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Essa estranha ave brasileira tem o mais alto canto já registrado

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Vocês já ouviram falar da Araponga-da-Amazônia? Bom, esta é uma pequena ave brasileira, que mede cerca de 30 centímetro da ponta de seu bico à cauda. Ela pesa, em média, 220 gramas, e de acordo com alguns pesquisadores, a ave é capaz de emitir o som mais alto, entre todos os pássaros do planeta. Ao menos, os que já foram registrados até o momento.

A araponga-da-amazônia (Procnias albus) é facilmente encontrada no estado de Roraima e no Pará. Seu canto pode atingir 125 decibéis (db). Em termos de comparação, a turbina de um avião a jato pode chegar a 140 db e uma serra elétrica, em funcionamento, pode medir 110 dB em um decibelímetro.

O pesquisador Mario Cohn-Haft, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), e o professor de biologia, da Universidade de Massachusetts, Jeff Podos, são os responsáveis pela descoberta. Sendo esta anunciada em um artigo, publicado na revista científica, Current Biology.

Os cientistas estão observando a ave desde 2017. Naquele ano, Cohn-Haft coletou, para seus estudos, um espécime na Serra do Apiaú, no município de Mucajaí, em Roraima, que fica localizado a 1.500 metros de altitude. O pássaro, a priori, foi capturado como parte do estudo da fauna de serras e montanhas isoladas da Amazônia. Algo que nunca havia sido realizado anteriormente.

“Queríamos ter um exemplar dessa araponga, para estudar as características especiais da espécie”, explicou Cohn-Haft à BBC. “Desde aquela pelanca que ela tem, pendurada no bico, que é muito doido, até as estruturas internas, algumas delas relacionadas à produção de sons. Eu esperava encontrar uma siringe, que é a caixa vocal e parte do aparelho respiratório, excepcional, bem desenvolvida, mas não imaginava que ela teria uma musculatura abdominal tão extraordinária”.

A Araponga-da-Amazônia

De acordo com o pesquisador, quando dissecou a ave, ele percebeu que seus músculos abdominais, que costumam ser muito finos em aves, eram muito espessos. “O bicho é ‘tanquinho'”, brincou ele. “A araponga-da-amazônia tem abdominais de quem malha, ondulados, bem visíveis, com quase um centímetro de espessura. Isso me impressionou. Ficou evidente que, junto com a siringe, também diferenciada nessa espécie, é uma adaptação para produzir um som muito alto e forte, sem explodir a barriga”.

Depois disso, ele resolveu mostrar a descoberta a Podos, que é um especialista em bioacústica e que estuda as adaptações das aves para produzir sons diferentes. “Eu sabia que ele iria se interessar. Mandei para ele fotos da musculatura da araponga-da-amazônia, dizendo que esse pássaro era incrível. Ele se empolgou e então elaboramos um projeto em conjunto, financiado pelo Inpa e Fulbright Foundation, que tornou possível a vinda dele ao Brasil e que subíssemos a serra de novo agora no início deste ano, especificamente para entender melhor o som da espécie.”

Cohn-Haft enviou uma mensagem ao estadunidense questionando se a a musculatura abdominal da ave brasileira era uma adaptação para que pudesse cantar mais alto. “Respondi que deveria ter algo já conhecido e publicado a respeito”, disse Podos.

“Pesquisamos então na literatura e descobrimos que não havia nenhum estudo sobre o volume do canto da espécie. É difícil de acreditar, porque muita gente sabia que essa ave poderia ter o som mais alto do mundo. Mas antes de nós, ninguém havia conseguido chegar ao lugar onde ela habita e gravá-lo e fazer uma boa medida dele. Falamos na hora: nós temos que fazer isso”.

 A descoberta

No início deste ano então, com a ajuda de um decibelímetro, eles conseguiram registrar o canto da araponga-da-amazônia. “Descobrimos que o volume médio emitido pela espécie é de 117 dB, com um pico de 125 dB”, contou Podos. Porém, o pesquisador norte americano ressalta que comparar o volume do som com outras espécies é algo complicado. Isso porque diversos fatores, como a distância da fonte, podem interferir no resultado final.

Os pesquisadores, enquanto estudavam a ave brasileira, ainda fizeram outra descoberta. “Os machos cantam mais alto quando mais perto estão das fêmeas”, explicou Podos. “Isso é muito esquisito, porque normalmente, em outras espécies de animais, os sons de alto volume são usados para transmitir um sinal a longas distâncias. Isso mostra que temos de pesquisar mais sobre os sistemas de comunicação que existem entre os animais na natureza”.

“Ainda não sabemos porque machos da araponga-da-amazônia fazem isso. Esta é a pergunta de um milhão de dólares. Um colega nosso levantou a hipótese de que é para incapacitar a fêmea de avaliar outros machos. É uma ideia muito interessante, mas ainda não temos nenhum pingo de dados a respeito”. Dessa forma, a dupla de pesquisadores informa que devem continuar a observar a ave, ao menos até que muitas de suas dúvidas, em relação a este animal, possam ser respondidas.

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