De acordo com um estudo recente, publicado na revista Nature, nós estamos vivendo a maior degradação da natureza desde a extinção dos dinossauros. “Esse quadro é desastroso tanto para a natureza quanto para a gente, porque a humanidade é completamente dependente do sistema de suporte da biosfera do planeta e das múltiplas contribuições que a natureza provê, desde polinização até um clima que evita deslizamentos, pragas, pandemias”, afirma Bernardo Strassburg, pesquisador da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
Para Bernardo, que também é diretor-executivo do Instituto Internacional para a Sustentabilidade, o atual cenário no qual estamos inseridos é verdadeiramente preocupante. Isso porque estamos presenciando um nível de degradação nunca antes visto. Para se ter uma ideia, a degradação da natureza e de espécies em extinção é o maior desde a última extinção em massa, que foi a dos dinossauros.
Ainda é possível ter algum tipo de esperança?
De acordo com o próprio pesquisador, ainda que o nível de degradação da natureza seja assustador, ainda nos esperança. Desse modo, em seu estudo, para Bernardo e outros pesquisadores é possível não apenas reverter essa curva de crescimento, mas também, melhorar a condição da natureza. “Nos perguntamos se seria possível sermos a primeira geração humana a deixar uma condição da natureza melhor do que encontramos, e concluímos que, sim, é possível”, afirma Bernardo.
E claro, vale lembrar que o estudo se baseou em modelos realistas de sustentabilidade. “Sabemos que não adianta só ficar dizendo ‘tem que parar de desmatar tudo, restaurar o planeta inteiro….’, pois a população humana também vai crescer, vamos precisar aumentar a produção agrícola, entre outros”, afirma o especialista.
Dessa forma, a ideia é lidar com o padrão de consumo e o crescimento populacional, mas também, seguir um plano de restauração e prevenção. “Mas identificamos que não há um conflito entre os planos ambiciosos de conservação e restauração e as metas de produção de alimentos. Partindo disso, exploramos quais mudanças realistas podemos fazer nas nossas economias para reduzir a perda acelerada de natureza e das espécies”, aponta Strassburg.
Caminhos para lidarmos com a atual da degradação da biodiversidade
Em seu artigo, Bernardo explica que tais mudanças não seriam benéficas apenas para os biomas, mas para todos que compartilham do mesmo planeta. “E o bom é que aí a gente beneficia não só a natureza, mas também melhora todas as outras crises, até a própria crise climática — 30% de tudo o que a gente precisa fazer para combater as mudanças climáticas são as chamadas soluções baseadas na natureza”, afirma Bernardo em entrevista à Revista Galileu.
Nos caminhos para a reversão do atual quadro de degradação da natureza, Bernardo também aponta algumas possíveis iniciativas. “A principal delas, que investigamos bastante no artigo, é a restauração das áreas perdidas. E isso tem um potencial gigantesco de sequestrar carbono da atmosfera, de reciclar água dos rios, entre outros. Então, se por um lado o estado e a tendência atuais são extremamente negativos, por outro uma virada é factível”, afirma o pesquisador. De toda maneira, esta não será uma tarefa fácil. Será necessário se adaptar, mudar hábitos e a forma como entendemos o consumo.