A Neuralink é uma sociedade que Elon Musk cofundou junto com outros oito empresários. Claro que assim como todo projeto que o bilionário se envolve, esse também é pensado no futuro da humanidade. Todos já conhecem o chip da empresa, mas recentemente, Musk anunciou um novo implante, o Blindsight, que de acordo com ele possibilitaria a restauração da visão além de dar uma resolução maior do que a visão humana.
No entanto, cientistas contestam essa afirmação de Musk sobre o implante e o que ele pode fazer com a visão. Conforme o estudo publicado na revista Scientific Reports, não seria possível fazer tudo isso que é prometido.
Conforme Musk escreveu em seu perfil no antigo Twitter, o implante já está funcionando nos testes que estão sendo feitos com macacos. De acordo com ele, nesse começo, a resolução irá ser baixa, mas “no final poderá exceder a visão humana normal“. Na visão dos pesquisadores que fizeram o estudo, essa afirmação do bilionário é perigosa, irrealista e vem de uma premissa falha.
Depois de fazerem várias simulação com a mesma técnica usada pela empresa de Musk, os cientistas disseram que o implante não conseguiria chegar na qualidade de visão prometida por Musk.
“Engenheiros frequentemente pensam em eletrodos como produtores de pixels. Mas não é assim que a biologia funciona. Esperamos que nossas simulações baseadas em um modelo simples do sistema visual possam dar uma ideia de como esses implantes vão funcionar. Essas simulações são muito diferentes da intuição que um engenheiro pode ter ao pensar em termos de pixels em uma tela de computador”, disse Ione Fine autora principal do estudo e professora de psicologia da Universidade de Washington (UW).
Implante para restauração da visão
Em seu estudo, os pesquisadores fizeram um modelo computacional que foi capaz de simular vários estudos a respeito do córtex. Como resultado eles viram que a promessa de restaurar a visão não seria tão poderosa assim.
De acordo com Fine, o cérebro não reproduz as imagens em pixels, como é visto nas telas. Por conta disso, ter um eletrodo conectado não iria representar a geração de um pixel. E o estudo usou dados de animais e humanos para poder ter unidades virtuais diferentes de pacientes mostrando detalhes da estimulação elétrica por eletrodos no córtex visual.
Em uma das simulações foi produzida uma imagem com 45 mil pixels, resultando em uma qualidade cristalina. No entanto, quando a representação de 45 mil eletrodos implantados no córtex visual de uma pessoa foi simulada, a imagem apareceu totalmente borrada.
Isso aconteceu porque, ao contrário dos pixels, o córtex visual do cérebro humano faz a representação de imagens através de milhares de neurônios. Por isso que não adianta fazer a conexão de milhares de eletrodos entre o cérebro e um chip se não tiver nenhuma mudança na forma como essa informação é representada pelos neurônios no campo receptivo do cérebro.
Embora os cientistas contestem a alegação de Musk sobre o implante na visão, eles pontuam que o Blindsight será inovador se for capaz de dar aos pacientes que não tem visão nenhuma, uma visão turva. Contudo, ele está bem longe de oferecer uma visão completa.
Para que isso fosse uma realidade seria preciso um código neural entre milhares de células. E até o momento os cientistas não sabem como encontrar o código neural certo nas pessoas que tem deficiência visual. Então, até que essa reprogramação dos neurônios seja encontrada, seja o implante da Neuralink ou de outra empresa irá dar uma visão com qualidade imperfeita aos pacientes.
“Muitas pessoas ficam cegas tarde na vida. Quando você tem 70 anos, aprender as novas habilidades necessárias para prosperar como um indivíduo cego é muito difícil. Há altas taxas de depressão. Pode haver desespero para recuperar a visão. A cegueira não torna as pessoas vulneráveis, mas ficar cego tarde na vida pode tornar algumas pessoas vulneráveis. Então, quando Elon Musk diz coisas como, ‘Isso vai ser melhor do que a visão humana’, isso é algo perigoso de se dizer”, concluiu Fine.
Fonte: CNN
Imagens: CNN