Análises genéticas de um fóssil de neandertal isolado encontrado na França revelaram que ele fazia parte de um grupo isolado há mais de 50 mil anos.
Batizado de Thorin, em referência a um personagem de “O Hobbit”, o fóssil foi descoberto em 2015 na caverna Grotte Mandrin, no sul do país.
Curiosamente, antes dos neandertais, o Homo sapiens já havia ocupado o local, onde se encontrou a primeira evidência do uso de arco e flecha na Europa.
Após anos de escavações, os arqueólogos recuperaram 31 dentes, o maxilar, parte do crânio e milhares de fragmentos ósseos de Thorin. A descoberta foi notável, considerando a raridade de fósseis de Neandertais, que habitaram a Eurásia até cerca de 40 mil anos atrás.
O que mais intrigou os cientistas foi a extração do genoma de Thorin a partir de um fragmento dentário, algo incomum em climas mais quentes.
Com o genoma em mãos, os pesquisadores confirmaram que Thorin era um Neandertal do sexo masculino, mas essa descoberta trouxe consigo um mistério que permaneceu por nove anos.
Mistério do neandertal isolado
Ludovic Slimak, arqueólogo do Centro de Antropobiologia e Genômica de Toulouse, assumiu a missão de desvendar a origem do fóssil. Inicialmente, ele e sua equipe estimavam que Thorin teria vivido há aproximadamente 105 mil anos.
Por muito tempo, os geneticistas acreditavam que THorin, o neandertal isolado, era um dos primeiros devido à sua linhagem genética, que era muito distante da de seus contemporâneos na mesma região.
Por outro lado, os arqueólogos argumentavam que o fóssil pertencia a um dos últimos Neandertais. Isso exigiu um grande esforço de ambas as partes para encontrar a resposta, explicou Tharsika Vimala, coautora do estudo.
Contudo, um estudo publicado por Slimak na última quarta-feira (11) revelou que, após análises de isótopos dos ossos e de evidências arqueológicas, o Neandertal viveu há cerca de 50 mil anos.
Os pesquisadores eventualmente perceberam que haviam descoberto uma linhagem até então desconhecida de Neandertais.
O que se sabe
Thorin pertencia a um pequeno grupo que viveu entre 42 mil e 50 mil anos atrás. Esse grupo se separou da população principal cerca de 105 mil anos antes e permaneceu geneticamente isolado por mais 50 mil anos.
Essa descoberta coloca Thorin como um “Neandertal tardio”, que viveu durante os últimos momentos da existência de sua espécie.
O isolamento prolongado de seu grupo, ou a reprodução entre parentes, o tornava especialmente vulnerável. Segundo Vimala, esses fatores “reduzem a diversidade genética, o que, por sua vez, afeta negativamente a nossa capacidade de adaptação a mudanças no ambiente”.
Por esse motivo, o Neandertal foi chamado de Thorin. Assim como o personagem, este Neandertal também simboliza o fim de sua linha genética.
Thorin
Thorin Escudo de Carvalho é um personagem central da obra O Hobbit, escrita por J.R.R. Tolkien. Ele é um anão de linhagem nobre, sendo o herdeiro legítimo do trono de Erebor, o reino dos anões sob a Montanha Solitária.
Thorin é descrito como corajoso, determinado e de personalidade forte, mas também orgulhoso e, às vezes, teimoso. Ele carrega o título “Escudo de Carvalho” por ter utilizado um pedaço de madeira como escudo em uma batalha em sua juventude.
Na trama de O Hobbit, Thorin lidera a Companhia de Anões, composta por outros 12 membros, na missão de recuperar Erebor e seu tesouro, que foram tomados pelo dragão Smaug.
Ele recruta Bilbo Bolseiro, um hobbit aparentemente inofensivo, para ser o “ladrão” da companhia e ajudá-los a entrar na montanha. Apesar de desconfiar inicialmente de Bilbo, Thorin acaba reconhecendo o valor do hobbit ao longo da aventura.
No entanto, uma das características marcantes de Thorin é sua crescente obsessão pelo tesouro de Erebor, especialmente pela joia Arkenstone, um símbolo de sua linhagem real.
Essa cobiça, conhecida como “doença do dragão”, causa uma transformação negativa em sua personalidade, tornando-o desconfiado e ganancioso, prejudicando suas relações com seus companheiros e aliados.
Thorin encontra seu destino na Batalha dos Cinco Exércitos, onde, apesar de sua bravura, sofre um ferimento mortal. Antes de morrer, ele se reconcilia com Bilbo, reconhecendo seus erros e mostrando humildade ao reconhecer que a amizade e a paz são mais valiosas do que o ouro.
No contexto da obra, Thorin simboliza a luta entre a honra, o dever e os perigos da ganância. Ele se tornou a homenagem do neandertal isolado por ser o último de sua linhagem, além da perseverança.