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Conheça o documentário da BBC que se inspirou no Experimento de Aprisionamento de Stanford

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Quarenta anos atrás, um grupo de estudantes participou de uma das mais notórias experiências no estudo da psicologia humana. O Stanford Prison Experiment (SPE) aconteceu em 1971, com o objetivo de avaliar o comportamento de rapazes em uma simulação prisional. Todos foram divididos entre prisioneiros ou guardas e colocados no porão do Departamento de Psicologia da Universidade de Stanford. O estudo deveria durar duas semanas, mas a brutalidade dos “guardas” e o sofrimento dos “prisioneiros” fizeram com que a SPE terminasse depois de apenas seis dias. “No primeiro dia em que eles chegaram lá, tudo não passava de apenas uma simulação com grades falsas. No segundo dia, as coisas ficaram mais sérias. Foi uma verdadeira prisão criada nas mentes de cada prisioneiro, cada guarda e também da equipe”, disse Philip Zimbardo, o psicólogo que liderou o experimento. Décadas após o polêmico estudo, no ano de 2002, a emissora BBC decidiu remontar a situação para entender a força dos fatores sociais. Conheça o documentário da BBC que se inspirou no Experimento de Aprisionamento de Stanford.

Mesmo com uma estrutura mais cautelosa do que o modelo de 1971, o experimento também não foi concluído no período estipulado. Os cientistas que supervisionaram o projeto da BBC ficaram preocupados com o bem-estar emocional e físico dos 15 participantes. Por isso, exigiram que parassem antes do fim.

Preparação

Quando a BBC anunciou a adaptação, ficou claro que o “The Experiment” não seria um documentário comum. As propagandas da época pediam voluntários para participar de um “experimento social apoiado pela universidade”. Contudo, advertiram que os selecionados seriam expostos a “exercícios, tarefas, dificuldades, fome, solidão e raiva”. E, ainda por cima, tudo seria televisionado.

Apenas homens foram solicitados a se inscrever. Além disso, os anúncios não mencionavam remuneração e nem a ideia de prestígio em prol da imagem pública que o documentário criaria sob cada participante. Em vez disso, os produtores – do departamento de programas factuais da BBC – prometeram que a experiência “mudaria a maneira de se pensar”.

O experimento da BBC foi supervisionado por dois psicólogos: Alex Haslam, da Exeter University; e Stephen Reicher de St Andrews. Um “comitê de ética” independente também monitorou o projeto e decretou o seu fim antes da hora.

Como as coisas funcionaram

Os guardas tinham status elevado e, consequentemente, alto poder. Isso era simbolizado por boas refeições, por condições de vida superiores, por seus privilégios e por seus elegantes uniformes. Eles tinham múltiplas bases de poder, como chaves de todas as portas da prisão e monitores de vigilância para observar e controlar os prisioneiros.

Os prisioneiros tinham status baixo. Isso era simbolizado pela comida ruim, as condições espartanas de vida e os uniformes básicos. Eles não tinham poder formal: só era permitido fazer o que lhes foi dito pelos guardas.

Claro, apesar de todas essas características, isso não era uma prisão real. No entanto, as diferenças de poder e status eram coerentes. Então, para os produtores executivos, a prisão pretendia representar o leque de instituições de poder desigual que existem em nossa sociedade.

Os participantes foram constantemente monitorados por câmeras e microfones durante todo o estudo. Isso proporcionou um registro comportamental completo de tudo o que eles fizeram e disseram. Além disso, os 15 homens responderam questionários ao longo dos 8 dias de confinamento.

As perguntas abordavam uma ampla gama de fatores, alguns sociais (por exemplo, o nível de identificação com seu grupo), alguns organizacionais (percepções da liderança nos dois grupos) e alguns clínicos (nível de depressão dos participantes). Dessa maneira, foi possível medir os estados psicológicos dos participantes e examinar a relação construída na simulação.

Por fim, também coletaram dados fisiológicos, como pequenas quantidades de salivas dos participantes. As amostras foram enviadas para um laboratório com o objetivo de analisar ​os níveis de cortisol – uma medida de estresse. “Isso nos permitiu examinar os efeitos do estudo sobre o bem-estar dos participantes”, relata um dos produtores no site oficial do experimento.

Resultados alcançados

O estudo mostrou que há um mundo de diferença entre alguém que impõe um papel e o que é submetido a isso. É a diferença entre ouvir “você é um guarda” e pensar “eu sou um guarda”. Os indivíduos não se conformam cega ou irracionalmente aos papéis.

Em vez disso, só agiram dentro do esperando quando se identificaram pertencentes ao grupo (prisioneiros). Eles acabaram performando um “personagem” que fosse colaboram para o bem comum do coletivo. De acordo com o site oficial do experimento, uma das descobertas mais claras que surgiram foi a relação entre a identificação, organização e o poder do grupo.

Os homens, de uma forma ou de outra, compartilharam uma identidade comum que desemboca em valores e objetivos similares. Quando isso aconteceu, todos os prisioneiros trabalharam juntos e obtiveram maior poder para alcançar as metas estabelecidas em conjunto.

Em particular, eles se tornaram capazes de construir um sistema social baseado em suas crenças e valores comuns. A identidade como grupo é transformada de um conjunto de ideias para a própria realidade. O fenômeno tem a ver com o que é conhecido como “auto-realização coletiva”.

Apoio aos opressores

Segundo a análise, a partir do experimento, os especialistas compreenderam razões para que as pessoas apoiem grupos opressivos. Em termos simples, isso acontece quando os grupos falham. Quando as pessoas não conseguem perceber seus próprios valores e crenças, são mais propensas a aceitar alternativas – ainda que drásticas – que forneçam a perspectiva de sucesso.

É mais provável que adotem uma figura forte que promete fazer as coisas funcionarem para eles. É essa combinação de fracasso e promessa que fez com que os participantes se tornassem mais autoritários.

É interessante perceber que um experimento social pode servir como base para diversos estudos, não é? Você se comprometeria a participar em algo parecido com o documentário da BBC que se inspirou no Experimento de Aprisionamento de Stanford? O que você faria se fosse prisioneiro ou guarda? Não se esqueça de deixar o seu comentário!

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