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Médicos residentes pedem demissão coletiva em Campinas

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Os tempos mudaram e não são mais aceitos abusos comuns que acontecem no sistema de trabalho dos médicos residentes. Um exemplo disso aconteceu em Campinas (SP), onde a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) recebeu um pedido de demissão coletiva dos participantes do programa de residência em ortopedia e traumatologia.

Em seguida, ocorreu um acordo entre a instituição e os estudantes, e as baixas na equipe não ocorreram. No entanto, a carta aberta escrita em maio mobilizou atenções sobre as condições de trabalho e de aprendizagem dos residentes do Brasil todo.

Fonte: Cedric Fauntleroy

Demissão coletiva

Basicamente, os estudantes de medicina em questão queriam se desligar da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), que tem vínculo com a universidade. Os motivos disso eram variados e se resumem no seguinte trecho do texto:

“As condições de trabalho as quais estamos sendo submetidos e a carga horária semanal associada ao número de plantões e a quantidade reduzida de residentes tornou nosso trabalho humanamente impossível de ser realizado”, relata o texto.  Sendo assim, os residentes argumentam que não há um respeito ao tripé que estrutura qualquer universidade: ensino, pesquisa e extensão.

Nesse sentido, o documento não informa de forma detalhada a quantidade de horas e plantões que os residentes enfrentavam. Porém, com certeza não respeitavam os parâmetros legais que regem essa modalidade de trabalho na área da saúde.

Conforme impõe a lei da residência médica, o estudante pode ter no máximo uma carga horária de 60 horas semanais. Além disso, em caso de plantões, devem ter uma duração máxima de 24 horas seguidas. Sobre plantões noturnos de mais de 12 horas, é preciso que a instituição conceda um descanso de 6 horas logo em seguida.

Fonte: Mikhail Nilov

Todavia, nem sempre essas condições recebem o devido respeito. Poucos dias depois do caso de Campinas, surgiu uma outra denúncia partida dos residentes do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (IAMSPE), em São Paulo.

Agora, as reclamações incluíam a prática de mais de 40 horas seguidas de plantão. Além disso, de acordo com a denúncia que chegou à Coordenação-Geral de Residências em Saúde (CGRS), que integra o Ministério da Educação (MEC), os residentes chegavam a acumular uma carga horária de 110 horas semanais.

Uma cultura abusiva

Apesar de surpreender pelo volume de trabalho, as situações em questão têm reproduções pelo país todo. Nesse sentido, a médica Kátia Paulino chegou a deixar de lado uma especialização em São Paulo por conta da carga horária semanal de 80 horas.

“Foram muitos os momentos que eu percebi que não deveria estar ali. Quando você percebe que não é aquela médica que falou que seria na qualidade, no tempo de atendimento”, desabafa ela em entrevista à BBC.

Ademais, ela também vivenciou fortes situações de assédio moral por parte da organização do hospital em que trabalhava. “Foi o assédio moral, também, por parte de todos – do sistema, da chefia, da equipe, da instituição. Justamente por normalizarem a situação do residente exausto”, revela a médica, que hoje atua em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) e em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Álcool e Drogas.

Fonte: Lara Jameson

A propósito, ela elogiou a atitude dos estudantes de Campinas, pois a coragem deles “colocou uma lupa” na questão da residência no país. “Espero que não seja algo passageiro, que seja algo para mudar a residência médica no Brasil”, complementa ela.

A princípio, a tendência é que essa cultura de abusos tenda a mudar conforme os residentes se manifestem sobre o que passam. É isso que projeta o médico e coordenador-geral da residência médica do Hospital das Clínicas de Itajubá (Minas Gerais), Seleno Glauber.

“Antes havia uma resiliência maior às condições adversas, pressões e até assédios por parte dos superiores. É comum histórias de cirurgiões que jogavam pinças cirúrgicas nos residentes que faziam algo de errado. Isso mudou. Hoje eles sabem seus direitos e brigam por isso”, argumenta Seleno.

Fonte: G1.

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