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Material de bomba atômica foi encontrado nas profundezas do oceano, entenda

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Em 29 de agosto de 1949, os soviéticos testaram seu primeiro artefato nuclear, mais conhecido como “Joe 1”. Eles arremessaram-no nas estepes remotas do Ocidente. Nos anos subsequentes, houve mais de 80 testes do gênero. Para você ter uma ideia, apenas em 1958, os soviéticos testaram 36 bombas. As consequências de tantos experimentos mortais podem ser encontradas nas trincheiras oceânicas, de acordo com novo estudo fomentado pela Geophysical Research Letters. Vestígio de material de bomba atômica foi encontrado nas profundezas do oceano, mais precisamente na Fossa das Marianas. Essa é a primeira evidência de vestígios nucleares abrigando o ponto oceânico mais profundo.

Além desta descoberta, foi possível perceber que organismos na superfície marítima incorporaram esse “carbono-bomba” nas moléculas que compõem seus corpos. Assim sendo, alguns crustáceos nas trincheiras do oceano estão se alimentando de matéria orgânica desses organismos quando eles caem nas profundezas.

Evidências

O carbono-14 é naturalmente criado quando os raios cósmicos interagem com o nitrogênio na atmosfera. Testes de armas termonucleares, realizados durante as décadas de 1950 e 1960, dobraram a sua quantidade na atmosfera. Mesmo sendo menos abundante que o carbono não-radioativo, os cientistas podem detectá-lo em quase todos os organismos vivos. Além disso, também conseguem usá-lo para determinar as idades das amostras arqueológicas e geológicas.

Em 1960, os níveis dessa “bomba de carbono” atingiram o pico e caíram logo após a interrupção dos testes nucleares atmosféricos. Organismos marinhos, nas décadas subsequentes, acabaram usando-no para construir moléculas dentro de suas células. Consequentemente, os níveis radioativos sofreram elevação.

“Há uma interação muito forte entre a superfície e o fundo, em termos de sistemas biológicos, e as atividades humanas podem afetar os biossistemas até 11 mil metros. Por isso, precisamos ter cuidado com nossos futuros comportamentos”, disse o coautor do estudo, Weidong Sun, geoquímico. “Não é esperado, mas é compreensível, porque é controlado pela cadeia alimentar”.

É tudo uma questão de adaptação

As novas descobertas permitem que os pesquisadores entendam melhor a longevidade de organismos presentes nas trincheiras. Além disso, também é possível compreender os processos adaptativos ligados a esse ambiente único.

Curiosamente, os pesquisadores descobriram uma questão bastante interessante. Segundo os dados analisados, os anfípodes que vivem nestas trincheiras crescem e vivem mais do que os seus homólogos em águas mais rasas. Foi possível encontrar anfípodes nas trincheiras profundas que tinham mais de 10 anos e cresceram até 91 milímetros de comprimento.

Inclusive, o tamanho e a vida longa dos anfípodes provavelmente são subprodutos de suas evoluções. Os cientistas suspeitam que os animais tenham metabolismo lento e baixa reversão celular, o que lhes permitem armazenar energia por longos períodos de tempo.

“Além do fato de que o material vem principalmente da superfície, a bioacumulação relacionada à idade também aumenta essas concentrações de poluentes, trazendo mais ameaça a esses ecossistemas mais remotos”, disse o autor do estudo, Ning Wang, geoquímico da Academia Chinesa de Ciências em Guangzhou.

O que é novidade?

Rose Cory é professora associada de Ciências da Terra e do Meio Ambiente na Universidade de Michigan. Não esteve envolvida no estudo, mas tem considerações a fazer. De acordo com a professora, as análises mostram que todas as partes do planeta são afetadas pelo comportamento da humanidade. Tudo isso porque o material de bomba atômica foi encontrado nas profundezas do oceano.

“O que é realmente novo aqui não é apenas que o carbono da superfície marítima pode atingir o oceano profundo em escalas de tempo relativamente curtas. O carbono ‘jovem’ produzido na superfície do oceano alimenta ou sustenta a vida nas trincheiras mais profundas”, afirma Cory.

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