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Como a cidade de São Paulo registrou neve em 1918?

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No Brasil, algumas cidades do sul são conhecidas por registrarem neve nas partes mais frias do ano. No entanto, quando subimos um pouco mais no mapa, não temos mais neve, apenas temperaturas mais frias. Porém, será que sempre foi assim? Em anotações que datam do início dos anos 1900, é afirmado que a cidade de São Paulo registrou neve, mas, será que esses registros são verdadeiros?

No caderno de visitas do “covil da rua Líbero”, uma garçonnière mantida pelo escritor Oswald de Andrade na Rua Líbero Badaró, esse tipo de registro pode ser encontrado mais de uma vez. Entretanto, ele vai contra o que as medições meteorológicas da cidade afirmam.

Mas afinal, foi neve ou geada?

De acordo com os registros do caderno de visitas, a neve caiu no dia 25 de junho de 1918. Além disso, outros registros de neve também teriam sido feitos entre os dias 24 e 18 de julho de 1925. Nessas datas, a neve também teria sido acompanhada por uma forte geada. Porém, pelo que sabemos, tudo não passou de um engano. “Não teve neve. A confusão que se faz é porque o cristal da neve é igual ao cristal da geada“, afirma Mario Festa, meteorologista do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG/USP). “Só que geada não cai. A gente fala popularmente que ‘caiu o orvalho, caiu o sereno, caiu a geada’ mas isso é um termo errado”, completa o pesquisador.

Ainda segundo o meteorologista, para que se tenha geadas é preciso ter a ausência de nuvens no seu. E, por outro lado, para haver neve, é necessário que elas estejam lá. “Porque, para haver geada, é necessário que o céu esteja totalmente limpo, para que o calor armazenado se dissipe. Esse resfriamento muito rápido faz com que a umidade próxima à superfície, em certas condições, se congele. Ou, no caso do orvalho, simplesmente forme gotas líquidas”, afirma Festa.

O que os registros oficiais têm a dizer sobre isso?

Para tirar a prova final, podemos conferir os registros do IAG/USP. Assim, no dia 25 de junho de 1918, as cinco marcações registradas mostram que a nebulosidade era zero. Nesse sentido, de fato, as temperaturas eram muitos baixas, 1,2 grau negativo registrado. Dito isso, ainda que rara, a geada ainda é possível. “Para ter neve, tem de ter nuvem”, afirma Festa. “Mas para isso a temperatura teria de estar mais próxima de zero”, completa o pesquisador.

Além das datas citadas, a falsa neve também foi registrada em outras três datas. São elas: 6 e 12 de julho e 2 de agosto de 1955. Desse modo, o registro de neve nessas ocasiões também foi fruto dessa confusão. “A neve é uma forma de precipitação assim como a chuva”, afirma Samantha Martins, meteorologista e divulgadora científica do blog Meteorópole. “Apesar de estarmos em um planalto, não é alto o suficiente — são cerca de 800 metros acima do nível do mar. A latitude também não é alta o suficiente, estamos na zona tropical, não próximos do polo Sul para que haja condições de ter massa de ar polar intensa que venha a atuar na formação de neve”, completa a meteorologista.

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