Curiosidades

Os “anjos” que salvaram vidas em ponte dos EUA

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Nos Estados Unidos existe um grupo, apelidado como anjos, que tenta impedir as pessoas de pularem de pontes.

“Nenhuma pessoa que vem à ponte para pular quer morrer. Elas só querem saber que alguém se importa”, afirma Kevin Hines, que tentou dar fim à sua vida saltando da Golden Gate, em São Francisco, nos Estados Unidos, em setembro de 2000.

Mesmo que muitas pessoas tenham o visto na ponte, ninguém notou que Hines estava angustiado ou perguntou se alguma coisa estava errada. Apesar dele pular, o homem sobreviveu à queda de 75 metros nas águas frias do Pacífico. Porém, de acordo com dados oficiais, mais de 1,7 mil pessoas morreram ao pular desse local desde que foi inaugurado, em maio de 1937.

A Bridgewatch Angels (anjos da brigada da ponte) se dedica a encontrar potenciais suicidas que vão até a ponte com o objetivo de salvar as suas vidas escutando os que eles têm a dizer. Para fins comparativos, é apresentado que no ano de 2018, 214 pessoas tentaram pular e apenas 27 de fato pularam, o que mostra o sucesso desse trabalho voluntário, realizado em conjunto com a polícia.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima-se que ocorram 800 mil suicídios no mundo por ano. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), a principal agência de saúde pública dos Estados Unidos, acrescenta que o suicídio é a segunda maior causa de morte entre os americanos com idades entre 10 e 34 anos.

Além disso, dados da Save, uma organização americana de conscientização e prevenção de suicídio, apontam que 90% das pessoas que morrem por suicídio têm algum problema de saúde mental. Outro fator é o consumo de substâncias químicas de forma abusiva no momento da morte.

O trabalho da Bridgewatch Angels

Foto: Bridgewatch Angels / BBC News Brasil

Mesmo que a depressão seja um problema de saúde mental tratável, o suicídio costuma ser considerado um ato impulsivo. Por isso, os anjos da ponte tentam impedir que o suicídio, que é uma forma de interromper a possibilidade de recuperação de uma pessoa.

Embora more na região, a policial Mia Munayer não conhecia esse lado da ponte Golden Gate. Ela só descobriu em 2010, ao assistir o documentário The Bridge.

“Tinha que fazer algo para ajudar a impedir que mais pessoas morressem”, afirma ela, que fundou então a Bridgewatch Angels, em 2011. Desde então, os voluntários percorrem a ponte em datas comemorativas, como Natal, e são treinados para conversar com qualquer pessoa que acreditem estar em perigo.

Munayer investiu mais de US$ 10 mil (R$ 41,5 mil) do próprio bolso para financiar as campanhas. Nelas são realizados seminários para pessoas interessadas em auxiliar a ponte em épocas comemorativas.

A polícia ensina os voluntários a lidar com aqueles que parecem estar isolados e angustiados, assim como aprendem a notar os sinais de alerta. As perguntas podem ser iniciadas com um “você está bem?”.

“Conversamos com as pessoas. Mostramos que não estão sozinhas. Nós ouvimos. Às vezes, essa é a melhor resposta. Mas é importante tentar não tocar nos assuntos sensíveis e apenas mantê-las conversando”, conta Munayer.

O guardião da ponte

Foto: Ascend Books / BBC News Brasil

Kevin Briggs, sargento aposentado, faz trabalho similar. Por cerca de 20 anos, a ponte Golden Gate fez parte da sua patrulha diária e com isso ele se envolveu com a causa. O primeiro contato que teve com um suicidas foi em 1994.

“Na época, os policiais não tinham treinamento formal para lidar com essas situações. Fiquei aterrorizado quando vi uma jovem subindo no beiral”, conta Briggs.

Após isso, ele começou a ler sobre como lidar com suicidas. “Foi uma boa ideia, porque, por quase 20 anos, tive de lidar com essas situações com muita frequência.”

“Às vezes, eu me questionava sobre as pessoas que salvei, como se fosse uma pesquisa. ‘O que eu disse de bom? O que eu disse ou fiz de ruim?'”, afirma.

Ele foi apelidado como o guardião da Golden Bate por ter convencido 200 pessoas a não pular da ponte, fracassando apenas em dois momentos. “Você costuma se lembrar mais das pessoas com quem falhou do que daquelas que ajudou”, conta. Por causa disso, ele desenvolveu um distúrbio de estresse pós-traumático.

O ex-policial ficou famoso em 2005, após ser documentado ele resgatando Kevin Berthia, de 22 anos, que enfrentava depressão e tinha uma dívida de US$ 250 mil, por causa do tratamento da filha prematura. Briggs afirma que após 90 minutos de conversa, o homem desistiu de pular. Oito anos depois, Berthia entregou a Briggs um prêmio da Fundação Americana para Prevenção do Suicídio.

Depois de anos de discussão, em 2018 começou a construção de uma rede de seis metros de largura, localizada seis metros abaixo da ponte. De acordo com informações, a proteção custou US$ 200 milhões.

O suicídio na ponte

Foto: Bridgewatch Angels

Para Munayer, iniciativas como o documentário “The Bridge” confrontam o que ela chama de mitos do suicídio. “Às vezes, o simples ato de iniciar uma conversa casual pode ser suficiente para dissuadir alguém de tirar a própria vida. Então, por que não deveríamos debater essa questão mais abertamente na sociedade?”

Raro os casos das pessoas que saltam e sobrevivem para contar a sobrevivência. De acordo com dados oficiais, pular da ponte Golden Gate, e atingir a água a quase 140 km/h, representa uma taxa de mortalidade de mais de 95%.

Os poucos sobreviventes relatam ter se arrependido da decisão logo após pular. “Essa ponte é uma mensageira da morte”, afirmou Kevin Hines, que pulou em agosto de 2000, para a emissora CNN.

“Eu não teria feito isso se alguém tivesse me abordado. Eu estava chorando e desorientado. Ninguém parou para perguntar o que estava errado. Finalmente, uma turista me parou. Ela queria uma foto sua. Concordei, e cinco cliques depois, eu ainda estava chorando, e ela foi embora. Eu sabia que ninguém se importava. Dei um passo para trás e me joguei.”

Hines, agora é um ativista em questões de saúde mental e prevenção de suicídios. “Se você vê alguém sofrendo, é seu dever se envolver e tentar fazer a pessoa se abrir e compartilhar o que está acontecendo em sua mente. Você pode ser um agente de mudança.”

Além disso, o Centro de Valorização da Vida (CVV) possui serviços de apoio emocional e prevenção de suicídio, gratuitamente e 24 horas por dia. As ligações podem ser realizadas pelo número 188. Também pode acessar www.cvv.org.br para chat, Skype, e-mail e outras informações sobre a ligação.

Fonte: BBC

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