Quando se fala em extinção em massa, logo nos vem à cabeça uma situação caótica e apocalíptica. Contudo, ela pode acontecer de maneira gradual e quase imperceptível. É justamente isso que a atividade humana está fazendo com várias espécies de plantas e animais. Felizmente, alguns casos trazem uma esperança. Como, por exemplo, a Jandaia verdadeira, que está ameaçada de extinção, mas voltou aparecer no Ceará.
A jandaia verdadeira é um dos símbolos do estado do Ceará e, atualmente, está na Lista Vermelha de espécies ameaçadas de extinção da Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima (Sema).
“Como observadora de aves, fui percebendo que as jandaias estavam muito próximas, muito perto. Eu fazia minhas caminhadas por aqui pela manhã e tarde e, com o meu binóculo, vi um casal alimentando um filhote. Era onde eles estavam se reproduzindo”, disse Suzete Bastos, bióloga de 41 anos, que mora em um bairro de Fortaleza.
A principal característica dessa ave é o seu canto, bem barulhento. Não é à toa que seu nome científico, Aratinga jandaya, significa periquito barulhento em tupi. “Quem conhece o canto, consegue identificar de forma perfeita: ‘tem jandaia aqui perto’”, pontuou a bióloga.
Outro ponto único do animal é sua coloração. Ele tem a cabeça e pescoço amarelos, em volta dos olhos e do bico é alaranjado e seu manto e asas são verdes.
Jandaia, em risco de extinção, voltou aparecer
Conforme Suzete, no local estão aproximadamente 20 jandaias. Elas estão dentro de uma árvore do bairro que está em um local de lazer das pessoas. E os ninhos deles foram feitos em ocos de carnaúbas, que é uma espécie de árvore símbolo do Estado.
De acordo com Charles Leite, 46 anos, que vive no bairro desde a infância, no começo, somente duas jandaias estavam nesse local. E ele chegou a impedir pessoas que tentaram tirar as aves do local.
“Esse espaço aqui é o lazer da comunidade. Nos dias de sábado tem um racha, das 16 às 18 horas. No domingo, vai das 14 às 18 horas. A gente preserva muito para não ter coisa de poluição e negócio de matar animal”, disse ele.
Segundo Fábio Nunes, biólogo e gerente de programa da Aquasis, a jandaia entrou em risco de extinção por conta da política de defaunação, que é diminuir ou extinguir a população no seu habitat. Isso aconteceu porque a ave se alimenta de sementes, castanhas e frutos, o que acabou fazendo com que ela fosse considerada uma praga agrícola. Além disso, a jandaia foi muito comercializada para ser criada como pet, o que também influenciou na situação atual.
“Existiram leis no Ceará, do século 18 e adiante, que obrigavam os lavradores a apresentar a cabeça de aves de bicos redondos — periquitos, papagaios, araras etc. — nas comarcas municipais. Foi um processo de perseguição”, explicou Fábio.
Embora a jandaia verdadeira seja um símbolo do estado, ela não é nativa de lá. “A ave foi reintroduzida de forma espontânea. Talvez aconteceram escapes de criadores ilegais, ou até legais, de forma deliberada. O que acontece? As pessoas compram a ave e se arrependem porque o barulho dela é muito alto. Você não aguenta ela dentro de um apartamento”, contou o biólogo.
Preservação
O aparecer da jandaia verdadeira, que está em risco de extinção, deve ser algo a ser comemorado e preservado para que essa população continue crescendo e se desenvolvendo. Para isso é importante que as pessoas não aprisione os pássaros e nem tentem criá-los como pet.
“A captura é a principal ameaça para a espécie. A gente vê que quando não há capturas da espécie, mesmo com alguns percalços, eles conseguem se desenvolver. A captura coloca a população abaixo rapidamente, porque você está retirando os reprodutores da natureza”, explicou Fábio.
A Sema disse em nota que a jandaia verdadeira foi colocada em várias ações do Plano de Ação para a Conservação das Espécies Ameaçadas da Região Costeiro Marinha, que está na sua fase de conclusão.
Além disso, ela irá fazer estudos junto com o primeiro, segundo e terceiro setores “para avaliar as populações e principalmente estabelecer programas de refaunação e reforço populacional, trazendo a espécie de volta para locais onde historicamente ela ocorria”.
Fonte: O povo
Imagens: Wiki aves, Ecoregistros