Ciência e Tecnologia

Transplante de coração e timo salvou bebê de seis meses

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Um pequeno bebê norte-americano fez história na medicina ao se tornar a primeira pessoa no mundo a receber um transplante combinado de coração e timo. O procedimento pioneiro foi feito para salvar a vida do bebê, que é chamado de Easton, mas os médicos esperam que o avanço realizado também possa alavancar a área de transplantes de órgãos.

Como Easton precisava de um novo coração, o timo também foi transplantado para impedir que seu corpo rejeitasse o novo coração. Meses após a cirurgia, exames revelam que o bebê está evoluindo bem e o tecido do timo está funcionando, o que corresponde exatamente ao objetivo que os médicos tinham.

Stephanie Lopez

O timo é uma glândula que ajuda o desenvolvimento de células T, que combatem substâncias estranhas no corpo. Nesse caso, o funcionamento do timo significa que o corpo de Easton está construindo células imunológicas vitais. Essas células podem reduzir ou até eliminar a necessidade de que ele tome medicamentos imunossupressores (que evitam a rejeição do órgão transplantado) ao longo da vida.

A história de Easton

Easton nasceu com problemas no coração e no sistema imunológico. Ele passou os primeiros sete meses de vida no hospital (alguns deles ligado a aparelhos) e precisou ser submetido a várias cirurgias cardíacas, assim como a tratamento para infecções recorrentes que seu corpo não conseguia combater sozinho.

De acordo com a BBC, a mãe do bebê, Kaitlyn Sinnamon, contou que as cirurgias ajudaram “um pouco”. “Ajudou um pouco, mas foi basicamente um band-aid para sobrevivermos até o transplante”, afirmou. Dessa forma, os médicos solicitaram uma autorização ao Food and Drug Administration (FDA), que é o órgão regulador de saúde dos Estados Unidos, para realizar um tipo experimental de transplante que não havia sido feito de forma combinada antes.

Como Easton precisava de um novo coração que não poderia ser rejeitado, o FDA aprovou que o timo fosse transplantado no mesmo procedimento. Os dois transplantes foram realizados em agosto de 2021, quando Easton tinha seis meses.

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Stephanie Lopez

“O trabalho que fizemos no laboratório foi baseado no uso do timo junto com o transplante de coração para desenvolver tolerância – basicamente, retreinar o sistema imunológico e fazer com que o timo do mesmo doador e o coração cresçam juntos”, afirmou o médico Joseph Turek, do Duke University Hospital, na Carolina do Norte (Estados Unidos).

“Pensamos que esta era uma oportunidade para Easton. E poderia ser aplicada a todos os órgãos sólidos no futuro, se funcionar”, completou o médico que acompanha o bebê. No entanto, para que esse procedimento passe a ser realizado amplamente, muitas outras pesquisas e experimentos são necessários.

“Espero que, à medida que crescer, ele se orgulhe de suas cicatrizes e saiba que ele não apenas salvou sua própria vida, mas também salvou a vida de outras pessoas”, afirmou a mãe de Easton. A longo prazo, os médicos pretendem retirar os remédios imunossupressoras do bebê para ver como ele evolui.

O transplante de timo

O transplante de timo tem sido testado há alguns anos para tratar uma forma rara e grave de imunodeficiência primária. À Agência FAPESP, a pediatra Mary Louise Markert, que coordena a equipe médica responsável pelo transplante na Duke University (Estados Unidos), afirmou que o procedimento é indicado para os casos mais severos de uma doença genética conhecida como síndrome de DiGeorge, nos quais o bebê nasce sem o timo.

“O timo funciona como uma escola, onde um tipo muito importante de célula de defesa – o linfócito T – amadurece e aprende a proteger o corpo contra os patógenos. Na forma completa da síndrome de DiGeorge não há linfócitos T na corrente sanguínea do paciente, o que significa que ele está completamente vulnerável a infecções”, explicou Markert à Agência FAPESP.

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Também é no timo que as células T aprendem a diferenciar os antígenos do próprio organismo e a não atacá-los. Em alguns pacientes com uma forma atípica da síndrome de DiGeorge, as células T até estão presentes no sangue, mas sem terem passado pelo treinamento no timo. Por conta disso, passam a atacar o próprio corpo, causando inflamações na pele e em outros órgãos.

Até 2013, a equipe nos Estados Unidos já havia realizado o procedimento em 64 crianças com a forma completa de DiGeorge e em outros dois portadores de uma  mutação no gene Foxn1 – caracterizada pela ausência de timo e de cabelo.

“Quando um cirurgião cardíaco opera um bebê com cardiopatia congênita, precisa muitas vezes remover uma parte do timo, pois esse órgão fica bem na frente do coração e é muito grande em recém-nascidos. Em vez de descartar o tecido no lixo, eles o colocam em um copo esterilizado e me informam. Claro que isso é feito com o consentimento da família”, contou Markert.

O material doado passa então por uma bateria de exames para descartar qualquer tipo de contaminação. Em seguida, as células são cultivadas em laboratório e cortadas em fatias bem finas. “Após duas ou três semanas, essas fatias são implantadas no músculo da coxa da criança receptora. É como plantar tulipas: o cirurgião abre um espaço entre as células musculares, coloca o tecido e tampa”, contou.

As células do timo passam a crescer na perna e os glóbulos brancos imaturos produzidos na medula óssea começam a se dirigir ao local para receber o treinamento, contou a médica. “Quando tudo dá certo, quatro meses após o transplante as células T maduras já podem ser detectadas na corrente sanguínea”, disse a cientista.

Ela ressalta, porém, que a síndrome de DiGeorge pode comprometer outros órgãos, como a glândula paratireoide e o coração, e esses problemas não são resolvidos com o transplante de timo. “Durante o desenvolvimento embrionário, o timo, a paratireoide e o coração ficam todos localizados no pescoço do feto. Depois, o timo e o coração descem para o tórax e a paratireoide permanece no pescoço. Em portadores de DiGeorge, alguma coisa dá errado durante a gestação e esses órgãos são afetados”, explicou Markert.

Fontes: BBC e Agência FAPESP

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