História

7 motivos para não ter saudades da ditadura militar

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De repente, numa turbulenta madrugada – especificamente 1º de abril – um golpe de Estado milimetricamente arquitetado depõe um presidente acusado de “comunista” pelas elites conservadoras, e instaura no país um regime militar autoritário que perduraria por nada menos que 21 anos.

Parece uma cena de filme de Hollywood, não? Mas foi o que aconteceu no Brasil, em 1964, o golpe de Estado que ficou conhecido como ‘Anos de Chumbo’. Após uma aproximação com partidos de Esquerda e um discurso inflamado em defesa da reforma agrária e a nacionalização de empresas estrangeiras, João Goulart – ou simplesmente Jango – foi alvo de uma trama bem-sucedida partindo das elites conservadoras do país em conjunto com líderes militares e da comunicação.

Hoje, 30 anos após a derrubada de um período marcado por diversas atrocidades no país, uma crescente insatisfação com o governo atual fez com que grupos extremistas passassem a reivindicar a volta do Regime Militar, para o choque e espanto daqueles que viveram naquela época.

Veja 7 motivos para não ter saudades da ditadura militar, que provam que a falsa ilusão saudosista de que “naquela época tudo era melhor” jamais deveria justificar o protesto de alguns pela volta de um regime que proíbe protestos e a livre expressão.

1. A morte e a tortura sobre a Amazônia e índios

Com a ditadura no Brasil, um processo amplo de devastação da Amazônia teve início. O general Castelo Branco disse, certa vez, que era preciso “integrar para não entregar” a Amazônia. A partir dali, começou o desmatamento e muitos dos que se opuseram morreram.

Ribeirinhos, índios e quilombolas foram duramente reprimidos tanto ou mais que os moradores das grandes cidades, e a ideia dos militares era a de que a Amazônia era “terra sem homens”, e deveria ser ocupada por “homens sem terra do Nordeste. Nove aldeias do povo Waimiri-Atroaris desapareceram e há relatos de que pelo menos uma foi bombardeada com gás letal por homens do Exército

Também a Petrobras foi acusada de atividades irregulares, sem consulta aos povos indígenas ou mesmo informação à FUNAI, na bacia do rio Tapuá, no estado do Amazonas, com a instalação de 15 balsas com geradores de alta capacidade, dutos e máquinas de mineração.

2. Péssima saúde pública

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Que a saúde pública atual não é boa, disso não há dúvidas. Mas acredite: ela era bem pior no Regime Militar.

O Inamps (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social) era responsável pelo atendimento, com seus hospitais, mas era exclusivo aos trabalhadores formais. Segundo o cardilogista Mário Fernando Lins, a “imensa maioria da população não tinha acesso, e somente após 1988 é que foi adotado o SUS (Sistema Único de Saúde), que hoje atende a uma parcela de 80% da população.

Em 1976, quase 98% das internações eram feitas em hospitais privados. Além disso, o modelo hospitalar adotado fez com a que a assistência primária fosse relegada a um segundo plano. Não existiam planos de saúde, e o saneamento básico chegava a poucas localidades.

3. Educação robotizada

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As disciplinas de filosofia e sociologia (que permitiam análise, reflexão e questionamento) foram substituídas pela de OSPB (Organização Social e Política Brasileira, caracterizada pela transmissão da ideologia do regime autoritário, exaltando o nacionalismo e o civismo dos alunos e, segundo especialistas, privilegiando o ensino de informações factuais em detrimento da reflexão e da análise) e Educação, Moral e Cívica.

Ao mesmo tempo, com o baixo índice de investimento na escola pública, as unidades privadas prosperaram. Na área de alfabetização, a grande aposta era o Mobral (Movimento Brasileiro para Alfabetização), em resposta ao sistema de Paulo Freire. Paulo Freire e seu sistema de educação ajudou a erradicar o analfabetismo no mundo na mesma época em que foi considerado “subversivo” pelo governo militar e exilado.

Segundo o estudo “Mapa do Analfabetismo no Brasil”, do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), do Ministério da Educação, o Mobral foi um “retumbante fracasso.”

4. Corrupção

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Imagine um governo sem conselhos fiscalizatórios onde a dissolução do Congresso Nacional fazia com que as contas públicas não fossem analisadas, nem havia divulgação dos gastos públicos, como é hoje obrigatório. Assim era na ditadura.

Segundo o juiz Márlon Reis, “os desvios foram muitos, mas acobertados pela força das baionetas” durante o Regime. Ele ainda afirma que, ao contrário dos anos de chumbo, hoje existem órgãos fiscalizatórios, imprensa e oposição livres e maior publicidade dos casos.

Outro ponto sempre questionado no período de ditadura foram os recursos investidos em obras de grande porte, cujos gastos eram mantidos em sigilo. Obras faraônicas como Itaipu, Transamazônica e Ferrovia do Aço, por exemplo, foram realizadas sem qualquer possibilidade de controle. Nunca se descobrirá o montante desviado. Durante a ditadura, a corrupção não foi uma política de governo, mas de Estado, uma vez que seu principal escopo foi a defesa de interesses econômicos de grupos particulares.

5. Miséria no Nordeste e migração

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A consolidação do Nordeste como região mais pobre do país teve grande participação do governo dos militares. Com as políticas adotadas, a região viu um crescimento da pobreza.

Segundo o Professor-Doutor em Economia Regional da UFA, Cícero Péricles Carvalho, “terminada a ditadura, o Nordeste mantinha os piores indicadores nacionais de índices de esperança de vida ao nascer, mortalidade infantil e alfabetização. Entre 1970 e 1990, o número de pobres no Nordeste aumentou de 19,4 milhões para 23,7 milhões, e sua participação no total de pobres do país subiu de 43% para 53%”.

O crescimento urbano registrado teve como efeito colateral a migração desregulada. O modelo urbano-industrial reduziu as atividades agropecuárias, que eram determinantes na riqueza regional, com 41% do PIB, para apenas 14% do total em 1990.

6. Extrema desigualdade

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A distribuição de renda entre a sociedade ficou mais polarizada durante os anos de chumbo: os 10% dos mais ricos que tinham 38% da renda em 1960 e chegaram a 51% da renda em 1980. Já os mais pobres, que tinham 17% da renda nacional em 1960, caíram para 12% duas décadas depois.

Assim, na ditadura houve um aumento das desigualdades sociais. Segundo o Professor-Doutor Cícero Péricles, “isso levou o país ao topo desse ranking mundial”.

Entre 1968 e 1973, o Brasil cresceu acima de 10% ao ano. Mas, em contrapartida, o salário mínimo (que vinha recuperando o poder de compra nos anos 1960) sofreu com o golpe. Em 1974, o poder de compra dele representava a metade do que era em 1960.

7. Tortura, repressão e “punhos de ferro” sobre a imprensa e a música

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As torturas e assassinatos foram a marca mais violenta do período da ditadura militar. Direitos humanos eram utopia, e havia até um manual de como os militares deveriam  torturar para extrair confissões, com práticas como choques, afogamentos e sufocamentos.

Reivindicar, discordar, protestar e dar sua opinião eram coisas completamente impensáveis se você quisesse ser preso e torturado. Os agentes da ditadura perpetraram crimes contra a humanidade (tais como tortura, estupro, assassinato, desaparecimento) que vitimaram opositores do regime e implantaram um clima de terror que marcou profundamente a geração que viveu o período mais duro do regime militar.

Músicos, artistas e intelectuais que se aventuravam a questionar o Regime eram duramente reprimidos, censurados e até exilados.

Fontes: GreenMe, UOL, Só História

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