Com a morte do Papa Francisco no dia 21 de abril, além do luto e todos os ritos que se seguem na Igreja Católica, a antiga profecia dos Papas voltou a circular. De acordo com as interpretações populares da profecia, Francisco seria o 112º e último pontífice conforme a previsão de uma lista apocalíptica atribuída ao santo irlandês do século XII. Por conta disso, pessoas começaram a especular que a morte dele seria o marco do fim do papado ou até o começo de um evento global catastrófico.
Contudo, estudiosos ressaltam que a profecia dos Papas é cheia de inconsistências históricas e a autenticidade dela também é descreditada entre os especialistas.
A origem dela, supostamente, seria de São Malaquias, arcebispo de Armagh, na Irlanda, que viveu entre 1094 e 1148. Segundo a lenda, ele teria tido uma visão profética quando visitou Roma e nessa visão, São Malaquias previu uma lista de 112 papas. Cada um deles foi descrito com uma frase breve e enigmática.
Conforme o USA Today, o começo da lista é o papa Celestino II, eleito em 1143 e seu término é um último pontífice descrito como “Pedro, o Romano” que teria o pontificado como marco do Juízo Final e a destruição da “cidade das sete colinas”, provavelmente se referindo a Roma.
Entretanto, os historiadores e teólogos apontam que não existe nenhum registro contemporâneo dessa lista enquanto São Malaquias estava vivo. O surgimento dela aconteceu somente no século XVI, depois de mais de 400 anos da morte dele, e somente em 1595 ela foi publicada pela primeira vez por um monge beneditino.
Na visão de James Weiss, professor de história da Igreja no Boston College, a profecia dos Papas é uma falsificação criada, provavelmente, para apoiar a eleição de algum cardeal específico em um conclave da época.
Isso faz sentido já que as primeiras 75 frases da lista, sobre papas que já tinha vivido até o fim do século XVI, são extremamente precisas. Por isso que para Weiss isso prova que a lista foi escrita retroativamente tendo o conhecimento histórico como base. Depois delas as descrições são genéricas, vagas ou nem são compatíveis com os papas que vieram.
Aventuras na história
De acordo com a profecia dos Papas, o suposto último papa, “Pedro, o Romano”, tem sua descrição mais comentada. No trecho é mencionado um juiz terrível e a destruição da cidade das sete colinas. O tom é sombrio, mas Weiss pontua que ela pode não ter nada de apocalíptica e pode fazer referência somente ao julgamento de um líder e não ao fim do mundo.
Essa profecia dos Papas também chamou muita atenção por conta do documentário “O Último Papa?”, do History Channel, e mais produções midiáticas. Na visão de John Hogue, que participou da produção, a lista é autêntica e ele destaca várias coincidências impressionantes, como por exemplo a descrição “do trabalho do sol” para o papa João Paulo II.
E as pessoas acreditam que Francisco realmente foi o 112º papa porque incluem na contagem os antipapas, que são líderes não reconhecidos oficialmente pela igreja e que reivindicaram o trono de Pedro durante épocas de cisma.
Ao todo, existem mais de 260 papas na história, mas levando em consideração somente os líderes desde Celestino II o número é mais perto da lista de São Malaquias.
Para Joëlle Rollo-Koster, professora e especialista em história medieval e editora-chefe da Cambridge History of the Papacy, o fascínio pela profecia dos Papas e quaisquer outras mostra mais a respeito do medo humano da incerteza do que sobre a previsão em si. Ela também pontua que na época em que as pessoas acreditavam cegamente nas previsões, as pessoas tinham pouco controle sobre suas vidas e mortes.
Além disso, contrariando a profecia dos Papas, um novo conclave começou nessa quarta-feira, 7 de maio, para eleger o próximo pontífice da Igreja Católica.
Fonte: Aventuras na história
Imagens: Aventuras na história