Apesar de ser o mais famoso, a Pangeia não foi o primeiro supercontinente da Terra. Geólogos apontam que ele também não será o último.
Primeiramente, é preciso explicar que apenas a partir dos anos 1970, com a consolidação da Teoria da Tectônica de Placas, ficou provado que não há pontos fixos em nosso planeta. Continentes e oceanos movem-se continuamente, ainda que com velocidades de apenas alguns centímetros por ano, de acordo com o professor de geologia, Fernando F. Alkmim, em matéria publicada na Superinteressante.
A Terra possui um revestimento sólido e rígido, chamado de litosfera. Esse revestimento é segmentado em várias peças, parecidas com gomos de uma bola de futebol, só que em formas e tamanhos desiguais. Essas peças (que têm espessura média de 100 km) são as placas litosféricas.
Em constante movimento, a maior parte das placas litosféricas possui uma parte espessa e relativamente mais leve, que corresponde ao ocidente. Em outra parte, mais delgada e densa, está os oceanos.
A litosfera oceânica recicla-se continuamente. Ela é mais densa que o material que se assenta, chamado astenosfera. Ela é formada por atividade vulcânica nas dorsais oceânicas e afunda em longas fossas para ser consumida no interior da Terra.
Já a parte continental das placas flutuam sobre a astenosfera. Por ser mais leve, ela não é consumida no interior terrestre. Os continentes estão à deriva do globo terrestre desde que começaram a se individualizar na Terra primitiva.
Supercontinentes e seu ciclo
A teoria da Deriva Continental foi apresentada à comunidade científica pelo meteorologista alemão Alfred Wegener em 1912. A teoria previa que no passado, todos os continentes atuais estavam reunidos em uma terra única, o supercontinente Pangeia.
Após 60 anos da divulgação e oposição quase unânime às ideias de Wegener, ficou finalmente provado que, há 260 milhões de anos, praticamente toda a massa continental existente reuniu-se na Pangeia.
Este supercontinente permaneceu íntegro por aproximadamente 90 milhões de anos. A sua fragmentação começou no período Jurássico, com a geração de novos oceanos e consumo progressivo do Pantalassa.
Atualmente, de acordo com o professor de geologia, Fernando F. Alkmim, em matéria publicada na Superinteressante, sabe-se que Pangeia foi precedida por duas outras reuniões mais de 75% da massa continental, além de algumas aglutinações de continentes relativamente grandes.
Também foi constatado que estas reuniões são cíclicas. Inclusive, fala-se do ciclo de supercontinentes, caracterizado por aglutinações que perduram entre 80 e 200 milhões de anos, alterados por períodos de deriva até nova reunião, o que pode durar cerca de 500 milhões de anos.
Reconstruindo supercontinentes
A reconstrução da Pangeia não parece ter sido uma tarefa difícil para Wegener. Foi preciso constatar a grande similaridade geológica dos continentes hoje separados pelos oceanos, além da congruência entre os traçados em mapa das suas linhas de costa.
No entanto, reconstruir supercontinentes anteriores à Pangeia não é uma tarefa simples.
Primeiramente, é preciso destacar que sabemos da existência de outros supercontinentes graças às aglutinações e dispersões que deixam rastros na forma de grandes edifícios geológicos, como cadeias de montanhas.
O maior problema das reconstruções é a determinação das posições relativas de diversas peças do quebra-cabeça, uma vez que elas estão bastante modificadas e seus contornos não mais se encaixam.
Para isso, os geocentristas usam ferramentas e métodos para determinar a idade das rochas e como elas foram formadas. No entanto, grande parte, carentes de testes e confirmações.
Os continentes primitivos
Os continentes contêm núcleos muito antigos, preservados das grandes transformações que experimentaram ao longo de mais de dois bilhões de anos de deriva e colisões. São os chamados crátons.
Um grupo de geocientistas pesquisou entre grupos de crátons, notáveis similaridades na natureza e idades das rochas de que são formados. Com isso, propuseram a existência de núcleos continentais que, provavelmente, formaram continentes de dimensões consideráveis em tempos remotos.
São eles os seguintes:
- Vaalbara: de 2,9 bilhões de anos, reuniria o Cráton do Kaapval. Atualmente está localizado na África do Sul, com o Cráton de Pilbara, hoje no extremo noroeste da Austrália;
- Superia: de 2,7 bilhões de anos, englobaria os crátons Superior, Wyoming e Hearne da América do Norte, além da Provincia Kola-Karelia do leste Europeu;
- Sclavia: de 2,6 bilhões de anos, incorporaria os cráton Slave, da América do Norte, e de Dharwar, da Índia.
Dentre outras configurações propostas para os primeiros continentes, está uma que sugere a existência, há 2,5 bilhões de anos, de um supercontinente: a Protopangeia.
Columbia e Rodínia: o primeiro e o segundo supercontinente
Chamado originalmente de Nuna, o primeiro supercontinente teria existido há 1,7 bilhões de anos. Ele ficou posteriormente mais conhecido como Columbia e a desagregação teria sido iniciada por volta de 1,5 bilhões de anos.
Já o segundo supercontinente teria sido Rodínia (palavra da língua russa que significa “terra mãe”). Ele teria sido formado há um bilhão de anos e – completamente desagregado há 750 milhões de anos.
Gondwana, uma grande reunião antes da Pangeia
Diversas placas produzidas a partir da fragmentação e dispersão de Rodíniase reuniram e formaram o Gondwana. Ele chegou à sua montagem final há cerca de 550 milhões de anos.
Na sua constituição, entraram todos os continentes que hoje se encontram no hemisfério sul.
Mais tarde, Gondwana encontra a Laurásia, e juntas elas constituem as partes meridional e setentrional da Pangeia, separadas pelo mar de Tethys primitivo (ou Paleotethys).
O território brasileiro tem uma enorme herança gondwânica em sua genealogia. O “berço esplêndido” do Brasil foi construído durante a formação do Gondwana, quando placas continentais convergiram e colidiram.
Entre essas placas, destacam-se a Amazônica, a do São Francisco-Congo e a do Rio de la Plata. As colisões entre elas aconteceram entre 630 e 520 milhões de anos.
A ruptura do Gondwana, então incorporado na Pangeia, deu origem ao Oceano Atlântico e às várias bacias sedimentares das costas equatorial e leste do Brasil.
Como será o próximo supercontinente?
Considerando o ciclo de supercontinentes, alguns cientistas já especulam como deverá ser a configuração da Terra no futuro. Uma das hipóteses aponta que daqui a 50 a 200 milhões de anos, um novo supercontinente surgirá.
Nomeado como “Amasia”, o supercontinente teria como elemento central a conexão entre a América do Norte e a Ásia.
Em uma construção mais fundamentada e acompanhada de notável animação computacional, o pesquisador Christopher Scotese da Northwestern University, EUA, estima que existirá uma aglutinação, daqui a 250 milhões de anos, do supercontinente chamado “Pangaea Proxima”. O nome foi escolhido devido à sua semelhança com a Pangeia.
Fonte: Superinteressante