente. Isso foi descoberto através do mapeamento químico feito no concreto. Antes disso, pensava-se que os romanos usavam cal apagado ou hidratado na composição do seu material.
É justamente esse cal virgem que dá ao concreto a possibilidade de fazer reações químicas quando ele está aquecido em temperaturas altas. Isso não seria possível de acontecer com a cal apagada, por exemplo. Outro fator é que o aquecimento dessa mistura faz com que o concreto cure bem mais rápido. Como resultado, no momento da construção existe uma agilidade maior.
Com relação ao autorreparo, os fragmentos de cal são os responsáveis por isso. Isso porque, normalmente, as rachaduras acontecem nos fragmentos, que quando entram em contato com a água formam uma solução que é rica em cálcio. Então, quando essa solução fica seca, ela se transforma em carbonato de cálcio. Dessa maneira, a rachadura some. Como resultado, tem-se sempre um concreto que tem uma durabilidade extremamente longa.
“É emocionante pensar em como essas formulações de concreto mais duráveis poderiam expandir não apenas a vida útil desses materiais, mas também melhorar a durabilidade das formulações de concreto impressas em 3D”, disse Masic.
Fonte: Olhar digital
Imagens: Olhar digital, Ecivil