É certo que todos nós, ou a maioria, temos coisas que queremos mudar a nosso respeito mas, às vezes, isso pode sair do controle e virar praticamente um vício. De acordo com a pesquisa, os brasileiros chegaram à marca de mais de um milhão de cirurgias plásticas e cerca de 970 mil procedimentos estéticos não cirúrgicos anualmente. E para que eles sejam feitos de forma correta, os profissionais precisam de treinamento. O que muitos não sabem é que o Brasil recorre à importação de cadáveres para treinamento em harmonização facial.
De acordo com as principais instituições de ensino e sociedades médicas do mundo, a melhor forma para estudar a anatomia e treinar habilidades médicas e cirúrgicas é pelo uso de cadáveres.
Contudo, no Brasil, esse uso de cadáveres não é uma coisa tão popular. Além disso, a decisão das pessoas em doarem seus corpos para a ciência também não é abraçada por muitos. Tanto que na maior parte das universidades públicas existe uma falta de peças anatômicas.
Justamente por conta dessa realidade no nosso país que quando cursos de treinamento de técnicas de harmonização facial que usam cadáveres frescos foram anunciados aconteceu um grande debate nas redes sociais.
Vários usuários do Bluesky consideraram a prática como uma coisa fútil. Além disso, vem também a dúvida: como as universidades não tem corpos, mas esses cadáveres estão disponíveis para treinar harmonização facial?
De acordo com especialistas, treinar em cadáveres para fins estéticos faz sim um sentido porque esses procedimentos incluem estruturas sensíveis da face. E no caso deles, eles não vem da mesma fonte que as universidades do país tem. Então, esses cursos não estariam competindo pelos corpos.
Além disso, os cadáveres usados nos cursos de harmonização facial tem que ser especificamente preparados para isso, tendo uma técnica de congelamento logo depois da morte. E nesse caso o Brasil importou os cadáveres para esses cursos de harmonização facial.
Brasil faz importação de cadáveres para cursos de harmonização facial
Mesmo sabendo um pouco sobre o assunto, a dúvida se o treinamento de harmonização facial em cadáveres faz sentido permanece.
“Harmonização facial é uma área que tem crescido exponencialmente em todo o Brasil. E, logicamente, você precisa treinar, se aperfeiçoar e melhorar o máximo possível para que tenha a menor chance de erro na hora de tratar o seu paciente. Nenhum boneco ou simulador chega nem perto da veracidade de um treinamento com cadáver fresco. Ao fazermos alguns procedimentos, ele ainda pode sangrar, é muito similar a um paciente vivo”, disse Henrique Barros, presidente da Sociedade Brasileira de Anatomia.
As alternativas possíveis para quem está fazendo o treinamento de harmonização facial são: uso de bonecos, modelos digitais 3D e oferecer o tratamento a preço de custo para as pessoas que aceitarem serem atendidas por quem ainda está na sua formação.
No caso de cadáveres frescos, os especialistas pontuam que eles ajudam os profissionais a terem uma noção melhor de como preservar áreas nobres e também em evitar os tecidos importantes.
“Embora não seja possível observar o resultado completo, como o inchaço e a resposta inflamatória que ocorrem em pacientes vivos, cumpre-se o objetivo de aprender a localizar as camadas e lacunas corretas e prevenir complicações como necrose ou embolia”, explicou Mohamad Abou Wadi, formado em odontologia e parte do Instituto de Treinamento em Cadáveres.
Fonte: BBC
Imagens: BBC