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Como Cazuza morreu?

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Exagerado, Bete Balanço, Codinome Beija Flor e Faz parte do Meu Show. Essas são algumas das músicas mais ouvidas de Cazuza. Um artista que chamou atenção tanto pela boemia, quanto por suas admissões polêmicas. Cazuza marcou então toda uma geração e até mais do que isso. Ele foi, talvez, um dos maiores artistas brasileiros de todos os tempos. Infelizmente, Cazuza nos deixou cedo demais, no entanto, o seu legado permaneceu.

Cazuza foi, afinal, um poeta à frente do seu tempo. Liberal, com forte opinião e pulso firme para lutar por seus direitos. Enfim, vamos falar um pouco mais sobre esse ícone brasileiro e sua triste morte. Confira conosco e não se esqueça de nos sugerir outros nomes, afinal, fazemos isso por você, caro leitor. Sem mais delongas, vamos lá.

Cazuza

Em plena década de 1980, Cazuza assumiu ser bissexual e assim, corajosamente, admitiu ser portador do vírus HIV. Em um programa de TV, ele deu um beijo em um dos convidados, e depois disse: “não se pega Aids com beijo”!

Cazuza lançou oito discos, entre 1982 e 1989. Obras que fizeram dele um nome importante para a música brasileira. Embora tenha tido uma carreira breve, ele foi um poeta, e não somente isso. Foi alguém que conseguiu levantar uma importante bandeira na luta contra a Aids e no combate a todo preconceito que envolve a doença. Cazuza, inegavelmente, foi um grande artista, cantor e compositor. Por ser portador do vírus HIV, o astro ajudou na luta contra a doença e contribuiu para desmistificar os preconceitos, que estavam associados à comunidade gay.

Na época, a Aids dizimava milhares de pessoas em todo o mundo, e fez, no universo artístico, centenas de vítimas. Não foi só por suas músicas poéticas e por seu jeito descontraído de se apresentar no palco, Cazuza garantiu seu grande legado por conta de sua bravura e coragem diante da Aids. Cazuza nasceu no dia 4 de abril de 1958, no Rio de Janeiro, e foi batizado como   Agenor de Miranda Araújo Neto. Seu pai era João Araújo, um produtor fonográfico, de quem recebeu então o apelido Cazuza. Sua mãe, Lucinha Araújo, também já havia gravado algumas músicas. Ele era filho único e cresceu no mundo artístico, cercado por artistas como Elis Regina, Caetano Veloso e os Novos Baianos.

Adolescência

Ainda adolescente, Cazuza já gostava de escrever. Aos 17 anos, a fim de surpreender, fez um poema para sua avó materna, já falecida. Alguns anos mais tarde, a poesia virou uma música, interpretada por Ney Matogrosso. Sua trajetória musical durou apenas 8 anos, embora tenha ficado marcada para sempre na música brasileira. Ele foi o primeiro vocalista da banda Barão Vermelho. Com Frejat na guitarra, o grupo conseguiu fazer sucesso ainda no primeiro álbum.

Um tempo depois, o artista se desligou do conjunto e decidiu seguir carreira solo. Ele queria trilhar uma linha mais MPB, enquanto Frejat desejava que a banda cantasse rock. Sozinho, lançou seu primeiro disco “Exagerado”, que foi, também, um enorme sucesso.

Em julho de 1985, Cazuza já demonstrava os primeiros sinais da doença. Naquele mês, ele foi internado em julho, com infecções graves, febre e convulsões. Porém, somente em abril de 1987, ele recebeu o perturbador diagnóstico, de portador do vírus da HIV. Na época, ele produzia seu segundo álbum solo, “Só se for a Dois” e estava com apenas 29 anos. Ficou abalado, teve uma crise e chorou muito. Segundo relato de amigos, ainda assim, ele escolheu seguir em frente com a música.

O HIV foi considerado, na década de 1980, uma epidemia. A segunda doença infecciosa a fazer mais vítimas no mundo, ficando atrás apenas da tuberculose. A principal característica da Aids, é que o vírus consegue alterar outras células do corpo humano, em especial as do sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. Dessa forma, em um estágio mais avançado, qualquer contaminação pode ser fatal.

Aids

A Aids foi documentada pela primeira vez em 1981. Ela aparecia como uma provável infecção pulmonar, acompanhada de um baixo sistema imunológico. Durante a década de 1980, o vírus se espalhou no mundo, sem qualquer conhecimento de como era transmitido, ou sobre quais medicamentos eram eficientes para o tratamento. A doença então estava associada aos gays, usuários de droga e garotos de programa.

Nesse período, o preconceito era imenso. A doença era considerada nojenta. Um aspecto especialmente cruel sobre o HIV, era seu estereótipo. Quem contraía a doença ficava marcado. Sofria-se duplamente, tanto pelo preconceito como pela falta de alternativas nos tratamentos. A doença surgiu em pleno auge de uma revolução sexual, e de uma possível liberdade moral. Foi quando surgiram boatos de que o vírus se espalhava com força maior entre pessoas que tiveram relações homossexuais e entre usuários de drogas. As pessoas só sabiam da Aids, depois de estarem fortemente doentes, sem a mínima possibilidade de prevenção.

