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Os funcionários que escondem suas deficiências dos chefes

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Muitos funcionários costumam esconder dos chefes quando se machucam e suas deficiências. Em uma pesquisa, Cat Mitchell, professora da Universidade de Derby, no Reino Unido, descobriu que um quarto dos entrevistados escondeu sua deficiência do departamento de Recursos Humanos. Além disso, apenas 36% falaram sobre a situação com colegas.

Grace, de 24 anos, — que tem a Síndrome de Ehlers Danlos, uma condição que faz com que sinta dor extrema nas articulações, fadiga crônica, instabilidade articular e tenha deslocamentos frequentes — afirma que para ela era comum sentir dores, chorar no banheiro, e depois voltar para a sua mesa e trabalhar, fingindo que nada está acontecendo.

Apesar de existirem poucos dados sobre pessoas que escondem uma deficiência no local de trabalho, os especialistas acreditam que o estigma em torno de diversas deficiências e doenças de longa duração apontam que é comum que as pessoas mantenham a sua condição em segredo dos chefes e colegas.

“A simples razão pela qual as pessoas com deficiência não revelam isso é que muitas vezes temos medo”, afirma Mitchell. A pesquisadora aborda sobre as barreiras que os funcionários com deficiência e os candidatos a emprego enfrentam.

“Temos medo de sermos tratados de forma diferente, de termos menos oportunidades de trabalho e que isso afete nossas chances de progredir ou até mesmo nos leve a ser demitidos.”

Ela afirma que mesmo com legislações sobre igualdade, é difícil para os funcionários provarem que perderam uma vaga ou foram excluídos de uma promoção por causa de uma deficiência, por isso muitos optam por manter o segredo.

Não escondem as deficiências sem motivo

Foto: Getty Images

Uma pesquisa aponta que uma em cada três pessoas vê quem tem deficiência como sendo menos produtivo do que seus colegas sem deficiência. Essa crença acaba se aplicando nos ambientes de trabalho.

No Reino Unido, 17% dos adultos com deficiência afirmam ter perdido uma oportunidade de trabalho por causa da sua deficiência. Além disso, 30% revelaram que sentiam que não eram levados a sério como candidatos por causa da deficiência.

Já dados de uma pesquisa francesa apontaram que menos de 2% das pessoas que mencionaram ter uma deficiência em seu corpo foram chamadas para uma entrevista. 

“É um sentimento de vulnerabilidade, pensar que alguém vai julgar você e sua capacidade de fazer um trabalho ou tarefa com base em sua saúde ou deficiência”, explica Rachael Mole, presidente da SIC, organização sem fins lucrativos que auxilia pessoas com deficiência e doenças crônicas a encontrar trabalhos acessíveis e inclusivos.

Alívio no lockdown

Foto: Getty Images

Grace conta que o lockdown tornou mais fácil para ela esconder a condição, pois podia fazer pausas quando estava com dor.

“Eu podia tomar analgésicos durante o dia e não me preocupar em ficar fora do ar no escritório. Também não precisava carregar uma bolsa pesada e meu laptop no transporte público, o que havia agravado minha dor no passado.”

Para Mitchell, Grace faz parte do grupo de profissionais que descobriram que o lockdown ajudou a gerenciar a deficiência escondida.

De acordo com ela, a mudança para um mundo de trabalho remoto normalizou maneiras de trabalho que podem beneficiar funcionários com deficiência ou com doenças crônicas por muitos anos, desde que as empresas mantenham esses regimes flexíveis em vigor.

“Antes da pandemia, muitas pessoas com deficiência (inclusive eu) tinham dificuldade de conseguir permissão para trabalhar alguns dias de casa. Mesmo quando conseguíamos, os colegas muitas vezes viam como dias de folga ou não confiavam que estávamos trabalhando duro o suficiente quando estávamos fora do escritório. No geral, há muito a ganhar tendo mais controle sobre nossos ambientes de trabalho, e a pandemia nos mostrou que isso não prejudica a produtividade”, conta Mitchell.

Bethan Vincent, de 30 anos, passou muitos anos lutando para controlar a endometriose no escritório. Para ela, trabalhar de casa durante a pandemia transformou completamente sua capacidade de lidar com o distúrbio. Por isso, Vincent deixou o antigo emprego e abriu o seu próprio negócio, dando a si a autonomia de trabalhar remotamente de forma permanente.

“Agora posso ficar sentada com uma bolsa de água quente o dia todo, se necessário. Ainda trabalho de forma integral a semana inteira, mas se precisar tirar uma hora de folga pela manhã para descansar, eu posso.”

Uma relíquia do passado pandêmico?

Foto: Getty Images

Apesar dos especialistas acreditarem que o trabalho remoto abriu novos caminhos para discutir a acessibilidade, conforme as restrições impostas pela pandemia são reduzidas em muitos países, alguns funcionários com deficiência se tornam preocupados que as condições que os permitiam trabalhar com conforto se tornem uma relíquia do passado pandêmico.

A empresa de Grace pediu que ela retorne ao escritório por até três dias por semana, e o tempo que passa no transporte público agravou sua dor no ombro. Ela ainda precisa lutar para diminuir os analgésicos em um esforço para parecer mais presente ao redor dos colegas, mas está achando cada dia mais difícil controlar os sintomas da Síndrome de Ehlers Danlos.

“Prefiro trabalhar de casa e administrar minha condição do meu jeito do que ter que voltar para casa doente do trabalho”, afirma ela.

Para Grace e outros profissionais, a pandemia ofereceu uma nova perspectiva de trabalho. No entanto, afora o desafio é se os empregadores vão implementar estas condições no futuro ou se retornarão ao passado.

Em relação aos que ainda escondem uma deficiência, Mitchell afirma que a responsabilidade de se manifestar não deveria ser deles. De acordo com ela, os empregadores devem desenvolver ambientes nos quais as pessoas com deficiência sejam bem-vindas e possam revelá-las no futuro.

Fonte: BBC

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