Quando se fala em extinção em massa, logo nos vem à cabeça uma situação caótica e apocalíptica. Contudo, ela pode acontecer de maneira gradual e quase imperceptível. É justamente isso que a atividade humana está fazendo com várias espécies de plantas e animais. Infelizmente, isso não é algo novo, como por exemplo, há 40 mil anos, a extinção de uma espécie de cangurus que foi causada por ação humana.
Hoje em dia, a Austrália é o lar de aproximadamente 60 espécies de cangurus, wallabies e outros marsupiais saltadores. Esse número já impressiona, mas no passado a diversidade era ainda maior. Tanto que, conforme os registros, existia até 50% mais variedade de animais.
Contudo, isso mudou de forma drástica no fim do Pleistoceno, entre 65 e 40 mil anos atrás. Nessa época, 27 espécies de cangurus desapareceram e tal desaparecimento era creditado, principalmente, às mudanças climáticas do período, afinal, a mudança para um clima mais seco mudaria a disponibilidade de alimentos e favoreceria os ambientes com gramíneas ao invés das florestas densas e úmidas.
Entretanto, um novo estudo feito pelos pesquisadores da Universidade Flinders, em Adelaide, e do Museu e Galeria de Arte do Território do Norte, em Darwin, mudou essa ideia. Conforme ele, a dieta dos cangurus do Pleistoceno era bem mais variada do que o imaginado anteriormente.
O estudo sugere que a extinção de uma espécie de cangurus foi causada por ação humana e não pelas mudanças climáticas e ofertas de alimentos. “Nosso estudo desafia a ideia de que os cangurus de focinho curto [subfamília Sthenurinae] eram herbívoros especializados em folhagem, ou seja, que sua dieta era composta principalmente de folhas e galhos em vez de gramíneas ou, mais importante, uma mistura de ambos”, disse Sam Arman, autor principal do estudo e técnico em ciências da Terra no Museu do Território do Norte.
Para o estudo, Arman e sua equipe analisaram mais de 2.650 scans de material dentário de 937 espécimes de 12 espécies fósseis e 16 atuais. Através da técnica chamada DMTA, que é uma análise da textura de microdesgaste dentária, eles conseguiram imagens detalhadas dos dentes e com isso aplicaram um algoritmo que quantificava as texturas resultantes.
Aventuras na história
Tendo por base a ideia de que variedades de alimentos causam marcas diferentes nos dentes, os pesquisadores fizeram uma análise estatística para conseguir identificar se os padrões vistos eram correspondentes a um dos três tipos conhecidos de dieta entre os cangurus. Os animais eram diferenciados por suas dietas: pastadores, os que consomem gramíneas; “browsers”, (que se alimentam principalmente de folhas; e mistos que combinam os dois tipos.
Segundo a morfologia craniana das espécies de cangurus extintas, o indicado era uma dieta predominantemente composta por folhas suculentas, o que é diferente da pastadora vista nas espécies atuais. Por conta disso que vários estudos anteriores diziam que a extinção de uma espécie de cangurus tinha sido causada pelas mudanças climáticas e não por ação humana.
De acordo com Arman, o que diferencia o seu estudo dos demais é a análise que foi feita do microdesgaste dentário, porque ela dá informações diretas a respeito da dieta que os cangurus consumiam. “A anatomia craniana pode sugerir adaptações alimentares, mas nosso método revela o que realmente era consumido”, explicou ele.
Entre as várias espécies que a Austrália perdeu, há cerca de 40 mil anos, está o Protemnodon mamkurra, um canguru pré-histórico que podia pesar até 170 quilos e não saltava como os atuais. Além dele, também tinham as espécies Sthenurus andersoni e Sthenurus maddocki, que eram conhecidas por causa do seu tamanho de até três metros e dieta de folhas suculentas.
Conforme concluiu Arman, a extinção dessas espécies não foi somente às mudanças climáticas. “Como as gramíneas favorecem condições mais secas e a vegetação arbustiva prefere condições mais úmidas, é ainda menos provável que as mudanças climáticas tenham sido responsáveis por eliminar ambos os extremos do espectro alimentar. Como sabemos, a janela de extinção inclui a chegada dos humanos na Austrália e isso, certamente, influenciou o desaparecimento”, disse.
Fonte: Aventuras na história
Imagens: Aventuras na história