Em um dia ensolarado, durante o inverno de 2016, o biólogo marinho Yoshihiro Fujiwara estava ancorado em Suruga, a baía mais profunda do Japão, mensurando enguias que haviam acabado de ser coletadas. O pacato dia de pesquisa seguia, normalmente, quando um repentino tumulto interrompeu a tranquilidade que reinava nas águas locais.
A calma só se instaurou novamente quando o biólogo marinho e os tripulantes da embarcação Shonan Maru descobriram que a tormenta atividade na área havia sido ocasionada pela presença de um monstruoso peixe. “Uau! Temos um celacanto!” brincou um dos membros da tripulação enquanto içavam um lendário espécime encontrado apenas na África e na Indonésia.
O espécime
Ao se deparar com o espécime, Fujiwara, cuja especialidade são as comunidades de “queda das baleias” – os ricos ecossistemas que se fortalecem ao se alimentar de carcaças de baleias – ficou estupefato. “Foi emocionante”, disse ele à CBS News. “Foi realmente incrível”.
E realmente deve ter sido fantástico, afinal, pesquisadores vêm estudando a taxonomia destes espécimes desde o século XIX – mas sempre com base em livros de referência. Até então, o peixe nunca havia sido capturado, mesmo em Suruga, um local onde a pesca é permitida.
Fujiwara e a equipe da Agência Japonesa de Ciência e Tecnologia Marinha da Terra (JAMSTEC), após consultarem especialistas ao redor do mundo, concluíram que a criatura pode, de fato, ser classificada como uma descoberta genuína.
No mesmo ano, mais três espécimes foram fisgadas. Em suma, todos foram rapidamente preservados em formaldeído e, posteriormente, congelados serem utilizados em estudos de laboratório.
Pesquisas
Dissecções, tomografias computadorizadas e outras análises inseriram o espécime dentro na família alepocefálida, formada por peixes que não possuem escamas na cabeça e têm ausência de coberturas branquiais.
Ao contrário de seus parentes próximos, que têm, em média, apenas 35 centímetros de comprimento, o peixe, encontrado pelo biólogo, tinha 55 centímetros de comprimento e pesava 55 quilos – características de uma criança pequena.
Na época, Fujiwara e sua equipe nomearam a nova espécie de “Yokozuna slickhead”, em homenagem a umas das classificações impostas no sumô. “Eu não conseguia acreditar quando fiquei a par dos acontecimentos”, disse o biólogo, Jan Yde Poulsen, pesquisador associado do Australian Museum e autoridade em slickheads – à CBS News de sua estadia na Dinamarca.
Poulsen, que foi co-autor de um artigo em janeiro com a equipe JAMSTEC sobre o Yokozuna slickhead, ficou estático quando recebeu uma foto do espécime que havia sido feita pela equipe de Fujiwara.
“É uma foto muito granulada, mas mesmo assim se vê bem”, disse ele. “Independente da qualidade do registro, o fato segue sendo surpreendente, até porque a nova espécie é simplesmente fantástica”.
Yokozuna slickhead
O exame de DNA realizado a partir do conteúdo que ainda estava no estômago do peixe identificou outros peixes como base principal de sua dieta. Ao contrário das outras 100 espécies que fazem parte da família alepocefálida, o Yokozuna slickhead, de acordo com os pesquisadores, é um nadador vigoroso, possivelmente capaz de cobrir longas distâncias.
A boca do peixe em questão abriga várias fileiras de dentes, evocando, assim, a aparência de um monstro extraterrestre. Os atributos físicos, considerados com base em uma análise bioquímica, o denomina como um predador de vértice – cuja versão pode ser comparada a uma baleia assassina.
“Basicamente, é raro ver um predador assim”, disse Fujiwara.
O peixe foi descoberto em 2016, mas somente agora as pesquisas sobre o animal passaram a ser publicadas.
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