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Por que risco de febre amarela aumenta no Brasil e o que macacos têm a ver com isso

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Em outubro do ano passado, uma equipe de cientistas adentrou a Mata Atlântica em busca de macacos. Basicamente, a presença dos pesquisadores no local envolve impedir que o novo surto de febre amarela, que assola os primatas que habitam a região, se espalhe para os humanos.

Como todos nós sabemos, o Brasil, desde março de 2020, segue enfrentando o novo coronavírus. Diante da triste realidade, os cientistas temem que a febre amarela possa invadir o país.

Febre amarela

Conforme expôs uma recente reportagem publicada pela BBC, a febre amarela, a cada ano, infecta cerca de 200 mil pessoas. Dentre os infectados, cerca de 30 mil acabam sendo sucumbidos pela doença O número, se comparado a ataques terroristas e acidentes de avião juntos, é alarmante.

A doença, ocasionada por um vírus, é transmitida entre humanos e primatas por meio de mosquitos. De acordo com os especialistas, os sintomas mais comuns incluem febre intensa, dores de cabeça e icterícia e os casos mais graves provocam hemorragia interna e insuficiência hepática.

A presença da febre amarela em nosso país deixou os cientistas em estado de alerta, principalmente devido aos últimos dados que foram divulgados. Segundo a BBC, o Brasil, nos últimos anos, registrou mais casos de febre amarela do que qualquer outra nação.

Os surtos da doença começaram em dezembro de 2016, em Minas Gerais e, em seguida, assolaram o Espírito Santo. Em maio de 2017, a doença se alastrou pelo Brasil, se fazendo presente no Rio de Janeiro e até mesmo no Pará.

Para os pesquisadores, esse foi, sem sombra de dúvida, o pior surto em mais de 80 anos – mais de 3 mil pessoas foram infectadas e 400 morreram. “Quando você tem primatas confinados em pequenas florestas em alta densidade… é fácil para todo mundo se infectar”, diz Carlos Ramon Ruiz-Miranda, biólogo conservacionista da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf).

Macacos vs. homens

As florestas do Brasil estão infestadas de mosquitos, o que, obviamente, proporciona uma transmissibilidade rápida da doença entre os micos-leões-dourados e os humanos. Embora os mosquitos sejam os principais transmissores, a situação se agrava por conta da constante presença do homem nas florestas, que, além de reduzir a biodiversidade, acabam ficando mais próximos de outros primatas.

E essa é a real razão pela qual os cientistas estão trabalhando em meio a Mata Atlântica. “A proximidade entre essas áreas urbanas densas e as florestas cria as condições perfeitas para uma epidemia de dimensão sem precedentes desde a descoberta da vacina contra a febre amarela, há quase um século. Isso mesmo que a febre amarela tenha uma vacina — muito eficaz”, diz a pesquisadora de genética e primatas Mirela D’Arc, colega de Ruiz-Miranda na Uenf.

Por conta do último surto, o Ministério da Saúde anunciou, em 2018, uma campanha de vacinação para atender 80 milhões de brasileiros. Poucos foram os municípios que conseguiram vacinar 95% da população e muitos foram os que a taxa mal chegou a 50%.

A nova abordagem, agora, envolve vacinar os primatas. “Uma forma de impedir a propagação da doença é vacinar os humanos e os micos-leões-dourados”, diz D’Arc. “Se você vacinar os macacos, terá menos indivíduos portadores da doença”, acrescenta Ruiz-Miranda. “É imunidade de rebanho.”

Ameaça

No início de 2017, um fazendeiro encontrou um mico-leão-dourado morto na floresta. Em equipe foi até o local para examinar o corpo do primata. Assim que os resultados foram disponibilizados, descobriu-se que o macaco havia testado positivo para febre amarela.

Ao realizar uma varredura na área, os pesquisadores encontraram mais cinco macacos mortos – todos da mesma espécie. No final de 2017, a febre amarela já havia acometido mais de 4 mil primatas – entre algumas espécies, além do mico-leão-dourado, a taxa de mortalidade foi de 80-90%.

“No geral, perdemos 30% da população, que passou de 3,7 mil para 2,6 mil em um período de menos de um ano”, conta Ruiz-Miranda. “A vida selvagem é tão vítima da doença quanto a população humana”.

“Como o Brasil abriga mais espécies de primatas do que qualquer outro país no mundo, o melhor, agora, é salvar os micos – e, assim, provavelmente, podemos salvar os brasileiros também”.

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