Natureza

Deserto do Atacama é usado como “cemitério” de roupas

roupas
0

No deserto do Atacama, famoso ponto turístico do Chile, uma enorme montanha chama atenção de quem passa por ali. Mas, ao contrário das belas montanhas naturais espalhadas pelo mundo, essa presente no Atacama revela uma situação muito complicada. Trata-se de uma montanha de roupas que constitui o mais novo “cemitério” de vestimentas. O deserto está se tornando um grande “lixão” de roupas de todo o mundo. 

Em pleno deserto, sapatos, camisetas, casacos, vestidos, gorros, trajes de banho e até luvas são acumulados. São roupas descartadas pelos Estados Unidos, pela Europa e Ásia. Das 59 mil toneladas de peças de vestuário exportadas todos os anos por esses países, grande parte não é vendida e acaba no lixo. 

Martin Bernetti

Agora, uma grande quantidade dessas roupas vão parar no Atacama. Isso acontece porque o Chile importa roupas usadas de diversas regiões para revender. No entanto, as que chegam muito deterioradas são descartadas pelas importadoras. O descarte ocorre de forma ampla no deserto do Atacama. 

Na verdade, o problema do descarte de roupas no Atacama não é novo. Faz cerca de 15 anos que os descartes têxteis se acumulam no local, mas agora o problema tem atingido proporções muito maiores. Cerca de 300 hectares (o que equivale a 420 campos de futebol) da região são utilizados como “cemitério” têxtil.

O comércio têxtil no Chile

Na Zona Franca de Iquique, mais conhecida como Zofri (norte do Chile), ao menos 50 importadoras estão instaladas. Diariamente, elas recebem dezenas de toneladas de peças de segunda mão que depois são distribuídas por todo o Chile para revenda. A prática acontece em larga escala e é legalizada. 

De acordo com o Observatório de Complexidade Econômica (OEC), o Chile é o maior importador de roupa usada na América do Sul, recebendo 90% desse tipo de mercadoria na região. Ao chegar no Chile, as roupas são separadas em primeira, segunda e terceira categoria. 

Martin Bernetti

A primeira categoria apresenta peças sem defeito, enquanto a segunda tem peças sujas ou descosturadas. A terceira apresenta produtos mais deteriorados mas, ainda assim, são vendidos. Já as peças de roupas que estão muito estragadas (que são a maioria), de forma a impossibilitar o uso, são descartadas. É aí que entra a montanha de lixo no deserto do Atacama.

A política do Chile determina a proibição do descarte de têxteis em depósitos legais (como aterros sanitários) porque causa instabilidade do solo. Isso se dá porque a roupa não é biodegradável e contém produtos químicos.  

Assim, não existem locais regulamentados para jogar fora o que não se comercializa. Por conta disso, os importadores da zona franca pagam carreteiros para deixar as peças em “qualquer lugar”. A falta de fiscalização e controle na área faz com que seja muito fácil descartar as peças em depósitos ilegais.

Martin Bernetti

Roupas são poluentes

A indústria da moda está entre as mais poluentes do mundo, depois da indústria do petróleo. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a produção de roupas no mundo dobrou entre 2000 e 2014, o que a torna responsável por 8% dos gases do efeito estufa e por 20% do desperdício de água no planeta.

Além disso, grande parte da roupa está cheia de poliéster, um tipo de resina plástica derivada do petróleo. Esse material demora 200 anos para se desintegrar, enquanto o algodão leva 2 anos e meio. Quando o desgaste das peças feitas com poliéster começam a ocorrer, microplásticos são liberados e acabam na atmosfera e nos lençóis freáticos, afetando a fauna, a flora e vida humana.

roupas

Martin Bernetti

Como não há nenhuma regulamentação acerca do descarte das roupas, algumas vezes os montes têxteis são queimados e, aí, há mais poluição. A fumaça, que é oriunda dos incêndios que podem durar até 10 dias, pode provocar doenças cardiorrespiratórias nos moradores de áreas próximas aos lixões.

Para tentar solucionar o problema, dois planos estão em andamento. O primeiro deles é um programa de erradicação de lixões clandestinos. Para que isso funcione, entra em pauta o segundo plano: a incorporação da roupa usada à Lei de Responsabilidade Estendida do Produtor, que estabelece obrigações para as empresas importadoras.

Branca de Neve da Disney: as críticas do ator Peter Dinklage à nova versão

Artigo anterior

Esse paraíso na África esconde um segredo mortal

Próximo artigo

Comentários

Comentários não permitido