Neste ano, Amilcar Barbuy completaria 127 anos. No entanto, mesmo depois de sua morte, seu legado no futebol continua a ser lembrado. E entre todas suas histórias dentro e fora dos campos, a mais famosa vem do dia em que ele enfrentou o presidente para tirar seu time de campo.
Amilcar jogou futebol durante as décadas de 1910 e 1920. No entanto, não jogava por dinheiro e sim, por amor. Dessa forma, chegou a fazer história em clubes como Corinthians, Palmeiras e seleções como a do Brasil e de São Paulo.
Em 1927, Amilcar atuou como capitão da seleção paulista no Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais. Na final do campeonato, ele estava jogando em São Januário contra o time do Rio de Janeiro. Até o momento, esse era o maior estádio do país. Para se ter uma ideia, até mesmo o então presidente do país, Washington Luiz, estava presente. Portanto, se tratava de um grande jogo e todos queriam saber quem seria o campeão.
Durante boa parte do final do campeonato, o jogo permaneceu empatado. No entanto, no lance seguinte do empate, o juiz marcou um pênalti inexistente para o time do Rio de Janeiro. Dessa forma, enquanto a torcia explodia em comemoração, o árbitro se dirigiu a Amilcar e desabafou: “Se eu não fizer isso, me matam”. Em seguida, o capitão do time fez o que ninguém esperava, decidiu tirar o time de campo. Em meio à confusão, um assessor do presidente veio até Amilcar e o alertou para não abandonar a partida. Porém, isso apenas fez com que o capitão do time tomasse ainda mais coragem. “Avise ao governante que ele manda no Brasil, mas no campo, quem manda sou eu”, afirmou Amilcar.
Posteriormente ao fim do jogo, Amilcar esclareceu em uma entrevista o que, de fato, havia acontecido. “Eu, que não o conhecia [presidente], disse para ser informado ao governante que ele manda no Brasil, mas no campo quem mandava era eu, e o jogo não prosseguiria com a marcação da penalidade. E não cedemos. Por fim, Ary Aramante [árbitro] mandou bater a pena máxima e Nilo [do time carioca], sem guardião no arco, chutou-a para fora. Culminou então o erro do árbitro mandando repetir o tiro, para que Nilo fizesse o tento que assim deu a vitória dos cariocas por 2 a 1, quando em regra o resultado foi 1 a 1 e os paulistas perderam por não continuar na luta. Foi esse, aliás, o único ato de indisciplina da minha carreira”, afirmou o jogador.
Depois do jogo, os cariocas ficaram com o título “manchado” pela repercussão da partida. Além disso, Amilcar recebeu alguns jogos como punição pela atitude rebelde. Mas, mesmo assim, ele não se arrependeu de fazer o que era certo. “O futebol chegou ao Brasil em 1894, mas somente em 1919, com a primeira conquista da seleção brasileira do Campeonato Sul-Americano, sendo Amilcar o capitão, que o esporte nasceu pra valer no país”, diz um trecho da biografia do jogador.