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Conheça John Kellogg, o médico que criou o cereal matinal

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O médico americano John Harvey Kellogg era um vegetariano que acreditava que uma dieta equilibrada poderia prevenir boa parte das doenças e, de quebra, afastar as pessoas do pecado. 

No entanto, a sua tentativa para criar o alimento perfeito, que acabou dando origem a um império que está presente em 180 países, só aconteceu após William, o irmão do médico, ter feito algo que ele abominava.

Os Kellogg

Foto: Wikimedia Commons

Até mesmo para a época, os Kellogg eram uma família enorme: John tinha 16 irmãos. Ele nasceu em 1852, na cidadezinha de Tyrone (Michigan). Aos quatro anos foi morar em Battle Creek, uma espécie de spa administrado pela Igreja Adventista.

A partir disso sua carreira decolou e John se tornou quase um guru de saúde para ricos e famosos da época. Ele afirmava que o segredo para uma vida longa estava na flora intestinal.

Ele recomendava uma dieta rica em grãos integrais, e também indicava laxantes. De acordo com Kellogg, diversas doenças poderiam ser curadas por meio de lavagens intestinais. Além disso, após as lavagens, o médico injetava iogurte no cólon dos pacientes, para repor sua flora intestinal.

John também pregava abstinência de carne, álcool, tabaco e alguns temperos. Para espalhar suas ideias, ele começou a escrever livros e cartilhas com recomendações de saúde.

Kellogg ainda acreditava piamente que o sexo fazia mal à saúde. Ele desencoraja a prática, afirmando que se perdia “energia vital” no ato. Por causa disso, muitos apontam que o médico nunca teve relações sexuais com a esposa, Ella Eaton (1853-1920), durante as quatro décadas de casamento. Ella e John tiveram mais de 40 filhos, todos adotivos.

Para John, pior que o sexo, só a masturbação, sendo considerada um “crime hediondo”. De acordo com Kellogg, podia ser prevenida por meio da dieta. No entanto, em casos incontroláveis, o médico orientava a utilização de choques elétricos e circuncisão sem anestesia para os homens, e injeção de ácido carbólico (fenol) direto no clitóris das mulheres.

Ao todo, inventou e patenteou mais de 30 produtos, como instrumentos cirúrgicos para operações ginecológicas e gastrointestinais, equipamentos para eletroterapia, hidroterapia e fototerapia. Porém, as suas duas maiores invenções foram a granola e o cereal matinal. 

Kellogg versus Kellogg

Foto: Wikimedia Commons

Para combater a azia e a má-digestão, provocadas pelo café da manhã americano, Kellogg começou a pesquisar alimentos saudáveis. No ano de 1870, fez uma mistura de grãos de aveia, milho e trigo assados, que nomeou de “granula”. No entanto, por causa de um processo judicial, movido por James Jackson, um médico adventista de Nova York, tinha batizado um farelo integral com a mesma palavra, o alimento de Kellogg começou a se chamar granola.

Em abril de 1894, William Keith Kellogg (1860-1951), irmão mais novo de John, estava fazendo uma fornada de granola, mas acabou deixando o alimento no forno por muito tempo. Quando ele foi passar a massa num rolo, o trigo se quebrou em floquinhos bem crocantes. 

Depois disso, eles resolveram tentar a mesma coisa com milho. A invenção foi chamada de corn flakes. Em 1897, patentearam a ideia e abriram a empresa Sanitas Food Company para fabricar o produto.

No entanto, enquanto John preferia dedicar sua vida à Igreja Adventista, e só queria vender os cereais para pacientes da clínica e assinantes da revista Good Health, Will queria ampliar os negócios. 

Em 1906, Will se apossou da ideia e fundou a Battle Creek Toasted Corn Flake Company, precursora da atual Kellogg Company. Após isso, ele fez algo que o irmão não aceitava e adicionou açúcar aos flocos de milho.

Enquanto John ensinava as pessoas a fazerem o próprio cereal em casa, Will fez com que a sua empresa se tornasse líder do novo mercado de cereais matinais.

Em 1953, a agência Leo Burnett criou o mascote Tony Tiger para as embalagens de Sucrilhos. Vale destacar que “Sucrilhos” é um termo usado apenas no Brasil, que de acordo com a Kellogg’s, é uma junção das palavras “açúcar”, “crocância” e “milho”.

O fim

Foto: Wikimedia Commons

Além de brigar com o irmão, John também se desentendeu com a madrinha, Ellen, após um incêndio destruir o Sanatório Battle Creek, em 1902. Ela não queria reconstruir o spa, pois acreditava que o fogo era um sinal de Deus contra o estabelecimento, que tinha se tornado famoso demais e perdido a essência.

No entanto, John Kellogg resolveu reerguer tudo e lançou um livro para levantar dinheiro e reconstruir o spa. O cheio de ideias religiosas recebeu muitas críticas. John fazia afirmações panteístas (doutrina filosófica que acredita que Deus e a natureza são a mesma coisa), e acabou excomungado da Igreja Adventista em 1907.

Em seguida, o médico fundou a Race Betterment Foundation, uma instituição que defendia a segregação racial. Além disso, ele cuidava da própria saúde, seguindo à risca os preceitos alimentares que defendia.

Aos 91 anos, John escreveu uma carta de desculpas a Will, reconhecendo que o irmão estava certo ao transformar o cereal matinal em negócio. No entanto, a secretária de John leu a carta e se recusou a enviá-la, por acreditar que o chefe estava se humilhando. Ele morreu meses depois, em 1943.

Apenas em 1948, Will finalmente recebeu a carta, e pouco tempo depois faleceu. Os irmãos Kellogg nunca fizeram as pazes.

Fonte: Superinteressante

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