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Esse filósofo questiona a definição de realidade

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O filósofo David Chalmers questiona qual a definição de realidade. O estudioso afirma que não importa qual a situação da sua realidade, seus pensamentos e experiências permanecem os mais reais possíveis, assim como o valor e o propósito da vida seguem intocados.

Chalmers explica no seu novo livro “Reality+: Virtual Worlds and the Problems of Philosophy” (Realidade+: Mundos virtuais e os problemas da filosofia) que: “as simulações não são ilusões. Os mundos virtuais são reais. Objetos virtuais realmente existem”. Ele acrescenta que quando nos acostumarmos com a ideia, poderemos entender algumas das inquietações mais profundas da era digital.

Como explicar a consciência?

Foto: Reprodução

No ano de 1994, Chalmers apresentou uma palestra em uma conferência em Tucson, no Arizona (Estados Unidos), chamada “Rumo a uma Ciência da Consciência”. Chalmers se apresentou à plateia perguntando: “o que precisamos explicar para explicar a consciência?”

Para explicar a consciência, ele precisava abordar o comportamento, as ações objetivas, a reação dos estímulos e relatos mentais. Além disso, o cientista precisava entender as ações subjetivas, como pensamentos e sentimentos.

A percepção é algo difícil de relatar porque é impossível fazer outra pessoa registrar. Tentando solucionar o problema, Chalmers desenvolveu várias linhas de pesquisa, sendo a principal a da informação. 

Por isso, o autor propunha uma abordagem “não redutiva” do problema, com a ideia de que as formas de processamento de informação são um componente que constitui a experiência consciente. Resumidamente, o processamento de informações relativamente simples gera experiências relativamente simples, já o processamento de informações complexas gera experiências complexas.

Após lançar o seu primeiro livro, “The Conscious Mind: in Search of a Fundamental Theory” (A mente consciente: em busca de uma teoria fundamental), no final de 1996, Chalmers tornou-se um nome celebrado nesse campo de atuação.

A mente estendida

Foto: Reprodução

A mente estendida foi uma teoria explorada por Chalmers e pelo filósofo britânico, Andy Clark. Eles desejavam entender “onde termina a mente e começa o resto do mundo?”. O cérebro é conectado pelo sistema nervoso ao corpo, por isso o corpo é quem define os limites entre a mente e o ser. 

Porém, Clark e Chalmers propuseram uma nova teoria: um “externalismo ativo”, baseados na hipótese de que os seres humanos podem transferir pensamentos e memórias para artefatos externos.

Os autores sugeriram que registrar ou processar informações através de um objeto que está sempre com você seria formar um “sistema acoplado” àquele objeto. Eles descreveram em um estudo conjunto intitulado “The Extended Mind” (A mente estendida), que “se os recursos da minha calculadora ou do meu Filofax estiverem sempre ali quando necessários, eles estarão acoplados a mim da forma mais confiável. Na verdade, eles são parte do pacote básico de recursos cognitivos que carrego no dia a dia”.

Tornando a pesquisa mais atual, Chalmers resume que costuma brincar que uma parte da sua mente é composta pelo Google, Apple e Facebook. “Talvez o Google tenha 30% e a Apple tenha 20%. E esta é somente a extensão da mente comum. Quando se aplica isso a todo o nosso ambiente, acho que o potencial é muito maior.”.

Embora possa parecer óbvio que nossas mentes tenham acesso ao mundo “real” diretamente e que qualquer ambiente virtual ou simulado seja “irreal”, Chalmers destaca que eles são “artefatos virtuais reais, experiências intermediadas reais e encontros online reais”

A realidade

Foto: Facebook/ Reprodução

De acordo com Chalmers, descobrir que você viveu toda a sua vida dentro de uma simulação realmente não invalida a “realidade” daquela vida. Em resumo, o autor revela o que faria se acordasse e descobrisse estar vivendo em uma simulação: “eu não deveria concluir que o mundo externo não existe, ou que não tenho um corpo, ou que não existem mesas e cadeiras… eu deveria concluir que o mundo físico é constituído por computações em nível microfísico. Ainda existem mesas, cadeiras e corpos, mas eles são fundamentalmente compostos por bits e o que quer que constitua esses bits. Esse mundo foi criado por outros seres, mas ainda é perfeitamente real.”

Chalmers argumenta que a questão se estamos vivendo em uma simulação possui uma dimensão inesperadamente teológica. Ele afirma que uma simulação operada por entidades poderosas é equivalente a um universo criado por um ser divino.

Como problemas dessa nova realidade, como o Metaverso, Chalmers destaca: “se você pensar que a privacidade e a manipulação já são um problema nas redes sociais atuais, obviamente elas terão o potencial de ser um problema muito maior quando chegarmos aos mundos virtuais criados e controlados pelas mesmas corporações”.

Sensação de virtualidade e realidade

Foto: Reprodução

Em “Reality+”, Chalmers utiliza a expressão “sensação de virtualidade” para descrever as formas em que as pessoas sabem que um objeto ou ambiente é simulado e a importância dessa consciência para as interações em ambientes virtuais.

“Acho que o conhecimento é muito importante”, afirma ele. “Quando você está interagindo com algo virtual, você sabe que é virtual; quando você interage com algo digital, você sabe que é digital. Não me surpreenderia se isso se tornasse parte dos regulamentos éticos dos mundos virtuais. Isso não significa que esses mundos virtuais não são reais. Você apenas quer saber em qual realidade você está.”

A cegueira da mudança

Foto: Getty Images

Para Chalmers, o ponto que mais o surpreendeu, ou entusiasmou, com a nossa crescente compreensão da consciência foi a “cegueira da mudança”. Isso ocorre quando as pessoas ficam “cegas” com as modificações substanciais que acontecem na frente delas, a menos que estejam procurando essa mudança.

Apesar de acharmos que nossa consciência diária do mundo é detalhada, isso é apenas uma ilusão. “Nós achávamos que tínhamos consciência de tudo, de todos os detalhes e de um quadro; mas o resultado é que talvez tenhamos consciência de apenas sete bolhas às quais prestamos atenção.”

Nossas mentes e percepções não são literais em suas leituras de realidade, mesmo que a percepção seja um tipo de ilusão evoluída e que seja necessária para proteger a nossa sobrevivência.

Chalmers resume que: “a realidade é ampla. O espaço é grande. Mas a realidade é maior.”

Fonte: BBC

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