Como as micaretas se popularizaram?

A paixão do brasileiro pelo carnaval é tanta que, em muitas regiões do Brasil, existem as micaretas. Trata-se do “carnaval fora de época”, ou seja, festas semelhantes ao carnaval mas em datas atípicas. Normalmente, as micaretas envolvem shows em trio elétrico e blocos de rua.

Uma curiosidade a respeito do carnaval é que as origens dele no Brasil são portuguesas. No país, essa cultura teve início nos requintados salões de festa do Rio de Janeiro, No século XIX. Com o passar do tempo, a comemoração foi para as ruas e hoje é celebrada em diferentes partes do território.

Mesmo se tratando de um “carnaval fora de época”, as micaretas não representam uma invenção brasileira. O termo micareta vem da expressão francesa “mi-carême”, que significa “meio da Quaresma”. Como o próprio nome diz, os primeiros carnavais fora de época da nossa história aconteceram na França do século XV, bem no meio da Quaresma, tempo estipulado pelo calendário católico-cristão para as pessoas se absterem dos prazeres terrenos.

Em Paris, o primeiro mi-carême foi comemorado por estudantes, comerciantes, açougueiros e lavandeiras, entre as quais, elegiam uma rainha. No Brasil, algumas pesquisas trazem indícios de que a nossa primeira micareta teria acontecido há um século, na cidade de Jacobina, interior da Bahia.

Em São Paulo, o evento também já acontecia desde 1860, no fim da quaresma, mas ainda sem a titulação de “micareta”. Na cidade, eram realizados bailes de Aleluia à fantasia em teatros da cidade para a elite. Os populares também celebravam com folguedos de rua e de salão, elegendo a rainha da festa. Havia um modismo da nova festa adquirido pela elite, que imitava os carnavais franceses.

Durante os anos de 1880 a 1910, a imprensa e a polícia se colocavam contra a realização das festividades. Esforços eram demandados para impedir a atuação dos foliões, mas não surtiu grandes resultados.

O ano de 1935 culminou com o processo de popularização desta festa, que era utilizada pelas elites como forma de impor outra maneira de brincar aos demais grupos. Assim,  a micareta foi interiorizada para as cidades de maior porte da Bahia, como Feira de Santana, por exemplo.

Já na década de 1950, os baianos inventaram o primeiro trio elétrico, espécie de carro alegórico que conduzia uma banda durante os festejos do carnaval. Durante várias décadas, o uso do trio elétrico e o carnaval fora de época ficaram restritos às festas acontecidas na Bahia.

Somente em 1989 os foliões de Campina Grande, na Paraíba, tiveram a ideia de organizar a Micarande, a primeira micareta organizada fora dos domínios baianos. A partir de então, esse movimento se expandiu e passou a formar uma rentável atração turística, que movimenta grandes quantidades de dinheiro pelo país afora. Países como Canadá, Portugal e Espanha já realizaram sua “micareta”, adaptadas conforme a cultura local.

Atualmente, um dos principais motivos da realização das micaretas é econômico. O carnaval movimenta milhões na economia brasileira e a realização de carnavais fora de época age como uma continuação dos bônus lucrativos. Para participar do evento, as pessoas desembolsam uma razoável quantia para adquirir o famoso “abadá”.

Essa vestimenta, que permite o ingresso do folião nas festividades, tem origem na cultura africana. Nos cultos religiosos afro-brasileiros, o abadá designava uma túnica apropriada para a celebração de determinados rituais. No ano de 1993, a Banda Eva popularizou o termo quando apelidou a roupa do seu bloco com o mesmo nome.