A Neuralink é uma sociedade que Elon Musk cofundou junto com outros oito empresários. A empresa projetou um chip para ser implantando no cérebro das pessoas. Através desse chip, os órgãos servirão como interfaces de máquinas.
Claro que essa tecnologia foi muito revolucionária e, até então, uma exclusividade da empresa do bilionário. Contudo, nessa quinta-feira, uma empresa estatal chinesa revelou que também tem um chip cerebral parecido com a tecnologia criada pela Neuralink. Segundo a Reuters, o chip se chama Neucyber e foi lançado pela Beijing Xinzhida Neurotechnology. Ele dá às pessoas a possibilidade de controlar um braço robótico através dos pensamentos.
Chip chinês
A revelação desse novo chip aconteceu no Fórum Zhongguancun, evento focado em tecnologia que acontece em Pequim todo ano. Mesmo que eles não tenham mencionado a Neuralink, o dispositivo é uma prova do objetivo da China em alcançar a empresa de Musk em sua neurotecnologia.
Esse chip chinês chegou depois de o Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação da China ter classificado a tecnologia BCI (Interface cérebro-computador) como uma “tecnologia emergente de ponta”.
No caso da Neuralink, eles já estão fazendo testes do seu chip em humanos. O paciente que recebeu o implante tem limitações físicas, mas é capaz de controlar dispositivos eletrônicos através de “telepatia”.
Enquanto isso, a China ainda não começou a fazer seus testes em humanos. Além disso, a Beijing Xinzhida Neurotechnology não estipulou nenhum prazo para que essa fase tenha seu início.
Ressalvas
No caso da Neuralink, o primeiro implante cerebral em humano aconteceu em janeiro desse ano. Na época, Musk disse que o paciente teve uma boa recuperação e “os resultados iniciais mostraram uma detecção promissora de picos de neurônios”.
O plano de Musk é implantar chips em pessoas com paralisia cerebral para que assim elas consigam controlar objetos com o pensamento. Contudo, esse projeto do bilionário tem causado polêmica ao redor do mundo. Mesmo que esse chip traga uma novidade, os cientistas estão preocupados com o dispositivo.
Os cientistas questionaram, em uma entrevista para a revista Nature, a transparência da Neuralink com relação ao seu experimento. Até porque, além do tweet de Musk, não existiu nenhuma outra confirmação de que os testes com o chip tinham começado. E a maioria da informação pública disponível vem de um panfleto de convite para que as pessoas participem do teste.
Além disso, o ensaio teste do chip também não foi registrado no repositório ClinicalTrials.gov, que conta com curadoria do Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos. Esse repositório é uma referência técnica para várias entidades. Tanto é que, antes dos participantes puderem ser envolvidos com os testes, várias universidades pedem o registro do teste em algum sistema do tipo. E as revistas médicas também usam o registro como uma condição para publicar resultados de pesquisas.
Conforme pontua Tim Denyson, neuroengenheiro da Universidade de Oxford, no Reino Unido, não existem informações de em que local a Neuralink está fazendo as implantações e quais resultados irão ser avaliados.
E na fase em que os testes estão, os especialistas esperam que a prioridade seja a segurança. Segundo Denyson, isso requer observar possíveis efeitos de longo prazo nos pacientes para ter certeza de que não acontecerá sangramento, AVC, infecções ou dano vascular.
Segundo o panfleto do estudo, os pacientes irão ser acompanhados por cinco anos. Ele também diz que o ensaio avaliará a funcionalidade do chip cerebral, e por conta disso os participantes têm que usá-lo pelo menos duas vezes por semana. Para isso, eles têm que tentar controlar um computador e depois relatar a experiência para a Neuralink.
Antes mesmo dos testes do chip em humanos começarem, os cientistas já tinham mostrado uma preocupação com relação à ética dele. Por mais que a proposta inicial fosse de ajudar as pessoas com paralisia, o dispositivo da Neuralink parece servir para outras coisas, como controlar um computador com a mente.
Conforme Dra. L. Syd Johnson, professora associada do Centro de Bioética e Humanidade da Universidade de Medicina SUNY, em Nova York, o mercado voltado para o chip cerebral com a intenção de somente ajudar as pessoas tetraplégicas é muito pequeno.
“Agora, se o objetivo for o uso dos dados cerebrais adquiridos para outras atividades — dirigir um Tesla, por exemplo — então existe um mercado muito, muito maior. Mas aí todos esses indivíduos usados na pesquisa, que são pessoas com necessidades especiais genuínas, estarão sendo explorados em um estudo arriscado, para o ganho comercial de outra pessoa”, afirmou ela.
Fonte: Olhar digital
Imagens: Revista Fórum, Olhar digital