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Influenciadores utilizam táticas para espalhar notícias falsas sobre vacinas

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Recentemente, a BBC publicou uma reportagem mostrando como os influenciadores utilizam seu prestígio para propagar notícias falsas sobre as vacinas que foram produzidas para combater o novo coronavírus. De acordo com a matéria, o processo é muito sutil. E tudo começa quando nós, usuários das redes sociais, passamos a consumir o conteúdo que é disponibilizado pelos influenciadores.

Para explicar melhor, colocamos em pauta, aqui, como exemplo, uma das maiores redes sociais de todos os tempos: o YouTube. Imagine que você, em um determinado momento do dia, decide assistir um vídeo qualquer sobre ciência e saúde. Em meio ao vídeo, você, de repente, se depara com o apresentador expondo repetidamente o termo “racoon”.

À primeira vista, a palavra parece não carregar sentido, principalmente dentro do contexto ciência e saúde, no entanto, para os seguidores do influenciador – e, consequentemente, seguidores do canal -, o termo é apenas um codinome para se referir ao novo coronavírus – de acordo com a BBC, “racoon é um anagrama (uma mistura das letras) da palavra corona”.

Conforme expõe a reportagem, embora exista limitações e restrições impostas pelo YouTube e outras redes, “essa é apenas uma de nove estratégias que estão sendo comumente utilizadas por criadores de conteúdo para instaurar em meio a sociedade uma gama de notícias falsas e teorias da conspiração sobre a pandemia”.

O tema ganhou espaço não só na BBC, mas também em outros portais de notícias, logo após a publicação da tese de doutorado da jornalista Dayane Machado, que monitorou minuciosamente vídeos com esse teor. Como pesquisadora, a profissional teve como objetivo entender tanto os comportamentos como também as táticas que estão sendo utilizadas neste momento por influenciadores para prestar um serviço de desinformação sobre os imunizantes que foram produzidos para impedir a transmissibilidade do novo coronavírus.

“Começamos a trabalhar com 20 canais do YouTube e depois expandimos para 50. Nos seis primeiros meses de pandemia no Brasil, analisamos 3.318 vídeos, fizemos uma peneira e selecionamos 1.760 deles para entender como funcionam”, revelou a pesquisadora, que desenvolveu seu projeto de doutorado no Departamento de Política Científica e Tecnológica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Para Machado, a pandemia possibilitou de forma direta meio de alimentar a desinformação. “Em primeiro lugar, as pessoas tiveram mais tempo livre em casa e muitas passaram a lidar agora com as redes sociais”, avalia.

Confira, agora, as estratégias que os influenciadores estão utilizando para espalhar notícias falsas sobre as vacinas.

1. Do YouTube para o Telegram ou Patreon

Quando a pandemia começou a se espalhar pelo mundo, o Google – que, como todos sabem, é dono do YouTube – decidiu priorizar em seus mecanismos de busca apenas fontes oficiais de informação. Conforme expôs a reportagem do BBC, o Google até “proibiu a veiculação de vídeos com informações suspeitas, que não estão de acordo com a evidência científica e o consenso de especialistas ou não podem ser confirmadas”.

Em um comunicado emitido à imprensa, a assessoria de imprensa do YouTube revelou que “desde fevereiro de 2020, a plataforma removeu mais de 800 mil vídeos relacionados à covid-19 que violavam de alguma maneira as políticas da empresa e que muitos conteúdos foram desmonetizados”.

Para sobreviver a esse cenário, inúmeros influenciadores desenvolveram maneiras de burlar o sistema. “Muitos produtores passaram a dizer para seus seguidores entrarem em grupos privados do Telegram ou no Patreon, onde eles dizem que podem falar ‘a verdade’ sem ‘censura'”, explica Machado.

2. Ei, famoso, você aí

Chamar a atenção de famosos, políticos ou jornalistas é outra tática no terreno da desinformação. “Às vezes, uma ideia está restrita a um grupo fervoroso e é amplificada para um público gigantesco quando é compartilhada por alguém com muitos seguidores nas redes sociais”, diz Machado.

No primeiro semestre de 2020, circulou fortemente nas redes sociais a suposta ideia de que o novo coronavírus era uma farsa e que os hospitais não estavam com os leitos de UTI cheios, como a imprensa havia noticiado.

“Essa história surgiu nos Estados Unidos e foi mencionada pelo presidente Jair Bolsonaro numa transmissão ao vivo em junho de 2020. A partir daí, foram vários os registros de pessoas que decidiram invadir enfermarias e UTIs para filmar o que acontecia lá dentro”, relata.

3. Censura

Existe uma linha tênue entre a liberdade de expressão e a divulgação de notícias falsas. Muitos influenciadores levantaram a ideia de que as vacinas que foram produzidas recentemente podem ser fatais – e muitos dos que levantaram tal bandeiras não tinha prova alguma.

Essas pessoas estavam cometendo um crime? A pergunta, sinceramente, deve ser respondida somente pelas autoridades competentes. De todas as formas, a questão mostra que diversos canais no YouTube se aproveitam do questionamento que acabamos de pontuar para adotar uma postura de vítima.

“Eles dizem que há uma censura a todo mundo que não apoia a visão mainstream da medicina'”, observa.

4. Codinomes criativos

Para não serem detectados pelo sistema de vigilância do Google, vários influenciadores deixaram de utilizar termos chaves, como, por exemplo, “covid-19”, “coronavírus” e “vacina”, em títulos ou na descrição de seus conteúdos. “Alguns acham que não podem nem falar essas palavras, pois acreditam que existe uma tecnologia para analisar em detalhes todo o áudio”, acrescenta Machado.

Com o intuito de não serem banidos das redes sociais, os influenciadores adotaram o uso de codinomes. Um dos casos citamos logo no início da matéria: o “racoon”.

5. Recursos gráficos

Com áudios também são monitorados, alguns influenciadores passaram a se esbanjar de recursos gráficos. Muitos apareceram em vídeos com ao lado das palavras “coronavírus” ou “covid-19”, escritas em lousas, plaquinhas de papel, telas ou letreiros.

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