As borboletas estão entre os seres mais lindos e curiosos do mundo animal. Os insetos majestosos e com cores diversas e marcantes são realmente fascinantes e não oferecem risco algum. No entanto, as borboletas são seres enigmáticos e chamam a atenção por serem a transformação de simples lagartas, pela sua aparência, suas cores e, é claro, o seu comportamento. Como no caso dessas borboletas que atravessaram o Atlântico.
Agora, depois de 10 anos de investigação, os pesquisadores conseguiram finalizar a investigação que reconstruiu o voo que três exemplares de borboletas da espécie Vanessa cardui fizeram sobre o Atlântico.
Em outubro de 2013, Gerard Talavera, pesquisador do Instituto Botânico de Barcelona, da Espanha, encontrou as borboletas em uma praia da Guiana Francesa. A primeira hipótese levantada para a descoberta é que os insetos tinham chegado lá fazendo um caminho pela América do Norte, sobrevoando a América Central ou então pelo Mar do Caribe.
Contudo, depois o entomologista catalão viu que as borboletas tinham vindo da África até a praia onde foram encontradas. E para confirmar isso os pesquisadores se voltaram para a genética. Então, eles fizeram a comparação genética das três borboletas encontradas na Guiana Francesa com outras de outras partes do mundo.
UK butterflies
Para fazer isso, eles reuniram exemplares da espécie durante três anos em mais de 30 países, como Estados Unidos, México, Canadá, Havaí, Senegal, Benin, Costa do Marfim, Malásia e Japão. Com isso, no laboratório molecular dirigido pela bióloga e entomologista Naomi Pierce, da Universidade de Harvard, eles conseguiram fazer o sequenciamento do DNA de 1.200 amostras.
“Em 2018 tínhamos os resultados genéticos prontos e o que descobrimos foi que os exemplares da Guiana Francesa pertenciam à população que migra entre a Europa e a África”, afirmou Talavera.
Mesmo com essa descoberta ainda existia a possibilidade dessas borboletas serem descendentes de outras que fizeram a viagem desde a África em outra época. Então, para provar que as borboletas tinham mesmo atravessado o Atlântico os pesquisadores criaram uma tecnologia própria capaz de rastrear possíveis fragmentos de pólen nos insetos.
De acordo com o El País, os espécimes foram mandados em envelopes individuais para o Instituto de Botânica W. Szafer, em Cracóvia, na Polônia. Lá, eles foram analisados no laboratório do pesquisador Tomasz Suchan, especializado em filogenética e filogeografia. E, pela primeira vez, o DNA do pólen das borboletas migrantes foi sequenciado. Como resultado, Suchan viu que elas estavam cheias de pólen que também apontou para a África.
“Descobrimos várias plantas africanas. As espécies mais abundantes que encontramos foram Guiera senegalensis e depois Ziziphus spina-christi, dois arbustos restritos à região subsaariana e que não são encontrados em nenhum outro lugar do mundo”, explicou o pesquisador polonês.
Meteored
Um dos pontos que o estudo queria descobrir era quais tipos de vento teriam que ser produzidos para fazer com que fosse possível as borboletas terem sobrevoado o Atlântico. Para descobrir isso, Talavera e o pesquisador Eric Toro Delgado criaram vários modelos complexos que combinavam a circulação do vento com a capacidade fisiológica das borboletas.
Com isso e o programa de computador HYSPLIT, da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) dos Estados Unidos eles conseguiram reconstruir a trajetória das correntes de ar.
“Os resultados mostraram que nas horas anteriores à observação das borboletas na Guiana Francesa, as correntes de ar tiveram origem na costa africana, perto da Mauritânia e do Senegal. Isto foi consistente em toda a camada altitudinal, de 500 a 2.000 metros. E a velocidade média destes ventos era de 27km/h”, relatou Delgad.
Além disso, Vila pontuou que eles já sabiam que as cardenas eram capazes de voar nessa altitude quando migravam. “Elas aproveitaram os ventos alísios, os mesmos que Cristóvão Colombo usou para chegar à América”, concluiu.
Fonte: Um só planeta
Imagens: UK butterflies, Meteored