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Afantasia, a condição classificada como olho da mente cego

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Niel Kenmuir, de 44 anos, sofre de afantasia, uma condição caracterizada pela incapacidade de visualizar imagens mentalmente. Kenmuir percebeu que seu cérebro agia de forma diferente quando estava no primário. Na época, como tinha problemas para dormir, seu padrasto pedia para fechar os olhos e, assim, visualizar um rebanho de ovelhas pulando a cerca para, em seguida, contá-las, uma por uma.

Foi exatamente nesse momento que Kenmuir descobriu que não conseguia imaginar nem essa ou qualquer outro tipo de imagem quando fechava os olhos. “Eu sou uma das pessoas que nunca conseguiu ‘contar ovelhas’ para dormir. Quando descobri que não conseguia imaginar nada, presumi que as pessoas faziam isso no sentido figurado”, disse Kenmuir à Universidade de Exeter.

“Quando eu tentava, me deparava com uma escuridão. Depois que cresci e aceitei essa realidade, comecei a procurar informações na internet sobre minha condição. Mas, até então, não encontrava nada. Felizmente, o cenário mudou quando a ciência descobriu que existem outras pessoas que vivem a mesma situação”.

Olho da mente cego

Pessoas que sofrem de afantasia nascem com o chamado “olho da mente cego”. A condição, na prática, ocorre devido a falhas em certas áreas do cérebro, que são responsáveis pela geração de imagens a partir da memória.

O conceito foi definido em 1880, pelo pesquisador Francis Galton. De acordo com uma pesquisa realizada no século 20, a afantasia, que ainda não teve todas as causas desvendadas, afeta cerca de 2,5% da população mundial.

Em 2015, em uma entrevista concedida ao jornal britânico Daily Mail, o pesquisador Adam Zeman, professor de Neurologia Cognitiva e Comportamental da Universidade de Exeter, explicou que a afantasia revelou uma dissociação entre a formação de imagens voluntária, ausente ou muito reduzida nas pessoas que sofrem com a condição, e a involuntária, presente nos sonhos, por exemplo, que é preservada.

“A maioria dos nossos participantes conheceu a visualização por meio dos sonhos”, afirmou Zeman.

Consequências

A vida de todos aqueles que vivem com a condição, de uma forma ou de outra, sofre distintos impactos, já que esses indivíduos são impossibilitados de visualizar memórias afetivas importantes ou até mesmo de lembrar do rosto de entes queridos que já se foram.

Kenmuir, por exemplo, trabalha em uma livraria em Lancaster, no Reino Unido. O sujeito adora ler, mas, geralmente, evita livros com descrições de paisagens e/ou personagens vívidos, pois, com a mente de olho cego, essas descrições não, infelizmente, não fazem nenhum sentido.

“Eu simplesmente leio as passagens, mas nenhuma imagem se forma em minha mente. Normalmente, até tento ler a mesma passagem mais de uma vez, no entanto, é em vão”, explica Kenmuir.

“A situação mais difícil, ao meu ver, é quando você tenta pensar em uma pessoa especial, como por exemplo, sua namorada, noiva ou esposa, e no final nenhuma imagem, lhe vem a cabeça”, ressalta.

A condição, como dissemos, impede a formação de imagens, no entanto, felizmente, não afeta a memória. De acordo com o neurologista Marcio Balthazar, membro do departamento científico de neurologia cognitiva da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), a afantasia não interfere na memória em si porque as demais informações permanecem intactas na mente.

“É possível que a pessoa, mesmo sem evocar voluntariamente, reconheça um rosto em fotografias, por exemplo”, diz Balthazar.

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