Natureza

Cientistas entram, pela primeira vez, na Fossa do Atacama

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Pela primeira vez na história, dois oceanógrafos entraram na Fossa do Atacama, a fenda de mais de 8 mil metros de profundidade nas costas do Chile e do Peru. Antes da aventura dos chilenos Osvaldo Ulloa e Rubén Escribano, nenhum ser humano tinha visto as profundezas da Fossa do Atacama, que é uma das fendas mais longas do oceano profundo, com 5.900 quilômetros de extensão.

Ulloa é diretor do Instituto Milênio de Oceanografia da Universidade de Concepción, no Chile. Escribano, por sua vez, é vice-diretor. Os dois já estudam a Fossa do Atacama há muito tempo, mas as pesquisas se concentravam na superfície. Foram eles (junto com uma equipe do Instituto) os responsáveis por mapear parte da topografia da Fossa pela primeira vez. 

fossa do atacama

Caladan Oceanic

Em 2018, durante a Expedição Atacamex, eles tiraram algumas fotos, vídeos, e coletaram amostras de água e DNA das criaturas que habitam esse submundo nunca antes explorado. Mas, já em 2022, a atitude dos parceiros de estudo foi ainda mais ousada: eles foram, de fato, até o fundo da Fossa do Atacama.

A descida foi realizada com a expedição do explorador americano Víctor Vescovo. Em 2019, Vescovo se tornou a primeira pessoa a visitar os cinco pontos mais profundos dos cinco oceanos, pilotando um submarino especialmente construído para esse propósito. Dessa forma, o explorador possui bastante experiência no assunto, e junto aos oceanógrafos, tornou-se a pessoa ideal para adentrar as profundezas. 

Os três se tornaram os primeiros seres humanos a descer ao fundo da Fossa do Atacama. Os dois oceanógrafos foram a Vescovo individualmente, ou seja, a expedição foi realizada pelo explorador e Ulloa e, depois, Ulloa retornou à superfície e Escribano desceu com o explorador. Sendo assim, duas viagens de exploração foram realizadas à Fossa.

A expedição

Cada uma das duas viagens durou um total de dez horas. Para realizá-las, os oceanógrafos precisaram se preparar previamente. Foi necessário que eles se desidratassem na noite anterior (ou seja, eliminassem o excesso de água do corpo por meio da urina e não ingerissem mais líquidos), levar roupas quentes e um sanduíche, já que a descida era longa.

Caladan Oceanic

O submarino utilizado na descida foi construído de modo a explorar regiões oceânicas que estão abaixo de 6 mil metros, chamadas de “zonas hadais”. Apelidado de Limiting Factor (Fator Limitante, em tradução livre), o submarino consiste em uma esfera de titânio muito pequena, coberta por uma espessa camada protetora de espuma sintética.

A bordo há apenas duas cadeiras (o que determinou que cada um dos oceanógrafos descessem em viagens separadas à Fossa do Atacama). A descida até o ponto mais profundo da Fossa, que chega a 8.069 metros, levou três horas e meia.

No fundo, os exploradores visualizaram cordilheiras e formações rochosas, além de uma grande quantidade de holotúrias, uma espécie de pepino-do-mar. Também foram observados “tapetes” de colônias de micróbios, o que indica que a região é repleta de vida.

Segundo os oceanógrafos, na Fossa do Atacama há animais presentes em maior número do que em qualquer outra Fossa estudada até agora. Eles encontraram criaturas inesperadas para tais profundidades, como corais de água fria, uma estrela do mar solitária e vermes poliquetas, crustáceos anfípodes e outras criaturas hadais, que só agora começaram a ser estudadas.

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Estudos futuros

A expedição realizada ao fundo da Fossa do Atacama também permitiu que fossem feitos mapas em alta resolução de vários trechos da região. Os mapas serão utilizados para determinar o local ideal para instalar os sensores de um futuro projeto, a fim de estabelecer o primeiro sistema de observação ancorado no fundo do oceano.

Essa observação pode auxiliar no entendimento dos efeitos das mudanças climáticas em altas profundidades e dos processos que causam grandes terremotos e tsunamis na região. Além disso, Vescovo está comprometido em continuar mapeando milhares de quilômetros quadrados por mês para apoiar a iniciativa GEBCO 2030, que busca concluir o mapeamento de todo o fundo do mar até 2030.

As Fossas Abissais

A Fossa do Atacama nada mais é do que uma Fossa Abissal, ou seja, uma área deprimida e profunda do piso submarino. Ela se forma nas chamadas zonas de subducção, que são trechos da crosta terrestre onde as placas tectônicas convergem, colidem, e uma delas, a de maior densidade, penetra embaixo da outra de menor densidade. 

Como resultado, forma-se uma grande depressão no solo submarino. A Fossa do Atacama resultou do choque entre uma placa continental sul americana e a placa oceânica de Nazca. A pressão nesses locais é muito alta, além das criaturas que ali residem serem habituadas à completa escuridão.

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