A total ignorância foi o suficiente para criar um medo coletivo. Na década de 1980 e 1990, se alguém emagrecesse repentinamente, era porque estava com Aids. Se sumisse durante um tempo, provavelmente, era sinal da doença. Se alguém andasse ao lado de alguém que tinha Aids, já era o bastante para ser alvo de preconceito. As pessoas eram segregadas apenas pela suspeita da Aids. Ninguém sabia ao certo como se pegava.

Tratamento da doença

O primeiro tratamento, ao qual Cazuza se submeteu, começou nos Estados Unidos, em Boston. Lá, ele ficou internado por dois meses, no hospital New England. Ele foi submetido a uma medicação à base de AZT, uma substância antirretroviral. Era a única utilizada contra o desenvolvimento da doença na época. Desde esse dia, Cazuza passou por sucessivas internações, entre cidades brasileiras e norte americanas. Nesse período, ele se apegou ao que mais estava ao seu alcance. A música. Foi entre hospitais, tratamentos e repousos, que nasceram as músicas Ideologia, Boas Novas, Brasil e Blues da Piedade.  Essas composições foram gravadas em 1988, no disco Ideologia.

Em uma entrevista, publicada na Folha de São Paulo, o cantor admitiu ter a doença no dia 13 de fevereiro de 1989. Em abril do mesmo ano, uma polêmica matéria da revista Veja estampava a imagem do cantor com o título “Uma vítima da Aids agoniza em praça pública”. O conteúdo mostrava o sofrimento causado pela doença.

Sua mãe disse que, na ocasião, Cazuza começou a chorar e precisou ser internado, por uma brusca queda na pressão arterial. A capa da Veja foi alvo de manifestos de artistas no Prêmio Sharp, no Rio de Janeiro. Na premiação, Cazuza recebeu os prêmios de melhor música por “Brasil”. Além disso, o álbum “Ideologia” foi o vencedor da categoria de melhor disco de Rock. Ele recebeu o prêmio de cadeira de rodas.

As Dificuldades de Viver Assim

Se atualmente o vírus HIV ainda é um tabu, imagina o que era na década de 1980, quando pouco se sabia a respeito? Cazuza teve um ato grandioso quando admitiu ser portador do vírus. Ao declarar tal informação, publicamente, ele ajudou a criar uma consciência em relação à Aids e aos efeitos causados por ela. De forma metafórica, segundo amigos, Cazuza escreveu sobre a doença em sua música Ideologia, em um trecho que diz: “meu prazer, agora é risco de vida”.

Embora Cazuza estivesse cada vez mais debilitado pela doença, ele fez uma turnê nacional intitulada “O Tempo Não Para”, dirigida por Ney Matogrosso. Artista com quem Cazuza viveu um affaire e foi amigo até o fim da vida. Às vezes, Cazuza ficava agressivo, uma reação que, pessoas próximas, associavam aos fortes medicamentos. O tratamento com AZT o fez perder o cabelo e peso. Mas ainda assim, ele não queria parar de trabalhar.  “Se acontecer alguma coisa comigo, quero que seja no palco”, dizia.

Mas, o corpo já não tinha forças para cooperar, pois se encontrava extremamente magro, com uso frequente de oxigênio no camarim para continuar o show. Para ele, o trabalho era uma fonte de energia, sua motivação para viver. Cazuza se apresentou pela última vez, em um segundo show da turnê em Pernambuco, em péssimo estado de saúde, no dia 24 de janeiro de 1989. 

Último Disco e Morte

Ainda em 1989, o cantor gravou seu último disco Burguesia, numa cadeira de rodas e com a voz nitidamente enfraquecida. O álbum foi lançado em agosto do mesmo ano. Em outubro, ele voltou à Boston, depois de quatro meses em um tratamento alternativo em São Paulo. Nos Estados Unidos, ele ficou internado até março de 1990.Mesmo cada dia mais vulnerável, e com uma aparência frágil, Cazuza fez aparições públicas até 2 de junho de 1990. Um mês depois, na manhã do dia 7 de julho de 1990, Cazuza morreu na casa dos pais, no Rio de Janeiro, em decorrência de um  séptico, com 32 anos.

Mais de mil pessoas compareceram ao enterro. O caixão estava lacrado e coberto de flores. Foi levado à sepultura por colegas do Barão Vermelho. Cazuza foi enterrado no cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro.Em várias entrevistas dadas antes de morrer, Cazuza disse que depois da descoberta da doença, sua percepção sobre tudo mudou. Seu interesse não era olhar mais para si, mas sim cantar por algo que fosse maior que ele.

Um ano depois da morte do filho, Lucinha Araújo, junto com o marido, criou a Sociedade Viva Cazuza. Instituição que presta assistência à crianças e adolescentes carentes, portadores do vírus HIV. A casa tem como missão manter viva a memória do filho. A organização existe há quase 30 anos.

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