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Mesmo que todos tenham dito o contrário, jovem com autismo se forma em Medicina

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Formar um filho é o sonho de quase todos os pais, ainda mais quando dificuldades são superadas para que esse sonho possa se realizar. E a família de Enã Rezende, de 26 anos, não poupou esforços para mostrar a ele o quão feliz eles estavam pela conquista do seu filho ter se formado em Medicina.

A mãe de Enã, a psicóloga Érica Rezende, disse que esse foi um dos períodos mais felizes de sua vida. “Tem passado um filme diante de mim sobre tudo o que vivemos”, conta. Ela disse que 20 anos atrás uma professora tinha falado a ela que seu filho não conseguiria ser alfabetizado, e vê-lo concluindo uma graduação é uma grande emoção.

“Na colação de grau dele, fiquei em choque, sem expressar muita emoção, porque estava me lembrando de tudo o que vivemos desde que ele era pequeno. Mas no culto ecumênico, não aguentei e chorei bastante”, revela.

Enã é autista e sempre enfrentou bullying por causa disso e por causa disso o menino disse que se sentia inferior. E ele diz que concluir a faculdade de medicina foi uma forma de provar para si mesmo que era capaz.

“Eu dizia para mim: tenho que vencer na vida e mostrar que está todo mundo errado. Sempre soube que teria de lutar mais que os outros para conquistar meus objetivos”, explicou.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é conhecido como uma manifestação autista e as pessoas que sofrem dele têm dificuldades na socialização e comunicação, e também têm padrões repetitivos com ações semelhantes em curto espaço de tempo. E segundo estudos, uma em cada 59 crianças tem alguma característica do TEA.

Logo nos primeiros anos de vida, os pais viram que Enã tinha características diferentes das outras crianças. “Uma das primeiras coisas que percebemos foi a dificuldade na fala. Ele não articulava bem as palavras. Além disso, ele também tinha dificuldades de compreensão e não conseguia olhar nos olhos. Em contrapartida, tudo o que eu ensinava, ele aprendia na primeira vez”, conta a mãe do menino.

Influência

Quando ele tinha sete anos, seu pai morreu em um acidente de carro. “Eu ficava me perguntando sobre o motivo de isso ter acontecido com ele. Foi muito triste”, disse Érica. E depois da morte do pai, o menino sempre se perguntava sobre o pai.

“Eu ficava questionando minha mãe sobre como tinha ficado a cabeça dele. Ela até comprou um esqueleto para me explicar. Não era uma curiosidade normal para uma criança, mas isso me interessava”, comenta.

E foi exatamente por tentar entender o que aconteceu com seu pai que ele se encantou pela medicina. “Costumo dizer que isso foi o embrião para que eu decidisse seguir na área da saúde”, ressalta.

E a influência foi tão grande que ele quis se especializar em Neurologia. “Espero que eu possa salvar as vidas de outros pais. A do meu pai não pôde ser salva, mas quero impedir que outras crianças fiquem sem pai”, disse Enã.

Autismo

Enã foi diagnosticado com autismo aos 19 anos e antes disso, a irmã dele tinha sido diagnosticada com transtorno em nível sério. “Não sei explicar o motivo de dois dos meus filhos serem assim. Já gastei muito com exames, para tentar descobrir, mas desisti, porque não há nada conclusivo para justificar isso”, comenta.

O menino foi diagnosticado com Síndrome de Asperger, que é considerada hoje em dia como um grau leve de autismo. “Fiquei feliz porque fui ler a respeito e realmente senti que me encaixava naquelas características. Isso me deixou aliviado, porque vi que o fato de eu ser assim tem um nome. Mas fiquei triste porque vi que é uma condição neurológica irreversível. Por algum tempo, tive preconceito contra mim mesmo. Mas essa fase já passou, hoje lido muito bem com isso”, explica Enã.

Faculdade

Em 2012, ele foi aprovado na Universidade de Cuiabá e começou o curso em 2013. Enã ficou feliz, mas ao mesmo tempo com medo das dificuldades que poderia enfrentar. “Uma das dificuldades do autista é na comunicação. O meu maior medo era lidar com os pacientes, porque tenho dificuldade de olhar nos olhos das pessoas, por conta do autismo. Eu venci esse temor quando comecei a fazer atendimentos”, conta.

Ele sempre foi um aluno exemplar. Nunca reprovou em nenhuma matéria, ajudava os colegas de sala e chegou a ser monitor do curso ajudando outras turmas.

O que Enã mais aguardava era o momento da colação de grau. “Fiquei um pouco nervoso na hora, mas depois foi um alívio. É importante lembrar que tenho uma grande responsabilidade pela frente por ser médico, sendo autista ou não”, disse.

E Enã olha para o futuro com esperança e encoraja outras pessoas a fazer o mesmo. “Eu sei que para alguns, as percepções podem ser difíceis. Vocês vão ter dificuldades, mas nunca incapacidades. Se vocês têm um sonho, corram atrás dele. Não desistam”, conclui.

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