De acordo com a conclusão de um novo estudo publicado na revista Nature Geoscience, o sistema que influencia naturalmente o Oceano Atlântico e que desempenha um papel vital na redistribuição do calor em todo o sistema climático de nosso planeta está, agora, em processo de desaceleração, movendo-se mais lento que há 1.600 anos.
Os cientistas acreditam que parte dessa desaceleração está diretamente relacionada ao aquecimento do clima, o que acarreta, além da desaceleração, outros impactos, como o derretimento do gelo, que altera o equilíbrio nas águas oceânicas do norte; tempestades, ondas de calor e elevação do nível do mar.
A mais nova pesquisa reforça antigas preocupações, a qual a principal foca, novamente, em nós, que se não formos capazes de limitar o aquecimento global em um curto espaço de tempo podemos, eventualmente, atingir um ponto de inflexão, colocando os padrões climáticos globais em desordem.
A Corrente do Golfo ao longo da costa leste dos Estados Unidos é parte integrante desse sistema em desaceleração. Conhecido como Atlantic Meridional Overturning Circulation, ou AMOC, o processo tornou-se famoso graças ao filme “The Day After Tomorrow”, de 2004, cuja trama retrata a paralisação abrupta da corrente do oceano, causando imensas tempestades ao redor do globo, com tornados sobrecarregados.
Como acontece com muitos filmes de ficção científica, o enredo é baseado em um conceito real, mas os impactos são levados a um extremo dramático. Felizmente, uma parada abrupta da corrente oceânica não é esperada tão cedo – ou nunca. Mesmo se a corrente paralisar – e isso é fortemente debatido -, o resultado não seria tempestades, mas o impacto, certamente, seria devastador para o nosso planeta.
De todas as formas, a recente pesquisa publicada na revista Nature Geoscience mostrou que a circulação do sistema que influencia o oceano diminuiu, desde 1950, em pelo menos 15%. Como a natureza está conectada, a desaceleração, sem dúvida, já está impactando os sistemas terrestres e, até o final do século, se continuarmos no mesmo patamar, estima-se que a circulação poderá desacelerar em 34% a 45%.
Como o equador recebe mais luz do sol do que os polos mais frios, o calor se acumula nos trópicos. Em um esforço para alcançar o equilíbrio, a Terra envia esse calor dos trópicos para o norte e o frio dos polos para o sul. É exatamente esse processo que faz com que o vento sopre e se formem tempestades.
A maior parte desse calor é redistribuída pela atmosfera e o restante dessa energia é direcionado lentamente pelos oceanos, processo que os cientistas chamam de Global Ocean Conveyor Belt – um sistema mundial de correntes que conecta os oceanos, movendo-se horizontalmente e verticalmente.
Nesse ínterim, a estreita faixa de água quente – e salgada -, chamada Corrente do Golfo, que rege os trópicos próximos à Florida, Estados Unidos, é transportada para o Atlântico Norte. Quando atinge a região da Groenlândia, essa faixa de água esfria o suficiente para se tornar mais densa e pesada do que as águas locais. Essa água fria é, então, transportada para o sul.
Ao longo de anos de pesquisa, tornou-se claro que a porção atlântica da correia transportadora – o AMOC – é o motor que impulsiona esse funcionamento. Com o desaceleramento desse propulsor, o clima no Hemisfério Norte está mudando, e rapidamente.
O fenômeno, que atua como uma espécie de alavanca que controla a velocidade do AMOC, é influenciado pelo derretimento do gelo glacial e o influxo resultante de água doce no Atlântico Norte. Como a água doce é menos salgada e, portanto, menos densa do que a água do mar, a correia transportadora perde seu ímpeto.
A primeira mudança significativa em relação ao sistema que influencia a circulação dos oceanos ocorreu em meados de 1800, após um período de resfriamento denominado de Pequena Idade do Gelo, o qual durou de 1400 a 1800. Durante esse período, temperaturas mais frias frequentemente congelavam rios em toda a Europa e destruíram plantações. Com o fim da Pequena Idade do Gelo por volta de 1850, as correntes oceânicas começaram a entrar em declínio.
A segunda evidência de outra mudança significativa de desaceleração surgiu nas últimas décadas e, provavelmente, foi notória devido ao aquecimento global.