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Por que os relacionamentos abertos estão cada vez mais populares

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Nos últimos anos, o número de relacionamentos abertos aumentou de forma considerável. Especialistas afirmam que muitos fatores sociais e culturais levaram a uma maior adoção dos estilos de relacionamento não tradicionais. Além disso, a pandemia pode ter influenciado neste aumento.

Dedeker Winston tem relacionamentos não-monogâmicos há mais de uma década e nunca havia notado tanto interesse pelos relacionamentos abertos quanto agora. Em 2014, quando lançou seu podcast Multiamory, ela e seus coprodutores precisaram decidir se usariam seus verdadeiros nomes no programa sobre relacionamentos não-monogâmicos.

“Naquela época, havia apenas um ou dois outros podcasts que realmente abordavam este assunto”, afirma Winston, que é consultora de relacionamentos.

No entanto, as coisas mudaram, e em 2016, Winston notou uma “explosão de interesse sobre relacionamentos não monogâmicos”. “Foi quando percebi a maior mudança. De repente, muitas pessoas online estavam dispostas a falar sobre relacionamentos não-monogâmicos”, ela conta, “e expressar interesse nesse tipo de coisa”.

Sarah Levinson, psicóloga especializada em sexualidade e dinâmica dos relacionamentos da Creative Relating Psychology Psychotherapy, de Nova York, nos Estados Unidos, também notou o crescimento do interesse por relacionamentos abertos na última década. 

No entanto, mesmo que o interesse tenha aumentado, os especialistas estão divididos sobre qual pode ser a sua real abrangência no momento.

“Passes livres” e trocas

Foto: Getty Images/ BBC

De acordo com Levinson, existem muitas formas de relacionamentos não-monogâmicos. “Pode ser desde viver com diversos parceiros e compartilhar despesas até oferecer ‘passe livre’ para um caso uma vez por ano quando seu companheiro viaja, por exemplo, para um evento profissional em outro Estado.”

Os relacionamentos abertos são um tipo de relacionamento não-monogâmico. Eles são mais frequentemente associados a pessoas que têm um parceiro principal mas podem ter relacionamentos casuais com outras pessoas.

Além disso, os relacionamentos abertos são menos concentrados nas conexões emocionais com pessoas fora de um relacionamento principal, mas sim nas conexões sexuais.

Para alguns casais, isso significa sair em encontros casuais e ter relações com pessoas além de seus parceiros. Outros acreditam que o relacionamento aberto significa apenas “passes livres” ocasionais para ter uma noite ou uma rápida saída sexual. Já outros casais podem aceitar mais pessoas na relação, mas não podem sair para encontros separadamente.

Ainda de acordo com Winston, os relacionamentos abertos ainda incluem casais que permitem que o outro tenha relações sexuais com outras pessoas, mas não querem falar sobre essas experiências.

Entre a base de clientes de Winston (os ouvintes do seu podcast e os visitantes do seu website), a maioria das pessoas interessadas ou que participam de relacionamentos abertos tem entre 25 a 45 anos de idade.

Além disso, muitas delas identificam-se como queers, bissexuais e/ou pansexuais. No entanto, ela destaca que já atendeu clientes interessados ou que praticam relacionamentos abertos com idades que variam desde 19 até a casa dos 70 anos de idade.

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Foto: Getty Images

As tendências dos aplicativos de relacionamentos também ajudaram a destacar o aumento do interesse pelos relacionamentos abertos.

Surgiram diversas plataformas concentradas especificamente na não-monogamia. No entanto, até as mais tradicionais, como o OkCupid, viram um pico no interesse em relacionamentos abertos.

“Embora a maioria dos participantes do OkCupid busque relacionamentos monogâmicos, a quantidade de usuários buscando relacionamentos não monogâmicos aumentou em 7% em 2021”, afirmou à BBC um representante do OkCupid.

Já dados de 2022 do aplicativo de relacionamentos Hinge apontam que um em cada cinco usuários do app “consideraria” tentar um relacionamento aberto, enquanto um em cada 10 já teve esse tipo de relacionamento.

De acordo com a diretora de ciência do relacionamento do Hinge, Logan Ury, esse pode ser um efeito da pandemia, já que ela acredita que “foi a oportunidade perfeita para fazer uma pausa e pensar mais no que queremos”.

Wilson acrescenta que grande parte do recente interesse que ela viu nos relacionamentos abertos vem dos millennials, que simplesmente estão “questionando a forma como foram criados”.

Para Levinson, esta pode ser uma consequência da tendência geral para a abertura da mente. Isso teria aberto a porta para que as pessoas questionem seu próprios desejos. Quando “você continua escolhendo a monogamia e não está funcionando… você começa a ficar curioso sobre [se] existe outra forma”, explica Levinson.

Winston acrescenta que, ao lado da “explosão do interesse” por relacionamentos abertos, existe uma “explosão de criadores de conteúdo e pessoas escrevendo sobre isso na imprensa… em aplicativos, em encontros comunitários”. Isso significa que aumentou a acessibilidade de informações sobre relacionamentos não monogâmicos.

Mais fantasia do que realidade?

Foto: BBC World Service

“As pesquisas, incluindo as de opinião pública, indicam que a postura relativa à não-monogamia consensual, de forma geral, é principalmente negativa, embora pareça haver tendência mais positiva nos últimos anos”, afirma Justin Lehmiller, membro de pesquisa do Instituto Kinsey, nos Estados Unidos, e apresentador do podcast Sex and Psychology. Isso pode impedir as pessoas de adotar os relacionamentos abertos.

Na sua pesquisa sobre fantasias sexuais, Lehmiller concluiu que “a maioria das pessoas já fantasiou ser não-monogâmico de alguma forma, como participando de trocas de casais, abrindo seu relacionamento ou adotando o poliamor”. No entanto, ele acrescenta que “relativamente poucas pessoas estão praticando isso na vida real”.

Para Sarah Levinson, em parte, isso é consequência de uma percepção enraizada de que os relacionamentos abertos são geralmente “não saudáveis”. Ela acrescenta que muitos dos seus colegas terapeutas ainda consideram a “dupla” ou a “bolha do casal” como sendo “a única forma viável de ter uma conexão segura”. 

Além disso, crenças religiosas também podem impedir as pessoas de ingressar em relacionamentos abertos, assim como as normas culturais de certas comunidades.

Apesar disso, Dedeker Winston observa que as pessoas, particularmente millennials e da Geração Z, continuam se afastando de que apenas um parceiro pode atender a todas as suas necessidades.

Winston aponta o aumento do número de amigos platônicos que decidem viver e criar filhos juntos e a redução das taxas de casamento para indicar uma mudança social futura na forma em que as pessoas se dedicam aos relacionamentos.

No entanto, apesar de acreditar que haverá um aumento contínuo das “estruturas criativas de relacionamento”, Levinson discorda que elas serão um fenômeno global. Isso porque muitas sociedades ao redor do mundo impõem dificuldades para as pessoas que desejam ter relacionamentos abertos e o tabu segue presente.

Fonte: BBC

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