História

Por que olhar histórico é essencial para entender conflito na Faixa de Gaza

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Os recentes conflitos na Faixa de Gaza surpreenderam o mundo, mas eles vêm de muito tempo atrás, e é importante entender esse caminho antes de vislumbrar o que está por vir.

Recentemente, o ministro da Defesa de Israel emitiu a ordem para um “cerco completo” para o grupo palestino, respondendo a um ataque do Hamas em outubro de 2023, no qual mais de 900 israelenses foram mortos.

As Forças Armadas de Israel realizaram uma retaliação, resultando na morte de mais de 800 gazenses, e a situação pode piorar nos próximos dias.

Além disso, a decisão de interromper o fornecimento de alimentos, eletricidade e água para Gaza promete agravar ainda mais a situação naquilo que é chamado de “a maior prisão a céu aberto do mundo”.

Entender como Gaza se tornou uma das regiões mais densamente povoadas do planeta e por que se tornou um foco de ação militante palestina é crucial para contextualizar a violência atual.

Breve história da Faixa de Gaza

Localizada na costa sudeste do mar Mediterrâneo, a Faixa de Gaza é uma porção de terra, aproximadamente duas vezes o tamanho de Washington D.C. Ela está situada entre Israel, ao norte e leste, e o Egito, ao sul.

Gaza, um antigo centro comercial e portuário, faz parte da Palestina geográfica. No início do século 20, era habitada principalmente por árabes muçulmanos e cristãos sob domínio otomano.

Com a chegada do controle britânico após a Primeira Guerra Mundial, intelectuais de Gaza se uniram ao movimento nacional palestino.

Na Guerra de 1948, que resultou na criação do Estado de Israel, o exército israelense bombardeou 29 vilas no sul da Palestina. Isso levou milhares de habitantes a buscar refúgio na Faixa de Gaza, então controlada pelo exército egípcio. Muitos permaneceram lá desde então.

Após a Guerra dos Seis Dias em 1967, Gaza ficou sob ocupação militar israelense, resultando em violações dos direitos humanos, conforme apontado pela Anistia Internacional.

Insurgências palestinas em 1987-1991 e 2000-2005 visavam encerrar a ocupação e estabelecer um Estado palestino independente.

O Hamas, grupo militante islâmico palestino, foi fundado em 1988 para combater a ocupação israelense. Ataques contra alvos israelenses levaram à retirada de Israel da região em 2005.

Além disso, em 2006, o Hamas venceu as eleições legislativas palestinas, assumindo o controle total de Gaza após um conflito com o Fatah em 2007.

Gaza permanece sob controle do Hamas, embora seja considerada ocupada por Israel por várias organizações internacionais.

Via Revista Galileu

Quem compõe a população de Gaza?

Os mais de 2 milhões de residentes da Faixa de Gaza são integrantes da comunidade palestina global, que totalizam 14 milhões de pessoas.

Cerca de um terço dos habitantes de Gaza tem raízes familiares diretamente na faixa. Enquanto isso, os dois terços restantes são descendentes de refugiados da guerra de 1948.

A maioria dos palestinos em Gaza é composta por jovens, com quase metade da população tendo menos de 18 anos. Apesar de ser uma região economicamente desfavorecida, com uma taxa de pobreza alcançando 53%, mais de 95% das crianças gazenses de 6 a 12 anos frequentam a escola.

Contudo, as condições adversas do ambiente afetam a qualidade de vida dos jovens palestinos em Gaza. Para os graduados com idades entre 19 e 29 anos, a taxa de desemprego atinge 70%.

Anos de isolamento

Logo após as eleições de 2006, a administração Bush nos EUA buscou remover o Hamas do poder e favorecer Israel nos conflitos da Faixa de Gaza.

Para se antecipar, o Hamas assumiu o controle total de Gaza em maio de 2007. Em resposta, Israel e o Egito, apoiados pelos Estados Unidos e pela Europa, fecharam as fronteiras e impuseram um bloqueio terrestre, aéreo e marítimo à Faixa de Gaza.

Esse bloqueio existe até hoje e tem impacto significativo na vida dos palestinos em Gaza. Isso porque ele limita a importação de alimentos, combustíveis e materiais de construção, restringe a atividade pesqueira, proíbe praticamente todas as exportações e impõe severas restrições à mobilidade de pessoas dentro e fora da região.

A falta de água e eletricidade levou o sistema de saúde de Gaza a estar “à beira do colapso”, conforme indicado pelo grupo de direitos médicos Medical Aid for Palestine.

Justificativa dos conflitos na Faixa de Gaza antes

Israel justificava o bloqueio e os conflitos na Faixa de Gaza como uma medida necessária para proteger sua população. As indicações eram cessar violência do Hamas antes de qualquer acordo.

Entretanto, o Hamas rejeitou esse ultimato várias vezes, optando por intensificar o lançamento de foguetes caseiros e morteiros em áreas próximas à Faixa de Gaza em 2008. A tentativa era pressionar Israel a suspender o bloqueio.

Israel respondeu com quatro grandes ofensivas militares em Gaza, em 2008-09, 2012, 2014 e 2021, buscando neutralizar as capacidades militares do Hamas.

Estas operações resultaram na morte de 4 mil palestinos, sendo mais da metade civis, além de 106 pessoas em Israel.

Em seguida, o Hamas propôs uma trégua de longo prazo em troca do fim do bloqueio, mas Israel rejeitou a oferta, mantendo a exigência de que o grupo renuncie à violência e reconheça o Estado israelense.

Meses antes do ataque

Via Revista Galileu

Nos meses que antecederam a escalada mais recente, as condições em Gaza se agravaram. Em setembro, o Fundo Monetário Internacional alertou que as perspectivas econômicas de Gaza permanecem ruins.

As condições pioraram com a decisão de Israel, em 5 de setembro de 2023, de interromper todas as exportações em uma travessia chave de fronteira de Gaza.

Diante da ausência de um fim visível para o sofrimento causado pelo bloqueio, o Hamas parece ter decidido quebrar o status quo com um ataque surpresa, incluindo civis israelenses.

Os ataques aéreos retaliatórios de Israel e a imposição de um “cerco completo” culminaram nos conflitos na Faixa de Gaza como vemos atualmente.

 

Fonte: Revista Galileu

Imagens: Revista Galileu, Revista Galileu

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