Plano para criar “escudo espacial” contra o Sol é cancelado após controvérsias

A Universidade de Harvard havia anunciado um de seus planos mais ambiciosos e polêmicos, um escudo espacial, mas essa ideia acabou indo por água abaixo.

O Experimento de Perturbação Controlada Estratosférica (SCoPEx, na sigla em inglês) estava à beira de sua realização, mas a instituição decidiu cancelá-lo após controvérsias.

A iniciativa, financiada por Bill Gates em 2021, tinha como objetivo utilizar partículas de “poeira” para bloquear a luz solar na atmosfera terrestre e resfriar o planeta.

Plano de escudo espacial

Via PICRYL

O plano envolvia o envio de um balão de hélio à estratosfera, carregando pequenas partículas de substâncias como carbonato de cálcio e ácido sulfúrico.

Ao serem liberadas, essas partículas deveriam se dispersar e refletir a luz solar, resfriando temporariamente o clima da Terra como um escudo espacial.

Embora algumas simulações indicassem que o experimento poderia ter sucesso, outras sugeriam potenciais consequências climáticas adversas.

Além disso, críticos do projeto destacaram a falta de consentimento das comunidades que poderiam ser impactadas pela iniciativa.

Dissolução da equipe

No anúncio feito em março, foi informado que Frank Keutsch, líder da pesquisa do experimento, não estava mais envolvido na execução do projeto.

O motivo não foi especificado, mas é possível associar o término do plano às críticas e advertências sobre os possíveis impactos climáticos que o SCoPEx poderia gerar.

Embora algumas simulações de geoengenharia solar tenham mostrado que o experimento poderia resfriar efetivamente a Terra, outras revelaram eventos climáticos de diferentes intensidades – podendo até mesmo influenciar a propagação de doenças.

Além disso, críticos insistiram na falta de discussão entre todos os envolvidos. Apesar do encerramento do SCoPEx, o dispositivo desenvolvido pelos pesquisadores será utilizado em outros projetos científicos na estratosfera.

A pesquisa em geoengenharia solar continuará em Harvard por meio do Programa de Pesquisa em Geoengenharia Solar, que aborda diversas questões, como ciência, engenharia, governança e implicações políticas e sociais.

Via Flickr

Por que não deu certo?

O conceito desse escudo espacial para bloquear a luz solar e resfriar a Terra teve vários desafios técnicos, científicos e éticos.

Para começar, embora algumas simulações sugerissem que o bloqueio parcial da luz solar poderia reduzir a temperatura da Terra, o clima global é extremamente complexo e difícil de prever com precisão.

Pequenas alterações no equilíbrio de radiação solar poderiam ter consequências sérias, como mudanças nos padrões de precipitação, ventos e correntes oceânicas, podendo levar a secas, tempestades, ou outros fenômenos climáticos extremos em diferentes partes do mundo.

Além disso, o uso de partículas como carbonato de cálcio e ácido sulfúrico poderia ter impactos ambientais adversos.

Essas substâncias alteram a química da atmosfera, podendo danificar a camada de ozônio ou afetar a saúde das pessoas que estivessem abaixo da área de liberação das partículas.

Projetos desse tipo levantam questões éticas complexas, especialmente em relação à governança global. Quem decide onde e como implementar um experimento que afeta o clima de todo o planeta?

A falta de consentimento entre as comunidades se torna uma preocupação importante, já que diferentes regiões do mundo poderiam ter impactos negativos desiguais.

E mesmo que o escudo espacial funcionasse, ele seria uma solução temporária. Seria preciso mantê-lo sem prazo, o que exige muitos lançamentos repetidos, muito investimento e não resolveria as causas, apenas adiaria as consequências.

Por esse e outros motivos, o experimento acabou ficando na gaveta. Esse efeito de resfriamento acabaria sendo superficial, além da possibilidade do rebote. Ou seja, aumentar severamente as temperaturas após algumas rodadas, o que traria mais danos que ajuda.

Cientistas seguem estudando essa e outras possibilidades, mas, por enquanto a solução do aquecimento global segue na Terra, e não na atmosfera.

 

Fonte: Olhar Digital

Imagens: PICRYL, Flickr

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