Adaptações sempre exigem alterações, algumas funcionam bem, outras não alcançam a satisfação dos fãs. Sendo assim, podemos dizer que, no caso de Game of Thrones, não foi diferente. Imagine pegar As Crônicas de Gelo e Fogo e se deparar com aquela infinitude de detalhes. Durante cinco temporadas, David Benioff e D.B. Weiss conseguiram lidar bem com essa questão, até porque, é bem mais fácil lidar com o excesso de material base do que com a falta dele. Pudemos perceber isso da sexta temporada para frente. De qualquer forma, se até o próprio George R. R. Martin atenuou os erros dos roteiristas, quem somos nós pra julgar? Bom, de acordo com o change.org, somos aproximadamente um milhão e setecentas mil pessoas insatisfeitas com o final da produção da HBO. Embora todo o descontentamento esteja apontado para a oitava temporada, é válido ressaltar que não foi um processo repentino.
No decorrer da série, fomos vendo pequenos elementos que contribuíram para a formação da bola de neve que nos atingiu no final. A ausência de intriga política, o ritmo desajustado, o retrocesso de vários personagens e a inutilidade de outros são alguns pontos que poderíamos abordar. No entanto, nosso maior incômodo está relacionado à falta dos lobos gigantes dos Stark. Os caninos foram introduzidos logo no início da série, durante o desenvolvimento tivemos pequenas aparições e, no final, Fantasma apareceu para cumprir cota. A associação dos lobos ao ciclo da Casa Stark era um indicador da importância dos animais na história. Contudo, na maior parte da narrativa, eles foram completamente desvalorizados.
Enquanto GOT ainda estava em exibição, nos pegamos comentando sobre a falta de atenção que os lobos recebiam. Fantasma sempre foi o maior destaque entre seus irmãos, ainda mais se considerarmos que a maioria deles morreu. Entretanto, mesmo participando de muitos eventos importantes, como a Batalha de Winterfell, nunca o vimos de forma notável. Nem mesmo quando Jon Snow resolveu mandar o gigante peludo para o norte com Tormund, presenciamos uma despedida decente. Isso só ressalta que, desde que a série ainda estava sendo desenvolvida, já sentíamos falta de ver os animais receberem um tratamento tão importante, quanto o que vemos nos livros.
Os criadores sempre utilizaram o gasto com CGI para justificar a curta presença dos lobos nas telas. Aparentemente, é mais fácil produzir dragões do que animais baseados na realidade. O argumento é até plausível, porém, se considerarmos a quantidade de cenas desperdiçadas com os dragões, o desacordo é imediato. O último episódio provou que Game of Thrones sempre girou em torno da Casa Stark, sendo assim, é impossível não questionar a falta de uma adaptação decente dos lobos. Já sabemos que cada animal está intrinsecamente ligado à personalidade e ao destino de seu dono.
A ascensão de Robb como Rei do Norte é auxiliada por Vento Cinzento, que assim como o dono, sofre as consequências do Casamento Vermelho. A morte de Lady espelhou os infortúnios que Sansa passaria em Porto Real. Cão Felpudo era rebelde como Rickon. Do mesmo modo, foi graças à Verão que Bran descobriu suas habilidades místicas e obteve sucesso em sua jornada como Corvo de Três Olhos. Entretanto, Arya e Nymeria têm uma relação vital e sobrenatural nos livros, que foi deixada de lado na série, assim como a relação de Jon e Fantasma. A produção tenta deixar implícito que os animais são importantes para eles. Contudo, assim como em outros tópicos, não obtém sucesso.
Foi bom ver a reunião de Jon e seu leal amigo no final, porém também serviu como um lembrete da pouca atenção recebida pelos caninos. Quando Arya esbarrou com Nymeria, não esperávamos que a loba voltasse para Winterfell, mas gostaríamos de ter visto um impacto maior na narrativa. Entretanto, se considerarmos o ritmo acelerado que a série assumiu nas últimas temporadas, provavelmente, seria pedir demais. Levando isso em consideração, talvez, a icônica frase de Ned Stark mereça uma releitura. Quando a neve cai e os ventos brancos sopram, o lobo solitário morre e, mesmo aqueles que sobrevivem, são esquecidos.