Com o dobro do tamanho de São Paulo e de Londres, o maior iceberg do mundo está sendo arrastado pela Corrente Antártica e caiu em uma “armadilha oceânica”.
Em vez de seguir uma das correntes oceânicas mais fortes do mundo, o A23a circulou a mesma área ao norte da Antártida, “preso” em um “cilindro giratório de água”.
Mas como isso aconteceu?
O A23a já não está de pé como esteve nas últimas três décadas. No momento, pode existir menos de mil metros de água entre o fundo do maior iceberg do mundo e o mar.
Assim, esperava-se que as correntes oceânicas carregassem a massa de gelo para o Atlântico Sul, mas ela permaneceu ao norte das Ilhas Órcades do Sul.
O A23a tem girado no sentido anti-horário, cerca de 15 graus por dia – um movimento que, se continuar a acontecer, reverterá a “morte” desse grande bloco de gelo.
Na verdade, isso é o que se chama de Coluna de Taylor, que influenciará o movimento da A23a por vários anos.
O objeto de “armazenamento” A23a foi descrito pela primeira vez na década de 1920 pelo físico Geoffrey Ingram Taylor. Especialistas explicam, com base em pesquisas, que quando as correntes oceânicas encontram obstáculos no mar, sob certas condições, podem se dividir em duas correntes separadas, criando uma corrente de água profunda e circulante completamente entre elas.
Neste caso, a corrente oceânica colidiu com uma “saliência” de 100 km de largura no fundo do mar, conhecida como Banco Pirie. O vórtice está localizado no topo desta margem, onde A23a está “presa”.
Maior iceberg do mundo não derrete
Muitas pessoas pensam nos blocos de gelo como coisas temporárias. Que se formam e, eventualmente, acabam derretendo. Mas esse não é o caso do maior iceberg do mundo. O A23a se recusa a morrer.
Com cerca de quatro mil quilômetros quadrados e uma espessura de 399 metros, o maior iceberg do mundo atravessou o Mar de Weddell, no Oceano Antártico, até cair numa armadilha.
O gelo se desprendeu da Plataforma Filchner em agosto de 1986 e permaneceu congelado por três décadas, até ressurgir em 2020.
No início de 2023, começou a se mover em direção às Ilhas Geórgia do Sul, sob o poder da Corrente Circumpolar Antártica. Ela teria o tamanho de um navio a vapor que transporta cem vezes mais água ao redor do mundo do que quaisquer outros rios da Terra juntos.
Quais as consequências?
Se o maior iceberg do mundo não derreter, existem algumas consequências locais e globais. Pode parecer algo positivo para a natureza, mas como tudo tem seu ciclo, essa interrupção prejudica o ecossistema.
Grandes plataformas de gelo podem alterar os padrões de circulação oceânica local, afetando a distribuição de nutrientes e, consequentemente, a vida marinha.
Ainda, acabam representando um perigo para a navegação marítima, especialmente para navios de pesquisa e comerciais que operam em regiões polares.
A presença de grandes icebergs também pode influenciar a formação e derretimento do gelo marinho ao redor, alterando o balanço térmico local.
Enquanto isso, embora o derretimento de um iceberg como o A-23A não contribua diretamente para o aumento do nível do mar (pois já está flutuando), a liberação de icebergs de plataformas de gelo pode indicar o colapso dessas plataformas, o que levaria ao aumento do nível do mar devido ao derretimento de gelo continental.
Mudanças na circulação oceânica causadas por grandes icebergs acabam tendo efeitos sobre os padrões climáticos em escala regional e possivelmente global, embora esses efeitos sejam mais difíceis de quantificar.
Por fim, a presença de grandes icebergs sem derretimento pode influenciar correntes oceânicas, que são importantes para a regulação do clima global. Ou seja, cientistas estão atentos para o caminho que o A23a irá seguir.
Fonte: Globo