Um dos grandes debates na Igreja Católica é sobre a prática do exorcismo. De acordo com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o ato do exorcismo se vale de rituais, palavras e oráculos e é feito com base nos ensinamentos da igreja para expulsar espíritos ruins de pessoas, locais e objetos, que são possuídos por eles. O assunto voltou após uma polêmica envolvendo um padre do Distrito Federal.
O ritual que divide opiniões só pode ser praticado por um sacerdote que possui autorização. Na semana passada, o padre Vanilson da Silva, último exorcista da capital federal, afirmou ter sido proibido de atuar pela Arquidiocese de Brasília.
Por meio de nota, a entidade confirmou o afastamento e afirmou que irá nomear um novo padre para realizar o exorcismo. Porém, nenhum dos lados informou o motivo para a mudança.
De acordo com o professor do departamento de Ciência da Religião da PUC-SP, Edin Abumanssur, “[O ritual] não é uma coisa absurda dentro da Igreja Católica”. Ele acrescenta que a prática segue normas e que existem padres que não concordam com o exorcismo. Um dos motivos pode ser o debate do que seria uma possessão para a igreja.
“O próprio ritual dá margem para que a ideia da possessão seja compreendida como uma questão psiquiátrica”, explica Edin Abumanssur ao G1.
Para o professor, o exorcismo é mais alvo de polêmicas entre grupos específicos. “É um tabu em um meio mais intelectualizado, segmentos mais afluentes, que dão outra interpretação.”
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O professor acredita que o exorcismo precisa passar por um protocolo rígido, além de ser considerado um último recurso. “O padre tem que ter muita certeza, deve ter analisado exames psiquiátricos antes de realizar o exorcismo.”
Além disso, Abumanssur destaca que caso ele seja praticado, deve ser discreto, apenas na frente dos familiares.
O especialista acrescenta que, historicamente, o exorcismo é uma forma que as pessoas usam para tratar a dor e o sofrimento. Vale ressaltar que a prática não é exclusiva da crença cristã, já que rituais semelhantes são encontrados em outras sociedades.
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No ano de 1999, a Igreja Católica fez a primeira grande mudança nas regras sobre exorcismo desde 1614, com isso, foi distinguido a possessão demoníaca de doenças físicas e psicológicas. Já a partir do ano de 2017, uma cartilha recomenda que cada bispo nomeie um padre, em sua diocese, para realizar o ritual. A recomendação é baseada no Direito Canônico, grupo de leis que regula a Igreja.
No ano seguinte, em 2018, o Vaticano abriu um curso anual de exorcismo devido à alta demanda ao redor de todo o mundo. Aproximadamente 250 padres, de 50 países, participaram para aprender a identificar uma “possessão demoníaca”, ouvir testemunhos de colegas e descobrir os rituais para expulsar os demônios.
Um ano antes, Papa Francisco havia afirmado que a maioria dos transtornos são de porte “psicológico” e que por causa disso devem ser curados por meio da “colaboração sadia com as humanidades”. Porém, o papa disse que alguns problemas espirituais podem precisar de um exorcista.
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“Me senti violentamente desrespeitado. Eu, como objeto das reuniões, nunca fui ouvido”, relatou no texto.
Depois da polêmica, a Arquidiocese de Brasília disse em nota que “as tratativas foram iniciadas para melhor discernir tanto o bem do referido sacerdote como do Povo de Deus”. Porém, não informou qual o motivo do afastamento e da nomeação de um novo sacerdote exorcista.
De acordo com a arquidiocese, o arcebispo Dom Paulo Cezar Costa deve “discernir e orientar a condução pastoral”.
Fonte: G1