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A triste história de Ota Benga, o jovem exibido em um zoológico

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Ota Benga foi um menino que ficou conhecido por ter sido colocado em um zoológico humano no Bronx, em Nova York, durante uma exibição racista em 1906. Sua história é conhecida como um dos mais tristes casos de racismo no mundo.

Ota vivia tranquilamente em sua comunidade, que se dividia em grupos familiares de 15 a 20 pessoas. Eles eram um grupo de nômades, ou seja, moviam-se conforme as oportunidades de caça. Até que uma guerra eclodiu.

Captura de Ota Benga

A região, onde atualmente fica situada a República Democrática do Congo, costumava ser uma extensa floresta tropical, que servia de lar para diversos povos de diferentes culturas. Até que, no fim do século 19, o rei Leopoldo II da Bélgica decidiu que queria explorar o local e fundar uma colônia. 

Por conta disso, começou um verdadeiro pesadelo para as populações locais. O domínio do monarca resultou em açoites, amputações, trabalho forçado, racismo, e assassinatos em massa. Entre esses povos, estavam os Mbuti, e Ota Benga era parte deles. 

Não se tem registros do dia em que Ota nasceu, tudo o que se sabe é que foi no ano de 1883. Os Mbuti viviam nas florestas próximas ao rio Kasai, no antigo Estado Livre do Congo. Elas foram exploradas e colonizadas pelo rei Leopoldo II. Uma das principais características desse povo eram suas baixas estaturas, motivo também pelo qual eles sofriam muito preconceito.

Ota sobreviveu ao massacre porque, no momento do ataque, havia saído para caçar. Quando voltou, encontrou toda sua comunidade e família mortos. Mais tarde, acabou sendo capturado por traficantes de escravos. Ele foi obrigado a se tornar trabalhador agrícola até 1904, quando foi vendido.

O menino foi levado aos Estados Unidos, sob a responsabilidade do negociante e missionário Samuel Phillips Vermer, que o comprou de um grupo de traficantes. Samuel já tinha como objetivo colocar Ota em exposição.

Exposição

O garoto foi vendido junto com outros oito jovens africanos, eles foram exibidos em uma mostra antropológica, chamada  “Os Homens Selvagens Permanentes do Mundo”, em Saint-Louis, nos Estados Unidos.

Depois de 2 anos de excursões, incluindo uma viagem para a África, ele foi enclausurado em uma jaula de macacos num Zoológico. Enquanto isso, a colônia “conquistada” por Leopoldo II foi chamada, pelos europeus, ironicamente, de Estado Livre do Congo. No entanto, como sabemos, não houve liberdade alguma, principalmente para as pessoas locais.

Primeiro, ele foi exposto no Museu Americano de História Natural, mas seu “dono” não queria mantê-lo no local porque julgava não estar recebendo dinheiro suficiente pela exposição de Ota. Foi quando Samuel o levou para o zoológico do Bronx, onde o jovem foi colocado dentro da jaula com macacos e apresentado como se fosse um canibal.

Ele se tornou parte também de uma mostra projetada para demonstrar os conceitos da evolução humana e o racismo científico, que aconteceu em Nova Iorque, em uma exposição chamada de Anthropological Society. A “atração” tinha uma premissa pseudocientífica que tinha o objetivo de “revelar a evolução humana” por meio de uma “espécie inferior”.

Humilhações

Entre as inúmeras humilhações que ele sofreu, está o fato de que era obrigado a interagir com orangotangos, para reforçar a ideia de ser selvagem. Ele era encorajado também a carregar um bebê orangotango como se fosse seu filho. Além disso, precisava constantemente mostrar seus dentes, que eram afiados por conta de sua cultura, que tinha o costume de deixá-los num formato triangular.

Na sua jaula, havia seus dados pessoais e um aviso que dizia “Exibido todas as tardes durante setembro!”. Além das suas características:

Ota Benga, o Pigmeu Africano
Idade: 23 anos. Altura: 1 metro e 52 centímetros
Peso: 46 quilos.
Trazido do Rio Kasai, Estado Livre do Congo, Centro­-Sudeste da África”

A “atração” levou um total de mais de 40 mil pessoas por dia ao zoológico. Durante os dias de exposição, algumas pessoas costumavam cutucá-lo nas costelas, enquanto outras apenas riam ao vê-lo assustado. 

Em uma ocasião, quando isso aconteceu, Ota ficou assustado e acabou atingindo vários visitantes. Foram necessários 3 homens para contê-lo, o arrastando de volta para a casa dos macacos. Após o acontecimento, o dono do zoológico acabou apresentando uma queixa para Samuel, o “dono” de Ota, dizendo que o garoto fazia o que bem entendia e que era impossível controlá-lo, de modo que não via saída a não ser mandá-lo embora. 

Protestos

O sofrimento de Ota não passou despercebido. Membros da comunidade negra local ficaram horrorizados e protestaram contra a exploração do jovem, exigindo sua libertação. Um dos opositores aos enjaulamento de Ota foi o reverendo Matthew Gilbert, da Igreja Batista Mount Olivet, que escreveu textos de protesto no jornal The New York Times. 

Após 20 dias de manifestações, Ota foi finalmente libertado, ficando sob a custódia do ministro James Gordon, que foi quem liderou as acusações para a libertação de Ota. James passou a cuidar do menino como ninguém nunca havia feito antes. O levou ao dentista e o matriculou em uma escola segregada para crianças negras. 

Mais tarde, Ota conseguiu um emprego em uma fábrica local de tabaco. Ele planejava juntar algum dinheiro e voltar para a África, já que não tinha a menor intenção de ficar nos Estados Unidos. No entanto, seus planos não deram certo. Em 1914, ano que ele pretendia partir, teve início a Primeira Guerra Mundial. 

Por conta disso, houve a suspensão de navios transatlânticos. A Bélgica foi ocupada pelas tropas alemãs, o que causou um grande caos no Congo. Sem nunca conseguir voltar para sua casa, aos 32 anos, Ota faleceu de modo trágico. Ele cometeu suicídio em 20 de março de 1916.

Fonte: Aventuras na História

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