Nós, humanos modernos, carregamos genes de Neandertais em nosso DNA. Embora a ciência já soubesse dessa informação, o local exato onde Homo sapiens e Homo neanderthalensis se encontraram pela primeira vez ainda era desconhecido. Até agora.
Um estudo publicado este mês na revista Nature utilizou dados genéticos, arqueológicos, topográficos e ecológicos para identificar o local onde essas espécies se cruzaram – e, ao mesmo tempo, levantar novas questões sobre nossa relação com esses antigos ancestrais.
A ciência já havia comprovado que Homo sapiens e Neandertais se encontraram em algum momento da história. Por exemplo, o Olhar Digital relatou que os cruzamentos entre essas espécies começaram há aproximadamente 47 mil anos.
Esses encontros teriam ocorrido quando os humanos modernos deixaram a África e encontraram outros grupos. A pesquisa deste mês apontou com maior precisão o local: a Cordilheira de Zagros, situada na atual fronteira entre Irã e Iraque.
De acordo com o arqueólogo Saman Guran, da Universidade de Colônia (Alemanha) e líder do estudo, a hipótese é que essa cordilheira tenha funcionado como um corredor natural para as duas espécies, com Homo sapiens se deslocando para o norte e Homo neanderthalensis para o sul.
Como descobriram o DNA dos neandertais
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores combinaram dados genéticos, arqueológicos, topográficos e ecológicos de forma integrada:
A equipe estudou a Caverna Shanidar, onde foram encontrados restos mortais de 10 Neandertais. Evidências arqueológicas já indicavam que a espécie ancestral dos humanos modernos migrou para a Ásia pelo sudoeste, entre 120 e 80 mil anos atrás, período que coincide com uma das ondas de cruzamentos entre as duas espécies.
Além disso, os dados mostraram que a Cordilheira de Zagros oferecia condições ideais para a coexistência de Homo sapiens e Neandertais, com uma mistura de habitats frios, favorecendo os Neandertais, e quentes, adequados aos humanos modernos, além de uma diversidade de recursos para abrigo.
Segundo o arqueólogo Saman Guran, regiões de fronteira, como a Cordilheira de Zagros, têm um papel crucial na biologia, pois funcionam como refúgios para espécies em períodos glaciais.
Por fim, os pesquisadores identificaram semelhanças nas características faciais de Neandertais e Homo sapiens da região, reforçando a hipótese de interações entre os dois grupos.
Além de finalmente determinar o local onde Homo sapiens e Neandertais se encontraram pela primeira vez e iniciaram os cruzamentos amplamente estudados pela ciência, o estudo levanta uma questão intrigante: se encontramos DNA Neandertal nos humanos modernos, por que não encontramos DNA de Homo sapiens nos Neandertais?
A pesquisa sugere algumas hipóteses. Pode ser que haja uma escassez de amostras de DNA dos Neandertais para análise ou que as trocas genéticas bem-sucedidas entre as espécies tenham sido raras nesse caso.
Guran e sua equipe incentivam os arqueólogos iranianos a continuarem investigando a região, com o objetivo de obter mais respostas sobre as interações entre humanos e nossos antepassados.
Quais as diferenças?
Muitos podem achar que Homo spaiens e os neandertais não eram tão diferentes assim. No entanto, a espécie que dominou e evoluiu para a sociedade de hoje traz muitos pontos relevantes em comparação ao Homo neanderthalensis.
Para começar, nossa anatomia mudou, permitindo características de sobrevivência, como corpo mais esguio, crânio alto e arredondado, e uma testa mais proeminente.
Enquanto isso, a aparência dos neandertais era mais robusta, com muitos pelos, ossos densos e adaptados para climas frios. A testa baixa e nariz largo eram características proeminentes.
Além disso, o Homo sapiens tem um volume cerebral é ligeiramente menor, mas a organização permitiu maior capacidade cognitiva e comunicação complexa. Embora os neandertais tivessem um cérebro ligeiramente maior em volume, a organização era diferente. Isso pode ter impactado suas capacidades cognitivas e sociais.
Em questão de comportamento, conseguimos desenvolver ferramentas mais sofisticadas, como lâminas e instrumentos de osso. Também tivemos uma maior inovação tecnológica, como uso de agulhas para costura, produção de arte, ornamentos e sepultamento ritual.
No embate com os neandertais, conseguimos a predominância justamente por eles usarem aparatos mais simples e pouco eficientes.
Contudo, o DNA dos neandertais ainda prevaleceu em alguns pontos, como linguagem simbólica, apesar de mais complexa. Foi isso que facilitou a cooperação e a transmissão cultural entre povos.
Pouco se sabe sobre como eles conversavam, provavelmente com uma língua própria, porém com mais gestos e mais rudimentar.
Localização
Os Homo sapiens surgiram na África e migraram para várias partes do mundo, colonizando praticamente todos os continentes. Enquanto isso, o Homo neanderthalensis estava principalmente na Europa e a Ásia ocidental, em áreas de clima frio e temperado.
Por isso, a sobrevivência foi diferente, visto que formamos sociedades complexas com adaptação dependendo do ambiente. Os neandertais se extinguiram cerca de 40 mil anos atrás, possivelmente devido a mudanças climáticas.
Porém, a porcentagem de DNA com Neandertais, especialmente em populações não africanas, indica cruzamentos. Assim, não apenas lutamos contra essa espécie, mas também nos relacionamos com as últimas evoluições, usando certos traços para sobreviver, mas predominando.
Fonte: Olhar Digital
Imagens: Wikimedia, World History