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Melatonina não cura insônia, mas ajuda a dormir melhor

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Cada vez mais a melatonina tem sido usada pelas pessoas como um indutor de sono. Até aí tudo certo, ou mais ou menos. Isso porque, por mais que esse hormônio ajude no momento de desligar a cabeça, não é possível afirmar que ele é a cura para a insônia ou que é um remédio.

“O remédio é um tratamento oficial, com prescrição médica”, explicou a médica endocrinologista Fernanda Braga, enquanto que a melatonina é uma terapia feita de maneira complementar. Mesmo assim, ela precisa de uma orientação para ser usada para que o profissional veja qual a dosagem necessária para que a pessoa tenha os melhores benefícios.

Contudo, desde que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou seu uso, a quantidade de pessoas que recorrem à melatonina para ter um sono melhor e sem nenhuma indicação médica aumentou.

O que é?

Pense natural

“A melatonina é um hormônio natural cuja principal função está diretamente ligada a preparação do corpo para sono e a regulação do ciclo circadiano, que é o nosso relógio biológico”, explicou a endocrinologista.

Nas condições normais, os níveis de melatonina aumentam no corpo de acordo com a claridade do dia e vão diminuindo quando a noite chega. Contudo, vários fatores podem fazer com que essa programação natural do corpo não funcione como planejado.

Atualmente, “a melatonina tem seu uso estabelecido na clínica médica no tratamento de alguns distúrbios do sono”, como explicou a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

Quando tomar melatonina?

Instituto do sono

Como dito, a melatonina deve ser tomada em casos específicos e com indicação. Veja quais:

Jetlag

Isso é experimentado pelas pessoas que viajam para outros países com mudança de fuso horário. Dessa forma, o ciclo circadiano individual e o horário do relógio ficam desalinhados.

Trabalho noturno

No caso de a pessoa trabalhar em um horário diferente do natural do ciclo circadiano, como trabalhar a madrugada toda ou parte da noite acordada, ele pode ser desregulado. Essa condição tem até um nome: síndrome da fase de sono retardado.

Sono fragmentado

Isso é visto quando o padrão de sono para de ser reparador por conta das micro acordadas. Dessa forma, a pessoa não consegue ter o nível de relaxamento e descanso que são necessários.

Queda natural na produção

Os níveis de melatonina de uma pessoa podem diminuir de forma natural por conta de alguns fatores, bem comum conforme a idade avança. Os diabéticos também podem produzir quantidades menores desse hormônio.

Outro fator que pode causar isso é usar medicamentos betabloqueadores, que são usados no tratamento de arritmias ou hipertensão. Nesses casos, o profissional pode avaliar o uso da suplementação com melatonina.

Ricos da automedicação

O Tempo

De acordo com Fernanda, as pessoas que usam a melatonina por conta própria têm o risco maior de cair em indicação e dose inadequada. Quando ela é tomada em doses exageradas, o hormônio pode ter efeitos colaterais como por exemplo, sonolência diurna, fadiga, dor de cabeça, náuseas e até mesmo insônia.

Se a pessoa precisar de melatonina de liberação lenta para tratar microdespertares tardios no ciclo do sono, mas usar uma dose de liberação rápida, ela até vai dormir rápido. Contudo, em cerca de três horas ela vai acordar e não dormir mais.

Alerta

Vhita

Por conta desse crescimento no uso entre crianças e o risco de um abuso de melatonina, a Associação Americana de Medicina do Sono (AASM) divulgou um alerta com a recomendação de que os pais procurem um médico antes de darem melatonina para seus filhos.

A entidade médica norte-americana emitiu seu comunicado depois de o Centro de Controle de Doenças (CDC) perceber um aumento significativo no atendimento emergencial nos prontos-socorros infantis causados pelas super dosagens de melatonina ou então pela intoxicação depois de ela ter sido usada.

Segundo os dados dos EUA, o número de crianças que ingeriram de forma involuntária esse suplemento teve um aumento de 530% em uma década. O pior é que mais de quatro mil desses casos acabam com internação hospitalar.

Da mesma forma que no nosso país, nos EUA a melatonina é regulamentada como um suplemento alimentar. Por conta disso é possível encontrá-la nos supermercados e farmácias sem a supervisão que um remédio convencional teria. O fato problemático é que ainda existem poucas evidências sobre a eficácia desse suplemento para o tratamento da insônia em crianças saudáveis.

O que se tem são poucos estudos mostrando os possíveis benefícios da melatonina em casos específicos, como por exemplo, com relação a alguns distúrbios do sono ou com o autismo.

Além disso, um dos pontos ressaltados pela AASM foi que o teor de melatonina vendida nas farmácias teve uma variação de menos da metade a mais de quatro vezes o que dizia no rótulo das suas embalagens. De acordo com a AASM, a maior variação foi vista nas gomas mastigáveis, justamente o produto que é mais usado pelas crianças.

Como aponta Leticia Azevedo Soster, neurologista e especialista em Medicina do Sono do Hospital Israelita Albert Einstein, as pessoas estão usando a melatonina cada vez mais frequentemente.

“Cada vez mais temos recebido essa demanda em consultório. Os pais nos procuram por causa dos distúrbios do sono da criança e dizem que elas fazem ou já fizeram o uso de melatonina por conta própria. Dificilmente chega um paciente que não fez uso da melatonina para consulta de questões de sono”, disse ela.

Por conta disso que Soster elogiou o comunicado da AASM a respeito do uso do suplemento sem ter um acompanhamento médico. “Essa recomendação é muito correta. Todo tipo de automedicação deve ser evitada porque existem vários fatores que precisam ser considerados antes de prescrevemos uma medicação ou suplemento. Muitas vezes, ao acreditar que o suplemento é algo inócuo, leve, suave, a pessoa não leva em consideração alguns efeitos colaterais importantes”, pontuou.

Claro que os pais não dão melatonina para as crianças sem nenhum motivo. Conforme pontua a neurologista, os pais reclamam que seus filhos têm dificuldade para começar ou manter o sono.

“Muitos acham que a o fato de a melatonina ser um hormônio relacionado à noite e ao período de repouso, consequentemente seria o hormônio do sono, o que não é verdade. Ele é do escuro e do repouso, não necessariamente do sono”, explicou.

Além disso, seu uso sem prescrição médica pode trazer riscos. E isso começa já pela classificação que ela recebe, de suplemento. Por conta disso, a melatonina acaba não passando por todos os testes que a Anvisa exige para que um remédio seja aprovado no nosso país. Por conta disso ninguém sabe ao certo se existem riscos a longo prazo.

“O que a gente sabe é que se a pessoa usa mais melatonina do que precisa, ela está simulando para o corpo que aquele momento é noite. O corpo cria o metabolismo da noite que pode ir se alongando ao longo do dia, deixando a melatonina circulante no sangue. É como se a pessoa tivesse induzindo um estado metabólico da noite durante o dia. E isso é um risco”, concluiu ela.

Fonte: Canaltech, Metrópoles

Imagens: Pense natural, Instituto do sono, O Tempo, Vhita

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