Natureza

Criadores de conteúdo digital lucram com práticas abusivas em animais, diz estudo

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A exploração violenta de animais, promovida como entretenimento nas redes sociais, revela um lado sombrio que poucas pessoas conhecem, visando o lucro e deixando a ética e os valores de lado.

Mas recentemente um estudo, publicado na revista Biological Conservation, trouxe isso à tona. Ele expôs que criadores de conteúdo digital lucraram aproximadamente 1,14 milhão de dólares por meio de vídeos patrocinados que exibem abusos contra animais.

De maneira preocupante, os pesquisadores questionaram a eficácia dos mecanismos de remoção de conteúdo abusivo em plataformas digitais, dado que tais vídeos acumularam mais de 880 milhões de visualizações.

O biólogo Antonio Carvalho, durante seu tempo no Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), liderou uma pesquisa abrangente.

Esta investigação examinou mais de 50 horas de 411 vídeos que retratam abusos contra animais no YouTube, originários de 39 países e compreendendo o período de abril de 2022 a agosto de 2023.

Os pesquisadores categorizaram as cenas de crueldade, identificaram as espécies envolvidas e verificaram seus status de conservação na Lista Vermelha da IUCN.

Via Revista Galileu

Crueldade

Os vídeos analisados exibem a crueldade contra mais de 96 espécies, incluindo não apenas gatos e cachorros, mas também animais silvestres, como botos-cor-de-rosa, capivaras, tigres, tartarugas, peixes, macacos e sapos.

Algumas destas espécies encontram-se em situação vulnerável ou criticamente ameaçada de extinção, como o boto cor-de-rosa (Inia geoffrensis), cujo habitat está na região amazônica.

Surpreendentemente, cerca de 65 espécies apresentadas nos vídeos são alvo do comércio internacional de animais e são protegidas pela CITES, um acordo internacional entre governos visando salvaguardar a sobrevivência de espécimes de animais e plantas silvestres.

O conteúdo monitorado abrange desde caça com equipamentos violentos até atos de esmagamento de animais para satisfação sexual, resgates encenados, abates para festivais religiosos e comerciais, e a exposição de animais silvestres no turismo de selfies e como animais de estimação.

Essas últimas práticas são classificadas como formas de sofrimento oculto. Antonio Carvalho adverte que os influenciadores digitais, muitas vezes considerados especialistas por seus seguidores, continuam mantendo essas atividades ilegais ao postarem os maus exemplos.

Exploração violenta

Os pesquisadores também examinaram o nível de interação e os tipos de anunciantes associados ao conteúdo. Utilizando uma ferramenta que calcula o valor de marketing para influenciadores, eles estimaram a monetização em dólares gerada pelas visualizações do material.

Além disso, destacou que a categoria de vídeos que mais contribuiu para a monetização foi a que envolve o uso de animais silvestres como animais de estimação. Ao todo, essa exploração violenta gera um lucro aproximado de 730 mil dólares.

Os conteúdos são assustadores. Por exemplo, em um estudo científico, um macaco foi capaz de sobreviver por dois anos com um rim de porco editado geneticamente.

Os vídeos que apresentam evidente sofrimento alcançaram quase 360 milhões de visualizações, sendo que algumas dessas produções estão disponíveis desde 2006.

Carvalho comenta que, em alguns vídeos, os produtores de conteúdo incentivam ativamente crianças a maltratar animais. Isso inclui experiências com sal em sapos e a destruição de ninhos de vespas, práticas que podem ser perigosas.

Ele lamenta, dizendo: “É perturbador saber que alguns adultos estão dispostos a promover a violência em seus próprios filhos em busca de curtidas e seguidores”.

Via Fauna News

Anunciantes e investidores

Além disso, eles identificaram mais de 155 empresas anunciantes nos vídeos, algumas delas com histórico vinculado a campanhas ecologicamente corretas e amigáveis aos animais.

Thamyrys Souza, coautora do estudo, relata que muitas empresas conhecidas por seu compromisso com a sustentabilidade parecem não perceber a conexão de sua imagem com vídeos que retratam crueldade contra animais.

Carvalho espera que o estudo funcione como um alerta para os anunciantes que financiam tais produções. Além disso, deseja fundamentar medidas legais punitivas contra os abusadores de animais.

Durante o período de monitoramento, apenas 70 vídeos saíram do YouTube por violarem as políticas da plataforma. Contudo, isso indica que a maioria continua circulando.

 

Fonte: Revista Galileu

Imagens: Revista Galileu, Fauna News

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