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Violinista “chavosa” mistura erudito com funk e música popular nos metrôs

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Quando pensamos em música erudita, normalmente, a associamos com orquestra e ambientes mais formais. No entanto, essa violinista mostra que esse tipo de música pode estar nos ambientes mais inimagináveis. Isso porque Maria Luiza Kaluzny toca seu instrumento nos vagões das linhas de metrô de São Paulo.

A violinista nascida na Cidade Industrial de Curitiba, no Paraná, se apresenta com seu violino para os passageiros que estão no transporte público. Ela se motiva ao ver os olhares interessados em seu trabalho e ao observar as pessoas tirarem seus fones de ouvido ou pararem de olhar para o celular para prestar atenção nela.

Atualmente, Maria Luiza mora na Vila Brasilândia, no extremo da Zona Norte paulistana, e viaja aproximadamente uma hora dentro dos ônibus até chegar ao seu local de trabalho, que é a estação de metrô mais próxima.

Violinista

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Quando ela está nos vagões, a “violinista chavosa”, como é conhecida artisticamente, mistura músicas populares, internacionais e clássicas. Entretanto, o estilo musical que ela mais gosta de tocar e ouvir é o funk.

“Acho que o uso do violino é muito simbólico porque é um instrumento que todo mundo conhece o nome. É pegar um instrumento extremamente erudito, elitizado, e falar ‘agora eu estou colocando no que eu ouço, no que eu vivo, na cultura que é do meu povo'”, disse ela.

As apresentações que a violinista faz chamam atenção dos passageiros dos metrôs. Tanto que, nas redes sociais, são postados vários vídeos dela tocando e os passageiros sempre dizem que foi uma surpresa encontrá-la em seu trajeto para casa, para o trabalho ou enquanto estavam indo passear.

Como a violinista chavosa foi ganhando cada vez mais notoriedade, ela foi chamada para se apresentar no palco do “Domingão com Huck”, no último domingo.

Começo

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Maria Luiza toca violino desde os 11 anos e, no ano passado, se mudou para São Paulo para buscar seu sonho de desenvolver sua carreira. Ela foi para a cidade depois de receber uma proposta de um empresário do ramo do funk.

Inicialmente, a ideia era fazer com que Maria Luiza fosse uma atração completa, atuando como MC e violinista. Contudo, os planos não saíram como ela esperava e a parceria com o empresário acabou terminando.

Como a jovem estava longe da sua família, que ficou em Curitiba, ela não estava com outros projetos em vista e viu suas contas acumulando. Foi então que ela viu nos vagões do metrô uma oportunidade.

“A gente teve desavenças, eu acabei ficando desamparada em São Paulo, e a minha alternativa, como eu tinha largado tudo, foi tocar no metrô. Comecei no metrô pela necessidade. Com o tempo, fui me apaixonando por isso, porque é muito legal você levar música todos os dias para todos os tipos de pessoas”, contou.

Para se apresentar nos metrôs, a coragem e orientações veio com o apoio de um amigo da jovem, que também é violinista, que ela conheceu no transporte. Esse amigo levou Maria Luiza para um “intensivo” que, de acordo com ela, a levou para acompanhá-lo em suas apresentações. Nesse momento, ele explicou para ela como funcionava a rotina e o planejamento de um músico de metrô.

“Ele falou assim: ‘Malu, calma, você está em São Paulo, tem muita oportunidade. No começo, se você não quiser tocar, não precisa. Vá e veja como é. Aí, quando se sentir à vontade, a gente se apresenta junto'”, lembrou.

Planejamento

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Outra dica importante que o amigo deu à violinista foi a respeito dos perfis de cada linha do metrô e dos passageiros que as frequentam. “A Linha Azul, que faz norte/sul, e a Linha Vermelha, que faz leste/oeste, são linhas que pegam mais o pessoal indo trabalhar, indo para a faculdade, voltando da aula. Ele foi me passando essas ‘manhas’. Na Linha Verde, por exemplo, que passa pela Paulista, tem muito turista, então, você tende a ganhar mais dinheiro”, comentou.

A violinista faz o seu planejamento de trabalho de acordo com seus objetivos financeiros que ela estipula. Mas também existem os artistas de metrô que determinam uma quantidade de horas para cumprir no dia e encerram seu expediente quando elas acabam.

“Trabalho com metas. Por conta disso, eu falo ‘essa semana eu tenho que pagar o aluguel. Nesta semana vai vencer não sei o quê. Hoje minha meta é R$ 200’, ‘a minha meta é R$150’. Mas, além da meta, com certeza o que vale é essa interação com o público. Tem dias que você toca muito bem e não ganha tanto dinheiro quanto em outros”, explicou ela.

Como a atividade de artistas e vendedores nos vagões em São Paulo não é regularizada, a violinista fala que em várias linhas ela tem que lidar com os seguranças do transporte que abordam os músicos e os tiram da estação.

“Estou trabalhando, ganhando meu pão, porém, o cara quando vem me abordar, é o trabalho dele também. Particularmente, eu tento não levar para o pessoal, não tornar o cara como um inimigo”, pontuou.

Quando Maria Luiza é retirada do metrô pelos seguranças, ela tem que pagar outra passagem para voltar e geralmente procura uma linha diferente para ir.

Público

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Por mais que a motivação da violinista para se apresentar nos metrôs tenha sido a necessidade, ela diz que o contato com o público é a principal recompensa. “O que deixa meu dia melhor não é o quanto eu ganhei, mas essa reação das pessoas. Tem dias que eu recebo mensagens assim: ‘Eu estava indo para uma entrevista de emprego, muito tensa, entrei no metrô e você tocou aquela música que eu gosto. Foi Deus que colocou você ali naquele momento’. Então, o que vale a pena é tornar o dia das pessoas melhor”, afirmou.

Segundo ela, hoje em dia, ela concilia a rotina no metrô com eventos que, várias vezes, surgem de pessoas que a viram no metrô. Além disso, Maria Luiza também trabalha para alavancar sua carreira como funkeira.

“Queria muito levar a Violinista Chavosa funkeira para o metrô, porém, o número de funk não é tão rentável. No dia a dia a gente está ali com senhoras, pessoas muito diferentes. Você entra em um vagão, tem um advogado, um marqueteiro, todos no mesmo vagão. O número de funk não é bem aceito de primeira, na maioria dos casos”, comentou.

Por isso que ela toca sucessos do funk quando está em um vagão com passageiros mais jovens ou quando está em uma região que ela considera de maior aceitação. Nas outras linhas, ela não toca tanto funk, mas usa o estilo de roupas e acessórios para chamar a atenção e surpreender os passageiros.

“Eu me caracterizo, vou com óculos juliet (espelhado), camisa de time, tênis de mola. Aí, eu chego e toco uma música que a maioria vai gostar, que é o pop internacional ou uma musica clássica. Quando eu entro, o pessoal espera uma coisa e, aí eu toco, e eles ficam ‘caramba’. Aí eu falo ‘quem gostou do meu trabalho, confira mais nas redes sociais, a Violinista Chavosa, e você vai ver todos os outros números, como funk”, disse.

“Se não der certo esse, eu lanço outro projeto, até dar certo. Onde eu quero chegar é conseguir estourar no funk como tantos outros, mas ser essa nova porta. Quero que minha música seja tocada, mas se eu não chegar a ter uma música na boca do Brasil todo, que, pelo menos, eu tenha inspirado pessoas a entrar com instrumentos nessa área, e por que não no RAP, no Trap e outros ritmos periféricos?”, concluiu.

Fonte: G1

Imagens: G1

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