Poucas coisas são mais interessantes do que o mundo animal. Por conta disso, não é de se surpreender que existam pessoas ao redor do mundo que são fascinadas com ele e o estudam para sempre descobrir mais e pontuar coisas interessantes. Como por exemplo, o fato de o escorpião ser um sucesso evolutivo.
Esse título vem para o animal porque durante sua evolução milenar ele conseguiu sobreviver a várias intempéries. Por exemplo, ele se adaptou a diferentes temperaturas e biomas, aprendeu a passar dias sem água e comida e até a se reproduzir sozinho. Tudo isso mostra que o escorpião é como se fosse um Highlander do mundo animal.
Para quem não sabe, “Highlander” é sinônimo de “renascido das cinzas”, ou seja, um ser que nunca morre. O termo ficou popularizado desde o filme “Highlander – o guerreiro imortal”.
Como dito, para o escorpião ser um sucesso evolutivo ele já passou por muita coisa. Tanto que, há mais de 450 milhões de anos, existem evidências do surgimento dele em um habitat aquático. Nessa época, um escorpião media normalmente 1,30 metro de comprimento.
Os primeiros escorpiões aquáticos tinham uma estrutura física parecida com a dos aracnídeos atuais, com adição de brânquias. “Por volta de 325 a 350 milhões de anos atrás, eles migraram para o ambiente terrestre e ficaram bem menores, com até 23 centímetros”, disse Denise Maria Candido, assistente técnica de pesquisa científica e tecnológica do Biotério de Artrópodes do Instituto Butantan.
Ainda de acordo com Denise, que é bióloga e especialista em escorpiões, existem vários fatores que explicam a imensa adaptabilidade deles. “Eles se mostraram capazes de se manter por aqui mesmo em situações climáticas adversas. É importante entender a função ecológica deles e que eles não são eliminados facilmente”, pontuou.
O que muitos podem não saber é que os escorpiões não são insetos, mas sim aracnídeos da ordem Scorpiones. Ao todo existem 2.800 espécies espalhadas pelo mundo, sendo 180 delas no Brasil.
Das espécies no nosso país, somente quatro tem um interesse médico. São elas: o escorpião-preto-da-Amazônia, o escorpião-amarelo-do-Nordeste, o escorpião-marrom e o escorpião-amarelo.
“As principais características adaptativas que melhor mostram o sucesso na evolução dos escorpiões são suas poucas transformações morfológicas, e sua grande plasticidade em termos de fisiologia, comportamento e respostas às mudanças ambientais”, explicou Denise.
Como se fosse mágica
Durante os milhões de anos, o escorpião teve que travar batalhas épicas para se adaptar nos mais diferentes climas e habitats. Por conta disso, eles tem uma classificação de “quase invencíveis” com relação à natureza. “O habitat dos escorpiões é dos mais variados tipos. Eles ocorrem dos desertos às florestas tropicais, do nível do mar às grandes altitudes”, explicou Denise.
Isso acontece também porque a alimentação dele é extremamente variada. Por exemplo, ele come insetos, aranhas, grilos e pequenos vertebrados. E quando está em um ambiente urbano, a alimentação é feita essencialmente de baratas, o que faz com que ele seja um controlador natural delas. E quando ele não tem uma fonte de comida por perto, ele é capaz de ficar centenas de dias sem comer.
“Algumas espécies sobrevivem 400 dias sem comida, 87 dias sem água e por volta de 36 dias sem água e comida. Se precisar, comem até outros escorpiões para sobreviver”, afirmou Denise.
Além disso, esse animal consegue escalar montanhas e migrar para regiões onde não viveriam naturalmente. “Os escorpiões conseguem subir em superfícies rugosas e acessam apartamentos de edifícios, encanamentos expostos ou caixas de luz sem proteção. Também podem ser transportados para outras cidades ou países dentro de produtos em caminhões, barcos e roupas. Nas áreas rurais, os acidentes ocorrem na preparação do solo para o plantio, que é quando os escorpiões são tirados de seu habitat natural”, esclareceu.
Isso mostra que além de o escorpião ser um sucesso evolutivo, ele também é o motivo principal de um número crescente de acidentes tanto no Brasil como no resto do mundo. Para se ter uma noção, de acordo com o Sistema de Informação de Agravos e Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde, ele foi responsável por 134 mortes e por 202.324 acidentes no país em 2023.
Fonte: Gizmodo
Imagens: Agência SP