Aquela picada incômoda ou a quantidade de bichinhos ao redor da luz da cozinha já fez muitas pessoas pensarem se os insetos noturnos são mais comuns.
Embora existam muitos artigos sobre a atividade dos insetos no período noturno, uma pesquisa divulgada pela Revista Galileu decidiu responder essa dúvida com uma revisão da literatura científica.
Por meio de estudos que comparassem a atividade dos insetos durante o dia e à noite, conseguiram encontrar cerca de 100 estudos que realizaram esse trabalho de campo desafiador e rigoroso.
A análise confirma que, de fato, há mais insetos noturnos que diurnos. Para ser mais preciso, encontraram um aumento de quase um terço (31,4%). No entanto, essa proporção varia consideravelmente dependendo da região geográfica.
A descoberta de uma alta atividade noturna pode não surpreender entomologistas e fotógrafos da natureza.
Muitos exploram florestas com lanternas ou montam acampamentos perto de armadilhas luminosas na esperança de encontrar diferentes espécies raras.
Mas essa é a primeira vez que alguém consegue oferecer uma resposta definitiva para essa questão universal. Agora existe a certeza de que o mundo natural pequeno se movimenta mais a noite.
Base global de dados
A pesquisa na literatura envolveu a análise de estudos que sistematicamente coletaram amostras de comunidades de insetos durante o dia e à noite.
No entanto, existiu um limite na busca para incluir apenas estudos que empregaram métodos que não distorcessem os resultados. Por exemplo, sem estudos que utilizaram redes de varredura ou bateram em galhos para coletar insetos, uma vez que tais métodos poderiam capturar insetos em repouso junto com os ativos.
Também excluíram estudos que empregaram armadilhas luminosas ou armadilhas coloridas, já que os insetos são atraídos por essas armadilhas em ambientes com pouca luz ao redor, tornando-as menos eficazes durante o dia.
Em vez disso, a seleção trouxe estudos que coletaram amostras de insetos durante o dia e à noite utilizando armadilhas específicas para capturar insetos em movimento.
Estes incluem armadilhas de queda para insetos rastejantes, armadilhas de interceptação de voo para insetos voadores, e redes de deriva aquáticas para insetos nadadores.
Além disso, também consideraram estudos que empregaram iscas alimentares, como esterco para alguns besouros, ou mel para formigas.
Na maioria dos estudos, os dados foram coletados por entomologistas que instalaram várias armadilhas antes do amanhecer.
Eles retornaram antes do pôr do sol para coletar as amostras do dia, prepararam mais armadilhas para a noite. Por fim, voltaram novamente antes do amanhecer para coletar as amostras da noite.
A análise teve 99 estudos publicados entre 1959 e 2022, os quais abrangeram todos os continentes, exceto a Antártica, e englobaram uma ampla variedade de habitats, tanto terrestres quanto aquáticos.
Qual foi a descoberta?
No fim, a maior descoberta foi que os insetos noturnos, de modo geral, eram mais comuns.
Por outro lado, existe uma maior presença de tripes, abelhas, vespas e formigas durante o dia.
A atividade noturna predomina em áreas úmidas e ao longo de cursos d’água, onde o número de insetos ativos poderia dobrar durante a noite.
Em contraste, os insetos terrestres geralmente demonstravam maior atividade durante o dia, especialmente em campos e savanas. Ainda, o número de insetos fora de ambientes aquáticos poderia triplicar durante o dia nesses habitats.
Essa distribuição pode estar relacionada à evasão de predadores. Os peixes tendem a caçar insetos aquáticos durante o dia, enquanto os animais noturnos, como morcegos, tornam a vida em terra mais perigosa à noite.
Além disso, os insetos são mais ativos à noite nas regiões mais quentes do planeta, onde as temperaturas máximas são mais elevadas. Como muitos são ectotérmicos e não conseguem regular sua própria temperatura corporal, se tornam particularmente sensíveis a variações extremas de temperatura.
Ameaças aos insetos noturnos
Vale reforçar que os insetos noturnos são fundamentais em vários “serviços ecossistêmicos”, como polinização, ciclagem de nutrientes e controle de pragas.
Muitos desses serviços acontecem durante a noite, quando a atividade dos insetos é mais intensa.
Porém, isso ressalta a necessidade de reduzir algumas de nossas próprias atividades. Por exemplo, a iluminação artificial pode ser prejudicial aos insetos noturnos.
Além disso, a pesquisa destacou a ameaça do aquecimento global. Nas regiões mais quentes do planeta, como os trópicos, o aumento das temperaturas pode reduzir ainda mais a atividade dos insetos noturnos, que enfrentam dificuldades para lidar com o calor.
Portanto, esse estudo pode incentivar os ecologistas que se dedicam ao estudo diurno a também considerar a ecologia noturna.
Fonte: Revista Galileu