Empresas aéreas ao redor do mundo notaram que o número de pilotos diminuiu consideravelmente, o que fez aumentar o número de voos cancelados. Para muitos analistas e executivos, esses problemas são o maior desafio da aviação atual.
“A falta de pilotos é a maior ameaça à indústria que vi desde os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos”, explica Jonathan Ornstein, CEO do Mesa Air Group, ao Congresso dos Estados Unidos.
Mesmo que a falta de pilotos tenha afetado a indústria em todo o mundo, os EUA sentiram o problema de forma mais intensa. Por isso, as principais companhias aéreas divulgaram planos para contratar entre 12 mil e 13 mil comandantes neste ano e em 2023, além de aproximadamente 8.000 em 2024.
Isso faz com que algumas companhias diminuam ou modifiquem os requisitos ou procurem pilotos em outros países. A Frontier Airlines está contratando na Austrália, a Delta Air Lines eliminou parte de sua exigência de contratar comandantes de voo. Já a American Airlines começou a utilizar ônibus para viagens anteriormente feitas de avião.
Entenda abaixo o que está por trás dessa situação.
A falta de pilotos
Stuart Fox, diretor de operações técnicas e voo da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), explica que a falta de pilotos é um problema que existe antes da pandemia.
“A longo prazo, sempre foi previsto um déficit de pilotos, uma vez que haverá aumento da demanda de passageiros que exigirá mais profissionais e também é provável que haja um aumento na aposentadoria de pilotos no futuro”, afirmou ele à BBC.
No ano de 2016, a Boeing já havia previsto que a indústria global de aviação exigiria 679 mil novos pilotos até 2035. A Airbus acrescentou que aproximadamente 500 mil deles seriam necessários no mesmo período.
No entanto, Fox aponta que a pandemia agravou o problema.
“Certamente, a causa da crise atual é a pandemia e, devido ao aumento da procura, são necessários mais pilotos”, explica o especialista da IATA.
De acordo com ele, a crise atual é um problema de “curto prazo”.
“Dada a incerteza sobre a pandemia, as companhias aéreas tiveram de implementar programas de aposentadoria de pilotos ou cortes de pessoal. E embora muito se tenha falado sobre essa situação nos EUA, países ao redor do mundo vivenciaram uma situação semelhante.”
Uma corrida cara
Há anos, as principais companhias aéreas do mundo desenvolveram uma concorrência acirrada, oferecendo grandes incentivos aos pilotos para trabalhar para elas.
Além disso, transportadoras também começaram a contratar pilotos, o que fez com que as companhias regionais ficassem entre as mais atingidas.
Também vale destacar que a preparação dos pilotos de avião na maior parte dos países não é apenas muito exigente, mas também é cara (o treinamento por menos de um ano para uma licença básica pode custar cerca de R$ 460 mil), o que impede que a profissão se torne acessível.
Já nos Estados Unidos, a utilização de drones fez com que o número de militares em treinamento de voo diminuísse nos últimos anos, de acordo com dados oficiais.
Outro fator que influenciou a falta de pilotos é que muitos se aposentaram. Por exemplo, nos Estados Unidos, mais de 13% dos pilotos vão ter a idade para a aposentadoria em cinco anos, conforme dados da Associação Regional de Companhias Aéreas.
Medidas desesperadas
Ao redor do mundo, empresas procuram medidas para tentar resolver esta situação.
“As companhias aéreas têm abordado esse problema de várias maneiras, incluindo a criação de novos programas de treinamento de pilotos, aprimorando os esforços de recrutamento, alavancando as comunidades para aumentar a diversidade (gênero e raça) e implementando programas para lidar com obstáculos financeiros”, afirma Hannah Walden, da Airlines for America, que representa as maiores companhias aéreas dos EUA.
Em países como a Índia, algumas companhias aéreas começaram a contratar pilotos aposentados por causa da falta de funcionários.
Diversos sindicatos também apontaram que esta situação tem levado vários pilotos a fazerem horas extras e suportarem maiores condições de estresse.
Uma porta-voz da Airline Pilots Alliance (ALPA), o maior sindicato do género nos EUA, disse, em entrevista à BBC, que este tipo de situação, juntamente com o pedido de diminuição de horas de voo para a adesão a determinadas companhias aéreas ou aumento da idade de aposentadoria, pode afetar na segurança do setor.
“Embora concordemos que podemos fazer mais para ajudar a tornar a profissão de piloto acessível a todos, a ALPA se opõe a qualquer tentativa de diminuir a segurança, como aumentar a idade de aposentadoria dos pilotos e qualquer tentativa de usar uma narrativa falsa para cortar o serviço ou reduzir a segurança”, afirmou o órgão.
Fox aponta que ainda é cedo para definir quando esse problema será resolvido e quais serão as consequências. No entanto, executivos de algumas grandes companhias aéreas acreditam que essa situação pode durar mais de cinco anos.
Fonte: BBC
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