Veneno de marimbondo brasileiro pode combater câncer

Avatar for Mayara MarquesMayara MarquesSaúdesetembro 17, 2024

O veneno de marimbondo é uma das coisas mais dolorosas que podemos sentir, quando atacados pessoalmente por esses insetos poderosos. Uma picada pode causar mais estrago do que muitas outras espécies por aí.

No entanto, nem tudo é prejudicial. Um grupo internacional de pesquisadores fez uma descoberta que pode contribuir para o aprimoramento dos tratamentos contra o câncer usando esse estranho componente.

A equipe, que inclui cientistas da Universidade de Brasília (UnB), identificou uma molécula presente no veneno de marimbondo Chartergellus communis, nativo do cerrado, com potencial para combater tumores.

Nos testes laboratoriais, os pesquisadores constataram que o peptídeo Chartergellus-CP1, extraído do veneno, demonstrou eficácia na eliminação de células cancerígenas, tanto em casos de câncer de mama quanto no melanoma, a forma mais agressiva de câncer de pele.

Via Flickr

As respostas contra duas linhagens de células de câncer de mama — HR+ e triplo-negativo — foram testadas com sucesso. De acordo com os pesquisadores, a molécula “pode representar uma nova estratégia terapêutica para o tratamento do melanoma”.

O próximo passo será realizar novos estudos para avaliar os efeitos do veneno em células não tumorais e investigar seu potencial terapêutico contra outros tipos de câncer. Os ensaios clínicos em humanos ainda não têm data prevista para ocorrer.

Os resultados da pesquisa foram publicados na revista Biochimie.

Espécies mais perigosas

Curiosamente, o veneno do marimbondo Chartergellus communis não está entre os mais perigosos, apesar de seu potencial para matar células cancerígenas.

Na verdade, a maioria das espécies não são de fato agressivas, e representam um risco maior somente para os alérgicos. Contudo, para se defender, suas picadas podem ser doloridas.

É o caso da vespa gigante asiática ou “vespa assassina”, que é a maior espécie de vespa do mundo, com um ferrão extremamente doloroso. Seu veneno é altamente tóxico e pode causar falência de órgãos em casos extremos. Picadas múltiplas podem ser fatais.

Além disso, a vespa-europeia também é uma das mais perigosas, mas ela vive somente na Europa e América do Norte. O que é bom, pois sua picada é dolorosa e seu comportamento pode ser um dos mais agressivos, picando sem parar.

As espécies da Ásia e África também se destacam na questão de agressividade, apesar de ter um veneno menos tóxico do que outras semelhantes.

Espécies mais comuns, como a vulgaris (vespa-comum), costumam apenas defender seu ninho, e não atacam sem motivo, agindo mais perto do verão, quando as colônias estão amiores.

Na prática, as espécies que existem no Brasil não estão entre as piores do mundo. Isso é uma notícia empolgante, pois as espécies que temos não são agressivas o suficiente para matar, enquanto o veneno de marimbondo pode até mesmo curar doenças.

Via Wikimedia

Potencial terapêutico em perigo

Por outro lado, apesar das boas notícias com o veneno de marimbondo, existem situações ainda mais alarmantes para nos preocuparmos.

Os venenos de insetos e animais peçonhentos sempre foram objeto de grande interesse por parte da ciência, devido ao vasto potencial medicinal que essas substâncias apresentam.

Ao longo dos anos, diversos exemplos de compostos com propriedades terapêuticas, como efeitos antimicrobianos, anti-inflamatórios e antitumorais, foram descobertos.

No caso específico do veneno do marimbondo, há uma rica variedade de compostos com essas atividades biológicas.

O que torna o novo estudo particularmente inovador é o fato de que a espécie de marimbondo Chartergellus communis, nativa do cerrado, ter uma participação pequena até então, ao menos nos estudos da comunidade científica.

A pesquisa não só traz à tona descobertas importantes sobre o potencial medicinal de seu veneno, mas também reforça a urgência de conservar a biodiversidade brasileira.

Os próprios pesquisadores destacam que o cerrado, habitat desse inseto, é um dos biomas mais ameaçados e devastados do país, o que torna a preservação da fauna e flora locais ainda mais crucial para futuras descobertas científicas.

Ou seja, com os danos ambientais, não existirão mais espécies para estudar e, quem sabe, conseguir atingir a cura para doenças tão graves quanto o câncer.

 

Fonte: Olhar Digital

Imagens: Wikimedia, Flickr

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