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Como o papa Gregório 13 estabeleceu o calendário gregoriano

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Há 440 anos, foi instaurado o calendário que usamos hoje em dia: o gregoriano. No dia 24 de fevereiro de 1582, o papa Gregório 13 (1502-1585), instaurou uma modificação na forma de contar o tempo e retirou cerca de dez dias.

Gregório 13 publicou a bula pontifícia “Inter Gravissimas”. Com esse documento, foi determinado que o dia seguinte ao 4 de outubro, quinta-feira, não seria a sexta-feira 5 de outubro, mas a sexta-feira 15 de outubro de 1582. Naquele período, o calendário usado era o juliano, um legado da Roma Antiga, utilizado desde o ano de 45 a.C.

A solução adotada por Gregório 13 remediou o estrago “pulando” dez dias para conseguir ajustar novamente a contagem humana com a solar. Nessa época, o calendário juliano já havia percebido que o ano não tinha exatamente 365 dias, mas umas horas a mais.

No entanto, como o conhecimento astronômico da época era impreciso, o dia a mais já foi contado de três em três anos e depois de quatro em quatro, além de épocas em que não acontecia essa contagem. Por causa disso, Gregório 13 convocou uma comissão científica e definiu que somasse um dia a cada quatro anos, com o passar do tempo, a conta iria ficar errada de novo.

Tentando sanar este problema, criou-se três regras complementares para o ano bissexto, as normas vigentes até hoje apresentam que: de quatro em quatro anos, o ano é bissexto, mas de cem em cem anos não é, já de 400 em 400 anos é ano bissexto. 

Em resumo, são bissextos todos os múltiplos de 400, exemplo, 1600 e 2000. Assim como são bissextos os múltiplos de quatro, exceto se também for múltiplo de 100, mas não de 400. 

A mudança de calendário

Foto: Reprodução

De acordo com o estudioso de hagiografias, Thiago Maerki, pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a mudança de calendário está sendo estudada desde o século 2.

O primeiro registro de descontentamento com o calendário juliano foi feito pelo famoso astrônomo, geógrafo, cartógrafo e matemático Cláudio Ptolomeu (90-168). Anos depois, o monge Beda (673-735) também estudou o tema. Os registros ainda apontam que o frade e filósofo Roger Bacon (1220-1292) também tinham pesquisado sobre o problema.

Na Igreja, o papa Clemente 6º (1291-1352), e o seu sucessor, Inocêncio 6º (1282-1362), também chamaram especialistas para resolver o tema. Além disso, no Concílio de Constança (1414-1418) foram realizadas comissões para estudar a reforma do calendário.

“Foi quando acabou apontado como erro escandaloso o calendário juliano, especialmente no que se refere à determinação da Páscoa. Havia muito debate e especulação, mas ocorriam grandes discussões entre astrônomos e matemáticos.”

No ano 1476, papa Sisto 4º (1414-1484), chamou o matemático e astrônomo Regiomontano (1436-1476) para Roma, para encomendar a solução do calendário, mas ele morreu logo em seguida.

Após isso, o papa Leão 10 (1475-1521), tentou solucionar o problema no quinto Concílio de Latrão, realizado entre 1516 e 1517. Nesta mesma época, há registro de trocas de cartas entre os astrônomos Paolo di Middelburg (1446-1534) e Nicolau Copérnico (1473-1543) discutindo a solução para a contagem dos dias.

A Páscoa

Foto: Reprodução

Mudar o calendário também envolvia a religião, já que um calendário que não correspondia ao tempo natural dificultava as celebrações

“Em função do poder que detinha a Igreja Católica, de como ela organizava o mundo, determinando que o domingo era o dia do senhor e alocando as festas ao longo de todo o processo litúrgico. Havia um novo tempo cristão, ou seja, o calendário que vinha de Roma Antiga foi sendo de alguma maneira apropriado pela Igreja”, explica o historiador, filósofo e teólogo Gerson Leite de Moraes, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Por meio das comemorações, a Igreja Católica controlava o calendário do mundo cristão ocidental. Por isso, o principal problema do calendário juliano era que as distorções de dias eram mais visíveis na Páscoa, celebração que possui a data móvel. Mas, obedecia a lógica de ser o primeiro domingo, após a primeira lua cheia seguinte ao equinócio da primavera no hemisfério norte.

Com isso, a comemoração deveria sempre acontecer entre março e abril, durante a primavera. No entanto, por causa do descompasso entre o calendário natural e oficial, chegaria o momento em que a Páscoa seria comemorada no verão.

Contexto geopolítico

Foto: Reprodução

É importante destacar que no século 16 havia a Reforma Protestante. Por isso, resolver o problema do calendário era uma forma de mostrar o poder da Igreja Católica. Durante a Contra Reforma, a Igreja buscava retomar o seu espaço.

Solucionar o problema também era uma forma de demonstrar o diálogo da Igreja Católica com os avanços científicos da época. Apesar da Igreja criar uma lista de livros proibidos, ela puxava para si debates importantes para mostrar a sua visão de mundo.

Gregório 13 convocou em 1577 uma comissão de cientistas e pensadores, ligada ao clero para virar o novo calendário. O estudo foi liderado pelo cardeal italiano Guglielmo Sirleto (1514-1585), então bibliotecário do Vaticano.

Fizeram parte do estudo o cardeal, Vicenzo Lauro (1523-1592), o matemático jesuíta Cristóvão Clávio (1538-1612), o matemático e teólogo Pedro Chacón (1526-1581), o linguista e pesquisador Leonard Abel (?-1605), o cardeal Serafino Olivier-Razali (1538-1609), entre outros proeminentes da época.

O único membro da comissão que não fazia parte da igreja era o médico, filósofo, astrônomo e cronologista italiano Luigi Giglio (1510-1576). Apesar de ter morrido um ano antes da comissão, é considerado o verdadeiro autor do calendário gregoriano. Como ele já estava morto, sua ideia foi defendida por seu irmão, Antônio.

Após a publicação da bula pontifícia, o calendário entrou em vigor em outubro. No entanto, muitos locais do mundo resistiram a essa mudança e alguns países usaram os calendários juliano e gregoriano ao mesmo tempo.

Fonte: BBC

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